Somos da Maré  Temos Direitos

E você, qual é o seu sonho?

Já parou pra pensar que tem gente que tem sonhos interrompidos por não poder circular na cidade onde mora?

A violência, seja ela causada por uma operação policial ou um confronto armado, está interrompendo sonhos em muitas periferias brasileiras.

A campanha Somos da Maré temos Direitos conscientiza e mobiliza moradores da Maré para a efetivação de direitos durante as operações policiais. Em sua terceira  edição uma pesquisa foi feita em torno da pergunta “Qual é seu sonho?".

Para a população da Maré, o que deveria ser um direito básico garantido, como ir à escola, ao posto de saúde ou ao trabalho, circular pela cidade, cursar uma faculdade, conseguir se aposentar ou ter sua casa própria, aparece, na maior parte das falas, como sonho.

A iniciativa do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré tem como objetivo conscientizar os 140 mil moradores de seus direitos básicos, como o direito à vida. Desde a primeira edição em 2012, a campanha revela por meio das percepções dos moradores os impactos da atuação das forças policiais na Maré.

A luta vira cotidiano e as violações podem colocar tudo a perder em segundos, e os danos são permanentes.

“No meio da aula, com medo de os helicópteros atirarem para baixo, a gente ficou horas escondidos no banheiro (...). Os policiais entraram e eles atiraram, as crianças jogadas no chão e a gente não conseguia correr, não sabia o que fazer (...), foi assustador.”

Mulher, negra, 21 anos, moradora da Maré.

Saúde Mental

A violência restringe a circulação de pessoas e ideias, produz traumas, afeta a saúde. A pesquisa Construindo Pontes buscou compreender as consequências da violência sobre a população da Maré.

17% dos moradores e moradoras da Maré acima de 18 anos viram alguém ser baleado ou assassinado.

“A gente teve um amigo nosso que morreu em tiroteio, seu Paulo, morreu ano retrasado; minha cabeleireira tomou um tiro de fuzil, foi ver na janela o que aconteceu e morreu, e teve o vizinho que foi comprar pão de manhã com fone de ouvido, não ouviu que começou o tiroteio, morreu com pão na mão na rua.”

Homem, 23 anos, morador da Maré.

Metade da população (50,2%) sempre sente medo de ser alvejada por uma arma de fogo na Maré. Um número ainda maior (55,6%) sente medo constante de que alguém próximo seja atingido.

"Relatos de mães das crianças contando [que] quando escuta um helicóptero, a criança se treme toda. Inclusive evacua de medo. Não consegue sair de casa. Várias mulheres relatam problemas de saúde."

Mulher, participante do grupo focal com profissionais da Maré.

Redes de apoio formadas por familiares, amigos e vizinhos são fundamentais para lidar com adversidades, inclusive os efeitos da violência.

"Eu aprendi muito com a terapia e acho que a favela precisa disso. Eu acho que deveria ter muito, mas muito psicólogo de clínica da família, porque isso não é luxo, é necessidade."

Homem, branco, morador.

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