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O que é e o que tem o “Corte do Jaca”, estilo que saiu da favela e ganhou o mundo

Em 01/11/2018 – Por Maria Morganti

Página bombada nas redes sociais, vídeo “viralizado”, tema de filme, barbearias sempre lotadas. O “Corte do Jaca” saiu da favela e já ganhou a cabeça do mundo. Mas o que será que tem de especial o tal “disfarçadinho”? Quem usa? Como é? Quem faz? No “Salão do K-Beto – entra feio sai bonito”, na Nova Holanda, estão as respostas para todas essas perguntas. Segundo K-Beto, como gosta de ser chamado, barbeiro há mais de 20 anos, a procura é tanta que chega a atender de 40 a 50 pessoas por dia. Ele conta que todos os clientes – que mantêm a frequência semanal – pedem o corte estilo “disfarçadinho”.

Para alguns, o corte nasceu no Jacarezinho, favela da Zona Norte, por isso o nome: “Corte do Jaca”. Para outros, como K-Beto, o estilo começou a fazer sucesso em 2004. Lucas Lima, um dos administradores da página no Facebook “Eu mando o Corte do Jaca”, criada em 2012 para divulgar os cortes e com mais de 500 mil seguidores, defende a primeira tese e afirma que quem criou foi o “Barbeirinho do Fundão”, uma localidade do Jacarezinho. Bom, seja lá qual for o criador, o que não falta é gente atrás do “Corte do Jaca”. “Bem graduado, com uma boa finalização, com tintura ou não”, define Lucas como seria um corte perfeito.

Nas telas do cinema

“O barbeiro da maioria dos jogadores de futebol é de comunidade”, revela Lucas.
Além da cabeça dos craques, o tipo de corte também ganhou as telonas. O cineasta Emílio Domingos estava gravando o seu primeiro filme, “Batalha do Passinho”, de 2011, quando algo despertou sua curiosidade:  “todos os dançarinos do passinho tinham o ‘Corte do Jaca’ e aquilo me chamou atenção. Muitas vezes, eu tentava me encontrar com os dançarinos na sexta-feira, e eles nunca podiam, porque iam ao barbeiro e eu ficava intrigado com aquilo. Aí, eu vi que o salão era um lugar muito interessante, onde ficavam vários jovens conversando sobre a vida, sobre tudo, não só cortando cabelo. O filme não é sobre o ‘Corte do Jaca’, mas ele permeia o filme todo”.

 Vaidade masculina

Em pesquisa sobre o mercado de beleza masculina realizada, em 2016, pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), 45% dos homens se declararam vaidosos. Alison Willian Fidelis é um desses que mantém um ritual de cuidado religioso. Faz hidratação no cabelo duas vezes por semana, atualiza o corte “em dégradé” e o cavanhaque semanalmente na barbearia, além de ter cuidados com a pele, como limpeza facial. E se não conseguir se cuidar por algum motivo?  “Me sinto feio e desleixado”, confessa.

Boom de barbearias

O Censo de Empreendimentos da Maré, realizado em 2013, confirma o aumento cada vez maior e a solidificação de negócios envolvendo a vaidade masculina. A categoria “beleza e estética” teve o segundo maior número de empreendimentos de toda a Maré, 307, perdendo apenas para o número de bares, 660. Isso antes do boom de barbershops, espécie de barbearia com oferta de bebidas como cerveja, venda de roupas e outros artigos de beleza masculina, ressalta o coordenador geral do estudo, Dalcio Marinho. “A onda que fez proliferar os chamados barbershops na Maré, e em toda a cidade, é bem recente. Quando o Censo de Empreendimentos da Maré foi realizado, em 2013, ainda não havia tantos como se vê atualmente. A quase totalidade dos estabelecimentos do ramo era de barbearias comuns, daquelas mais convencionais. Havia 33 empreendimentos na Maré que eram denominados como barbearias por seus proprietários. Mas a barba também era cuidada em pontos comerciais, que são chamados de salão de cabeleireiro, o que nos leva a admitir que o número de pontos com este serviço era mais elevado. Não sabemos quantos babershops surgiram nos últimos anos na Maré. Só uma nova pesquisa poderia revelar. Mas é certo que o número de barbearias aumentou bastante com essa tendência, que responde a uma nova demanda dos homens em relação à aparência”, afirma.

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