Toda forma de amor: fotógrafos retratam casais LGBT’s na Maré

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Projeto fotográfico de Kamila Camillo e Matheus Affonso almeja fotografar 16 casais LGBT’s que vivem no conjunto de favelas da Maré. As fotos serão tiradas entre o Dia dos namorados e o dia do Orgulho LGBTi+

 Thaynara Santos

A sessão fotográfica “Toda forma de Amor”, idealizada por Matheus Affonso, 22, fotógrafo, integrante do grupo Pantera, Projeto Eeer e Grupo Atiro, e Kamila Camillo, 30 anos, psicóloga e fotógrafa, surgiu após uma conversa entre os dois.

Os amigos se conhecem há muito tempo de outros projetos e já passaram por experiências parecidas, por conta de sua orientação sexual, no território onde vivem. “Enquanto estava pensando nessa sessão, procurei o Matheus porque ele tirou uma foto minha e da minha mãe na série de fotos no Dia das Mães. Aí, pensei em fazer um projeto sobre o Dia dos Namorados, mas não queria fazer sozinha, aí chamei o Matheus. Não estamos disputando quem é o melhor fotógrafo, temos união. Nós nos ajudamos sempre”.

A sessão é oferecida gratuitamente para os casais e as fotos são disponibilizadas na página do Facebook de Kamila (http://www.facebook.com/kamilacamillo / @photokamilaa). “Essa sessão tem muito de nós, não só do nosso olhar, mas o que a gente sente”, diz Kamila.

Os dois parceiros contam que já sofreram violências vindas da família, do círculo religioso e no próprio território por sua conta de sexualidade, “eu sou lésbica e o Matheus é bissexual, é uma realidade que toca a gente”. O impedimento desses casais em expressar seu afeto pelo seu par, como andar de mãos dadas e trocar beijos na rua é uma pauta na série fotográfica. “Quando ela veio me chamar, eu já estava pensando no mesmo projeto quando ela me chamou. Isso se dá muito por sermos fotógrafos LGBT’s. Não existe uma narrativa sobre a gente, então vamos construí-la”, explica Matheus.

Relacionamentos duradouros

A proposta do projeto fotográfico é retratar somente casais em relacionamentos fixos. “Quando a gente fala de casais LGBT’s a gente fala sobre corpos marginalizados dentro e fora da favela, que não podem demonstrar afeto onde vive. Que sofre pelo olhar da rejeição e pelo excesso de sexualização desses corpos”, conta Matheus.

“A construção LGBT não existe. Quando a gente fala de um corpo LGBT na favela, ele não existe. E quando a gente fala desses casais, só temos como referência as bichas em festas, ou as que saem. É meio difícil encontrar um casal que mora junto. De todos os casais que tiramos fotos, a maioria são jovens, que tem média 2 a 3 anos de relacionamento”, explica o morador da Nova Holanda.

O medo dos olhares de reprovação e a incerteza são grandes tabus que muitas vezes atrapalham o trabalho dos fotógrafos. Muitos casais desmarcam em cima da hora ou simplesmente não respondem as mensagens. Além disso, há a preocupação com a sessão dessas pessoas. Muitos ainda tem medo de mostrar o relacionamento nas redes sociais. “Tinha um casal que eu agendei para fotografar mas na hora uma delas mudou de ideia, não queria tirar foto e muito menos na rua de casa. Eu pedi para ir lá e conversar com ela e ficou tudo certo”, diz o fotógrafo.

Mulheres travestis e transexuais

Kamila e Matheus acreditam que chegar até a população trans e transexual que reside na Maré é ainda mais difícil, elas não querem expor as relações delas e, muitas vezes, os parceiros também não. “Tem uma amiga nossa que quer muita fazer a foto e o namorado dela também mas quando chega a hora bate um medo de julgamentos e timidez, aí ela desiste”.

As mulheres trans e travestis sofrem com a invisibilidade e o preconceito no seu dia adia. Kamila lembra um caso que contatou um possível casal mas a companheira recusou por estar sem cabelo. “Essas querem ser vistas mas não querem ser vistas de qualquer jeito. Elas já são invisibilizadas, não querem aparecer de qualquer forma”, conta.

“Quando a gente fala desse projeto, nossa fala traz muita responsabilidade e visibilidade. Nós vamos fotografar as pessoas na rua onde elas moram, não é na esquina, nem numa pracinha. Aqui é a rua que eles vivem e convivem”, explica Kamila, que atualmente vive na Vila do Pinheiro.

Orgulho LGBTi+

28 de junho é o Dia do Orgulho LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e pessoas Intersex), data celebrada e lembrada mundialmente.


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