Decisão que passou a valer no início deste mês afeta continuidade de diversos alunos nas salas de aula da universidade
Alunos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) sofrem com os reajustes nos programas de auxílio permanência que começaram a valer no dia 1º de agosto. Essa mudança afetou também os alunos da Maré que sonhavam em ingressar em universidades públicas.
Uma delas é Mariana Silva, de 24 anos, que fez curso preparatório e se interessou em ir estudar na UERJ pela paixão que via os professores falarem da instituição. Conseguiu ingressar no curso de Nutrição na instituição de ensino em 2019 pela lei de cotas. Moradora do Parque União, ela conta que está terminando a universidade mas que sem o vale alimentação, um dos benefícios cortados, vai ser mais difícil fazer os estágios na Ilha do Governador.
Como o curso é em tempo integral, Mariana conta que não consegue trabalhar “se eu pudesse, eu obviamente estaria trabalhando e não me humilhando por auxílio”, conta a aluna que teve o benefício de R$300 de alimentação cortado. Além desse auxílio, Mariana também recebia ajuda com o material didático, essa era no valor de R$1.200, pago em duas parcelas de R$600, uma em cada semestre. Agora com Ato Executivo De Decisão Administrativa 0038 (AEDA 0038) o valor foi reduzido pela metade.
Mariana conta também que não sabe se será contemplada com o auxílio creche, já que apenas 1.300 estudantes terão direito a ajuda: “Isso, está um caos na minha cabeça, porque eu moro sozinha com uma filha para criar […] Ela sai três horas da escola, eu não consigo pegar ela, ninguém da minha família consegue, e aí eu tenho que pagar uma outra pessoa para pegar ela na escola, e ficar com ela até a hora que eu chego. Se eu não tenho mais isso, não tem mais como pagar essa pessoa, porque aí vou ter que cortar custos, e eu não sei o que eu faço”, desabafa.
Outra mudança aconteceu nos critérios para bolsa de apoio à vulnerabilidade social. Agora alunos de ampla concorrência devem ter uma renda familiar por pessoa bruta de meio salário mínimo para ter direito. Gabrielly Ramos, de 18 anos, também moradora do Parque União, acabou de começar o primeiro semestre de pedagogia e diz que não sabe se vai ter direito ao benefício: “estou em alguns grupos de Calouros e muita gente usava esses auxílios para poder se manter na faculdade, ajudar com o transporte e alimentação, até mesmo ajudar em casa. E agora com esses reajustes ficará muito mais difícil dos alunos conseguirem ter algo que é nosso por direito, principalmente para nós moradores de comunidades “, comenta.
O que diz a UERJ?
Os alunos indignados com a situação dos cortes se mobilizam em protestos na universidade. Na última quinta-feira (1) em assembleia os alunos debateram pontos que seriam levados na sexta para reunião com a reitoria. Entre eles a revogação total do Aeda, uma audiência pública com a reitoria na próxima quinta-feira (15) para negociação do Aeda e outras questões para melhorias das condições de estudo na instituição.
Em nota, a universidade declara que os cortes foram necessários para reduzir os custos e que “segue procurando o diálogo com os estudantes que ocupam algumas de suas salas na universidade”.
“As dificuldades financeiras da Universidade, em função da crise no Estado do Rio de Janeiro, impuseram as medidas do Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 038/2024, que mudou o regramento de bolsas e auxílios estudantis. A Reitoria entende essas medidas como necessárias, no cenário atual, para preservar os pagamentos dos mais vulneráveis – cotistas e estudantes de ampla concorrência com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, conforme o critério do CadÚnico (Governo Federal).
A proposta da instituição para garantir a permanência desses e de todos os alunos em situação de vulnerabilidade passa pela criação de uma política de assistência estudantil que seja aprovada como legislação, para que os recursos possam fazer parte da Lei Orçamentária Anual (LOA) da Uerj.”