Um balanço do mercado imobiliário da Maré

Data:

Maré de Notícias #91 – 31/07/2018

Corretores dizem que a crise derrubou procura de imóveis na favela

Hélio Euclides

Durante muito tempo o comércio de imóveis na favela foi algo muito vantajoso. Hoje, apesar das novas construções e reformas espalhadas pela Maré, tanto o aluguel quanto a venda tiveram quedas. Segundo as imobiliárias, a crise, o arrocho econômico e o desemprego desaqueceram o mercado, ocasionando perda do poder aquisitivo, trazendo algo não comum na Maré: a pouca procura e o grande número de imóveis ofertados.

No Maré de Notícias, Edição 17, de maio de 2011, foi citada a especulação imobiliária. Naquele ano, quem tinha alguma receita, como indenizações trabalhistas e fundo de garantia, investia em imóveis. Isso reduzia a oferta de casas e pontos comerciais na favela. A busca era grande e o preço também aumentava, ocorria a lei da oferta e da procura.

O tema voltou ao Maré de Notícias, na Edição 50, em fevereiro de 2014. O texto mencionava os preços dos imóveis na Maré, que estavam nas alturas. Apesar do preço, os imóveis para venda e aluguel estavam concorridíssimos. Hoje, quatro anos depois, as coisas se inverteram. “Os preços ficaram mais baixos por causa da situação do País. Diminuiu o valor dos aluguéis, em média de 700 reais, para 500 reais, isso para segurar o inquilino antigo. Já para a compra é a melhor oportunidade”, comenta Robson da Silva, dono da imobiliária Robvendas.

Robson entende que a crise evoluiu para mudanças nos hábitos de vida. “As famílias estão se adaptando, tem filho saindo do aluguel e construindo na laje dos pais”, argumenta. Para ele, o Parque União é o lugar mais caro, por ficar próximo da entrada da Ilha do Governador. Já na Nova Holanda, encontra-se casas de dois quartos ao preço de 80 mil reais.

Desânimo sim; desistir do negócio, jamais

Pedro de Oliveira mora na Vila do Pinheiro e tem outro imóvel da família que colocou à venda. “Já estou tentando vender há um tempo. Mas veio a crise e os preços dos imóveis tiveram de cair. O preço inicial era 150 mil reais, hoje reduzi para 120 mil”, relata. “Acredito que estão com medo de investir, deixando o dinheiro no Banco. Mas a favela é o melhor lugar para se morar”, lembra Ana Paula, dona da imobiliária Irmãs Guimel.

O Índice de Velocidade de Locação revela que houve crescimento do número de negócios fechados na cidade do Rio, aumentando 17,6%, em comparação a março de 2017. Ana Paula discorda da pesquisa. “Só lá fora que dizem que aumentaram as transações de imóvel, o que é mentira das grandes imobiliárias. A verdade é que tivemos de reduzir o preço; um exemplo é a quitinete, que hoje sai por 15 mil reais; outro é a laje, por 20 mil. Um imóvel já chegou a ter o valor três vezes maior do que vale hoje”, expõe.

Para Josemar Nazário, da Corretora Novo Lar, é preciso usar a criatividade para superar as dificuldades financeiras do ramo. “O que estamos usando para fugir da crise é a venda parcelada”, explica. Ele acredita que se crédito imobiliário fosse possível na favela, seria outra facilidade, mas a inviabilidade se dá na falta de documentação necessária. A esposa Natali Nazário detalha que os locais mais caros estão em Bento Ribeiro Dantas, pela proximidade com Linha Amarela, e no Morro do Timbau, que tem casas grandes e não coladas. Já na Vila do João é o acesso à Avenida Brasil. “Pela falta de dinheiro na rua, as vendas acontecem por troca de casa dentro da Maré, e outras para voltar à terra natal. Tem também casos de pessoas que voltam para cá depois do susto com os gastos fora da favela”, acrescenta.

 

VALORES DE COMPRA DE MORADIA NAS DIVERSAS FAVELAS DA MARÉ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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