luto proibido

Perder quem se ama e não poder nem chorar essa dor é uma cruel realidade para diversas mulheres na Maré e em outras regiões periféricas do Brasil

Vidas que valem menos. Mortes que não podem ser lamentadas. Cotidianamente, moradores de favelas e periferias vivem essa realidade em uma narrativa de efeito colateral da política bélica de (in)segurança pública.

Os reflexos da violência urbana derrubam corpos negros. E essa situação ganha um caráter perigoso de normalidade.

E mesmo após viver a perda mais dolorosa que provavelmente a vida irá lhes impor, as mães destas vítimas - em sua maioria jovens - não têm o direito de sofrerem por essa dor, por vergonha e/ou medo.

“Não viver o luto de um filho por ele ter sido morto por grupos civis armados, é como viver na ditadura do medo. Você não pode falar, tem que viver o luto dentro de você, dentro de casa, onde ninguém possa apontar o dedo ou chamar sua atenção, você é prisioneira do medo.”

Mãe de um rapaz  de 27 anos vítima da violência armada.

Casos assim não recebem devida atenção da sociedade, pois se acredita que o jovem negro de favela tenha algum tipo de “culpa no cartório”. O luto se torna proibido. Algo recriminado por vizinhos, alguns amigos e, até mesmo, familiares.

“Ele não era bandido, vendia suas mercadorias todos os dias. Se meu filho fosse bandido, ele teria corrido, se ele fosse bandido, estaria de pistola. Tiraram a vida do meu filho porque ele não correu, ele não escutava.”

Mãe de um menino de 17 anos morto por policiais

Lidiane Malanquini em sua tese de doutorado “‘Ninguém cria um filho pra morrer’: reflexões sobre mortes e moralidades em uma favela carioca”,  analisa os critérios de julgamento e a resposta social a estas mortes.

“Não é todo bandido que é passível e que pode ser morto, é um bandido específico que comete um determinado tipo de crime. E a  sociedade  legitima o extermínio de jovens pretos e não se choca, não se mobiliza com isso.”

Lidiane Malanquini, pesquisadora

É sempre importante lembrar que, dentro da lei, a polícia não tem o direito de matar ninguém - com ou sem envolvimento com atividades criminosas. No Brasil não há pena de morte.

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