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Você conhece a identidade cultural da Maré?

Foto: Matheus Affonso | Programação cultural de maio conta com os tradicionais bailes funks, forrós e muito mais.

Pesquisa da UFRJ ajuda a valorizar a música brasileira e a identidade mareense.

O projeto Musicultura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, valoriza o potencial da música brasileira por meio de uma pesquisa colaborativa com o conjunto de favelas da Maré. O grupo já foi composto por cerca de 100 estudantes e voluntários que moram ou moravam na Maré, além da equipe do Laboratório de Etnomusicologia, liderada pelo professor Samuel Araújo e formada por alunos de graduação e pós-graduação da Escola de Música da UFRJ.

Musica é cultura

Por aproximadamente duas décadas, o grupo Musicultura demonstrou ser mais do que apenas um projeto. Ele evoluiu para um programa contínuo de pesquisas sobre a realidade social e musical da Maré. Mais de 15 artigos já foram premiados e vários são reconhecidos internacionalmente. A iniciativa nasceu no laboratório de Etnomusicologia da UFRJ e teve início em 2002, com o nome Samba e Coexistência. 

“Questões como violência, restrições ao ir e vir no espaço da Maré, ligadas à educação, à pouca presença do Estado em regiões de favela, a questão da favelização e como é que essas questões eram atravessadas pela música”.

Samuel Araújo, coordenador do projeto e professor da Escola de Música (EM) da UFRJ.

O objetivo era selecionar uma área da cidade com atividades dedicadas ao samba e uma escola de samba menos conhecida pelo público. Ao longo do tempo, o projeto expandiu-se para se tornar um estudo abrangente sobre a música e cultura brasileiras, destacando a diversidade musical presente na Maré.

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A Maré como campo de pesquisa

O “Musicultura” alcançou resultados significativos em sua pesquisa sobre música e a região da Maré. Uma das descobertas foi a memória do samba na Maré, que rompeu estereótipos associados às favelas e levou à criação do bloco de carnaval “Se benze que dá”. As letras das músicas abordam o direito de ir e vir dos moradores.

A Maré foi escolhida pela rica diversidade cultural, histórica e social. Segundo o coordenador do projeto e professor da Escola de Música (EM) da UFRJ, Samuel Araújo, “a escolha da Maré como área de pesquisa decorre da abundância musical e cultural presente ali, além da relevância como espaço de resistência e manifestação cultural do povo brasileiro”.

Mariluci Nascimento, que cresceu na Maré e tem ascendência nordestina, é uma das pesquisadoras do projeto no estilo forró. “A pesquisa também explorou o mercado do forró e a importância da Maré na cena desse gênero musical no Rio de Janeiro. Estudar sobre a minha origem teve um impacto pessoal relevante.”

História e Memória

Ao longo do tempo, o Musicultura desenvolveu uma dinâmica de trabalho autônoma, tanto em relação aos temas e discussões quanto à organização das tarefas do grupo. Embora a equipe da UFRJ ainda coordenasse o projeto e compartilhasse propostas de atividades, publicações e participações em congressos, é o coletivo do Musicultura que estabelece sua própria agenda e regras de funcionamento. Periodicamente, o grupo realiza avaliações de desempenho tanto do grupo como um todo quanto de cada membro individualmente.

A metodologia adotada envolveu a utilização de duas ferramentas de ação defendidas por Paulo Freire. Em primeiro lugar, a gestão do “silêncio significativo”, que foi gradualmente superado por meio de intervenções verbais curtas e discussões acaloradas que reduziram a dependência de mediadores externos. Em segundo lugar, houve a identificação de “temas geradores”, nos quais os próprios membros do grupo começaram a propor tópicos de discussão.

“Começamos a fazer esse experimento de trabalhar a partir de questões colocadas pela população local, questões em que os próprios moradores percebessem que eram atravessadas pela música. Elas atravessavam a música”.

Samuel Araújo, coordenador do projeto e professor da Escola de Música (EM) da UFRJ.

Com o intuito de ampliar o alcance das pesquisas, o Musicultura empenha-se agora em digitalizar e organizar um acervo físico e virtual, para lançá-lo como recurso de acesso público no próximo ano. Essa iniciativa, financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), possibilitará que o material seja utilizado em aulas de música, trabalhos de iniciação científica e atividades educacionais nas escolas da Maré e regiões próximas. O professor Samuel conta: “Nós vamos percorrer escolas da Maré e instituições próximas dedicadas às artes, à educação, à cultura para difundir esse novo recurso”.

 “Esperamos que escolas locais possam dar continuidade ao trabalho iniciado e enriquecer ainda mais esse acervo público com outros desdobramentos dessa presença fortíssima e muito significativa da música na vida social da Maré como um todo. A música produz oportunidades econômicas, produz um senso de pertencimento, produz reflexões agudas sobre a situação dessa área da cidade”

Samuel Araújo, coordenador do projeto e professor da Escola de Música (EM) da UFRJ.

A inciativa deseja também formar jovens pesquisadores ligados à bairro da Maré, realizando trabalho de campo para pesquisas locais e documentando as práticas musicais presentes. O projeto que originou a criação do grupo de pesquisa, com objetivos específicos de documentar a diversidade e as memórias musicais das comunidades e construir um arquivo local, acabou por gerar uma discussão que se estendeu além do próprio projeto.

Reconhecimento

Cerca de 15 artigos, escritos em colaboração ou individualmente, foram publicados em periódicos e livros acadêmicos no Brasil e no exterior. Além disso, dezenas de trabalhos foram apresentados oralmente em eventos científicos na área da música e disciplinas relacionadas, incluindo algumas premiações em Jornadas de Iniciação Científica da UFRJ. Aproximadamente sete trabalhos monográficos, tanto de graduação quanto de pós-graduação, com alguma conexão com o trabalho coletivo, foram aprovados.

Em 2018, o projeto recebeu reconhecimento da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro como sendo relevante para o interesse público.

https://musiculturamare.wixsite.com/musicultura
https://revistas.ufrj.br/index.php/rbm/article/view/26284
https://www.brasildefato.com.br/2022/07/23/projeto-da-ufrj-com-moradores-da-mare-pesquisa-a-diversidade-musical-em-favelas-no-rj

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