Pesquisa pioneira no Brasil analisa o impacto da violência na vida dos moradores do conjunto de favelas da Maré
Maré de Notícias #127 – agosto de 2021
Por Tamyres Matos
Sons de tiros, estado de alerta constante, correria, pé na porta. Quais são os efeitos deste tipo de situação para a saúde mental das cerca de 140 mil pessoas que moram no maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro? Para avançar na resposta a este questionamento, a pesquisa Building the Barricades (em português, Construindo Pontes) conduziu uma investigação cujo resultado será amplamente divulgado neste mês de agosto.
O Construindo Pontes é uma parceria entre a Redes da Maré, a organização britânica People’s Palace Projects (que faz parte da Universidade Queen Mary de Londres), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O fio condutor do projeto é a utilização da arte e da cultura como ferramentas de prevenção e superação de traumas e tratamento de transtornos mentais, para além da essencial divulgação dos dados.
“A discussão sobre saúde mental de moradores de favelas e periferias, no contexto da violência a que estes territórios são submetidos, é urgente e fundamental” avalia Eliana Silva, diretora da Redes da Maré. “São situações cotidianas que restringem a circulação dos moradores, produzem traumas e reduzem a confiança das pessoas nas instituições, já que muitas vezes é a própria polícia a responsável pelas violações de direitos”, aponta.
A pesquisa é um aprofundamento do trabalho iniciado por Eliana em sua tese de doutorado em segurança pública, onde ela rebate a ideia de que os moradores de favelas seriam “cúmplices” do tráfico e evidencia que eles são, na verdade, vítimas de uma política de segurança baseada na “guerra às drogas”, que considera as favelas como “territórios inimigos” a serem conquistados.
Cartilha da saúde mental
Está sendo lançado nesta edição do Maré de Notícias o Guia de Saúde Mental da Maré, com orientações básicas sobre o tema. O encarte será disponibilizado ainda em locais estratégicos, como unidades de saúde da Maré e no Espaço Normal. O material busca responder perguntas como: o que é saúde mental? Como identificar sintomas de problemas? Onde e quando procurar ajuda?
“As dores e os sintomas de problemas de saúde mental não são evidentes como os de uma perna quebrada, deles não se tratam com um remédio como os que usamos para dores de cabeça”, alerta o diretor teatral e principal pesquisador de Construindo Pontes, Paul Heritage. “Nas intervenções artísticas que preparamos para a campanha Rema Maré, perguntamos se devemos lidar com este problema de forma individual ou coletiva. Como posso melhorar a minha saúde mental e ajudar a cuidar dos que estão próximos a mim?”, questiona.
Segundo os organizadores do Rema Maré, a pesquisa é ponto de partida e embasamento para uma atuação mais profunda no território. Com os resultados, serão organizadas atividades com o intuito de esclarecer, orientar, mobilizar e sensibilizar os moradores da Maré para o tema.
Fique atento às atualizações no site do Maré de Notícias
- Lançamento do Guia de Saúde Mental da Maré (acompanha edição 127)
- 19 de agosto – Divulgação dos resultados da pesquisa em webinar
- 23 a 28 de agosto – Primeira Semana de Saúde Mental da Maré (Campanha Rema Maré)
- Campanha nas redes sociais da Redes da Maré e do People’s Palace Projects
Atividades artísticas e culturais
- Intervenções dos jovens artistas participantes do podcast BECOS no novo galpão do Espaço Normal. As apresentações serão para pessoas e organizações convidadas, respeitando os protocolos de segurança durante a pandemia e haverá espaço limitado para o público.
- Produção de mural de azulejos no largo do Beco do Galo
- Faixas na Avenida Brasil e lambe-lambes nas favelas da Maré com trechos de poemas dos artistas do BECOS e dados da pesquisa
- Bike som do Begha tocando o álbum Satélite, de Rafael Rocha, com distribuição do Guia de Saúde Mental da Maré Cineminha nos becos: projeção dos vídeos com as letras do podcast BECOS nas 16 favelas