MARÉ DE NOTÍCIAS #57

Data:

 

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”A luta das sete cores”]
Por Fabíola Loureiro

No dia 7 de setembro aconteceu a 3ª Parada LGBT da Maré, começando no Parque União e terminando na Nova Holanda. Gilmar Cunha, coordenador do grupo Conexão G e organizador do evento, disse que a data foi escolhida por posicionamento político. “Pensamos nessa data da mesma forma que existe o Grito dos Excluídos e por sermos uma população invisibilizada”, explica.

O Grito é uma manifestação popular que acontece desde 1994, reunindo movimentos sociais e pessoas comprometidas com as causas dos excluídos.

O estudante Bruno (que preferiu não revelar seu sobrenome), de 25 anos, também conhecido como Hillary, disse que o evento é importante, pois é um local onde os gays se encontram. “Não queremos mostrar que o mundo é colorido, mas que lutamos por nossos direitos. Todas as pessoas merecem respeito, inclusive os gays”.

Paula Santos, 19 anos, disse que já apanhou na rua (fora da Maré) por conta de sua orientação sexual. Ela estava com a namorada quando foi abordada por quatro rapazes que a xingaram e a agrediram. “Acho ruim quando o preconceito chega a um ponto em que as pessoas agridem os homossexuais. E eu só estava de mãos dadas. Acho esse evento importante, pois durante o dia tem a feira com várias atividades e discutimos nossos direitos. Mesmo que não aceitem, as pessoas têm que respeitar”, ressalta a estudante.

O evento LGBT da Vila do João, intitulado Maré sem preconceito, está marcado para 28 de setembro, no campo. De 10h às 14h acontecerá a feira de serviços e em seguida a Parada, que vai percorrer a Rua Principal (Rua 14).

[/toggle]

[toggle title=”Conexão G no Conselho Nacional de Juventude”]

 

Por Silvia Noronha

Em agosto, o Conexão G tomou posse no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), em Brasília. Nesta entrevista, Gilmar Cunha, coordenador do grupo, diz que o objetivo é desenvolver uma política voltada para a população LBGT de favelas. O Conselho tem, entre suas atribuições, a de formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, desenvolver estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica dos jovens e promover o intercâmbio entre as organizações juvenis nacionais e internacionais.

Maré de Notícias: O que motivou o Conexão G a buscar essa participação em nível nacional?

Gilmar Cunha: Hoje em dia precisamos estar em espaços onde não só acontecem discussões, mas onde haja de fato uma efetivação de políticas. O grupo vem estimulando diversos movimentos a vestirem a camisa e lutarem por uma população invisibilizada, levando em consideração que 1’este espaço é de troca. Estar no conselho nacional se faz necessário como suporte para a implementação das demandas que o grupo vem defendendo e lutando na conquista de direitos da população LGBT de favelas. Percebemos que o conselho nacional tem se mostrado um caminho onde as políticas voltadas para a juventude estão de fato sendo efetivadas.

Maré: Quais as principais pautas a serem levadas?

 Gilmar: Existem várias demandas; a primeira é o reconhecimento dessa população, depois a criação de dados sobre a questão da violência dentro desses territórios a fim de dar subsídio para a construção de uma política voltada para esse grupo específico.

 

[/toggle]

[toggle title=”Fla / Uevom – 6 anos”]

Por Rosilene Miliotti

Virginia Lucia G. dos Santos,moradora da Nova Holanda e mãe do atleta Frederico Alfredo, o Fred, de 13 anos, conta que o projeto fez muita diferença na vida dela e na de seu filho. Fred joga como fixo no Fla/Uevom, é filho único e até os 11 anos de idade não estava matriculado na escola. Hoje ele está no sexto ano e é bem diferente de dois anos atrás. “Eu brigava, mas não sei o porquê. O futsal me deixou mais calmo e o pessoal do projeto me colocou na escola”, conta ele.

O núcleo de futebol de salão (futsal) da Maré é resultado da parceria entre o Clube de Regatas Flamengo e a União Esportiva Vila Olímpica da Maré (Uevom). O projeto, além de descobrir talentos, trabalha junto com a família e exige que o participante frequente a escola. Em seis anos, cerca de 300 meninos já participaram do grupo e quatro estão em clubes cariocas.

O coordenador do projeto, Antonio Bezerra, explica que os profissionais do Fla/Uevom devem ser professores na essência, cuidando da criança dentro e fora da quadra. Ele também incentiva a presença dos responsáveis nos jogos, porque sente que isso influencia positivamente o desempenho dos jovens.

Por conta dessa recomendação, Virginia passou a assistir aos jogos, torcendo mais perto do filho. Fred, como muitos meninos, sonha em ser jogador de futebol para ajudar a mãe que vende bolo pelas ruas da favela. “Um dia eu perguntei a ele o que ele queria ser e ele respondeu que queria ser jogador de futebol. Eu disse ‘vamos lutar juntos’”, lembra Virginia.

Da Maré para a Gávea

 O sonho de virar profissional também é incentivado pelo status que um jogador conquista na sociedade, aparecendo na mídia, ganhando fama e dinheiro. Porém descobrir um talento entre tantos meninos não é fácil, mas alguns estão conseguindo o seu espaço. “Se o Flamengo chegar aqui hoje e falar que quer um atleta, nós não prendemos ninguém”, afirma o coordenador.

Ele cita um garoto que passou pelo Fla/Uevom, José Araújo, de 14 anos, que atualmente joga no Fluminense. “O Flamengo quer tê-lo de volta”, conta Bezerra.

O coordenador cobra disciplina. No treino pode ir de sandália, mas no jogo o uso do tênis é regra. Ele justifica a rigidez dizendo que quando o menino for para um emprego, vai ter que cumprir regras e saber se apresentar.

Bezerra confia nos atletas e afirma que se qualquer time da Maré quiser jogar futsal, dentro das regras com o Fla/Uevom, ninguém ganha. Alguém se habilita?

[/toggle]

[toggle title=”Maré resiste à remoção”]

 

Por: Higor Antonio da Silva/Numim

Há mais de 35 anos, em 11 de junho de 1979, foi assinado pelo então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, um documento que, embora muitos moradores não conheçam, faz parte e é símbolo de um momento histórico da Maré. Trata-se da “Minuta Carta”, documento no qual o ministro reconhece a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do Projeto Rio.

 Dois dias antes, na manhã de sábado 9 de junho de 1979, o jornal O Globo havia publicado uma reportagem intitulada “Governo acaba com as 6 favelas da Maré”. Na matéria, o governo federal, na figura do mesmo ministro Andreazza, apresentava o Projeto Rio. Este projeto, entre outras ações, pretendia remover as favelas da Maré do seu lugar de origem. Para os moradores isso despertava o medo daquilo que eles mais temiam, ou seja, a remoção para lugares distantes e afastados do Centro do Rio de Janeiro, longe do trabalho, da família e dos amigos.

Detalhes dessa história e desses momentos de medo e angústia foram relembrados por Atanásio Amorim, morador do Timbau e um dos fundadores da Codefam, em entrevista à equipe de pesquisadores do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (Numim).

Ele começa por citar a contribuição de Hortência Dunshee de Abranches, secretária de Serviço Social do extinto estado da Guanabara e diretora da antiga Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (Codesco), cuja colaboração foi fundamental para a formação da Codefam, entidade que passou a organizar a defesa dos moradores e a luta pela permanência na Maré.

Atanásio conta que Hortênsia o alertou sobre a ameaça de remoção. “Tinha uma senhora que foi presidente da Codesco que me tinha sempre aquela consideração, essa coisa toda, me telefonou, mandou um cartãozinho para mim: ‘Ô Atanásio, você sabe o quê que ta acontecendo?’ Eu disse: ‘Não’. Ela: ‘Você num leu O Globo de hoje? Saiu uma nota que vocês daí vão ser despejados e que aí vai passar uma linha vermelha’. Eu: ‘Poxa, eu num sei de nada, num to sabendo de nada’. Procurei o jornal e vi e perguntei: ‘E agora o quê que a gente vai fazer?’ Ela disse: ‘Ó, você vai, procura os presidentes daí e vai se arregimentar pra ver o quê que pode ser feito, porque vocês num podem ficar aí de mão atadas porque se não eles vão fazer e acontecer’. Pensei então: ‘E agora?’ Aí chamei o Clóvis, aí o Clóvis mandou chamar o Agamenon, aí todo mundo se reuniu…”, recorda-se.

A partir desse encontro, começa uma série de articulações entre os seis presidentes das associações de moradores e de outras lideranças da Maré, na tentativa de construir uma resistência à remoção. Assim nasceu a Codefam, instituição responsável pela articulação junto ao governo federal sobre o que poderia ser feito em termos de melhorias dentro do território da Maré sem que acontecessem as temidas remoções.

Como conta Atanásio: “Sei que todo mundo se reuniu lá na Nova Holanda pra ver o que poderia ser feito em prol da comunidade, isso no próprio domingo. Quando foi de noite ela [Hortência] esteve aqui, nós nos reunimos, eu fui com ela lá, aí foi feita uma associação na mesma hora, era a (…) Codefam (…) para defender nossos direitos, direitos do povo, e foi eleito o presidente da Codefam o Manuelino Silva, que era o presidente da Maré [Parque Maré] na época. E assim ela [Hortência] disse: ‘Bom, vai todo mundo pra casa, vai fazer uma minuta do que necessita e amanhã todo mundo aqui reunido’”.

Assim ficou combinado que haveria na noite de segunda feira, 11 de junho de 1979, uma nova reunião para que fosse feita uma carta a ser entregue às autoridades do governo federal. Hortência redigiu a carta para aprovação de todos. Mas ainda durante o dia Atanásio recebe uma ligação de Hortência para que fosse ao seu encontro. Nesse encontro, segundo Atanásio, ela disse: “’Eu fiz uma minuta da carta pra vocês e nós vamos levar essa minuta lá à noite pra vê o que a gente vai fazer’. Eu disse: ‘Tá bom!’. Aí me mostrou: ‘É essa minuta aqui, ta aqui!’ [mostrando o documento para os pesquisadores do Numim], e ela disse: ‘A gente já ta aqui na [centro] cidade, [aproveitando] vamos no gabinete do ministro na [rua] Marechal Câmara’. Aí eu fui com ela na Marechal Câmara”.

Hortência e Atanásio se dirigiram ao gabinete do ministro Andreazza. Atanásio assim conta: “Chegamos lá, conversamos. Ela era doutora, já tinha sido administradora, [e diz Hortência ao ministro]: ‘Olha ministro, acontece o seguinte: é que o senhor lançou um projeto da linha vermelha e a linha vermelha vai passar em cima de uma comunidade que tem muita gente boa lá e o pessoal tá meio apavorado lá, sem saber o que vai fazer’. Aí ele [ministro] disse: ‘Hortência, eu não quero prejudicar ninguém não, mas tem que ser feito, alguma coisa tem que ser feita. E o pessoal lá como está?’ Aí ela: ‘tá todo mundo apavorado!’ [ministro] ‘Eles não têm nada? Eles não se reuniram pra fazer alguma coisa?’ Ela disse: ‘Não, nós nos reunimos ontem, eu me reuni com eles ontem, vou reunir agora de noite com eles pra ver como é que a gente vai fazer  esse pedido para o senhor [ministro]’. ‘Mas vocês não tem nada escrito?’ [Hortência] ‘Não. Nós temos uma minuta escrita que cada comunidade

vai se reunir lá [para] fazer uma minuta. E dessa minuta a gente vai tirar um crivo e mandar para o senhor’. [ministro diz] ‘Cadê essa minuta de vocês? Você representa o quê?’ Aí ela ‘Eu represento a Baixa do Sapateiro porque seu Atanásio é de lá’. [ministro diz] ‘Deixa eu ver aqui’. Aí ele pegou essa minuta leu, leu… [ministro] ‘Ah! Tá muito bom, muito bom, é isso que eu quero…’ Aí escreveu aqui [apontando para o documento] muito bom! [lendo a assinatura do ministro] ‘Mario de Andeazza’. Aí ele deixou e deu a carta pra gente (…) Aí quando foi de noite ela veio pra cá com a gente, ela morava lá na Lagoa, aí de noite ela tava aqui junto com a gente, aí nós fomos pra lá, chegamos lá todo (…) orgulhoso (…) estava lá todos os presidentes, Agamenon tava lá, o Clovis que já tava lá e o Zé Careca…”

A consequência dessa ação foi a realização de uma reunião do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) com representantes da Codefam, em 18 de junho de 1979. Nessa reunião, a Codefam apresentou as reivindicações dos moradores da Maré ao ministro Andreazza e ao diretor geral da DNOS. Como efeito prático do encontro, a Codefam recebeu garantias de que os moradores da Maré seriam ouvidos e de que seus representantes poderiam dialogar com os técnicos que elaborariam o Projeto Rio.

Manoelino Silva, presidente da comissão, ficou satisfeito com o resultado da reunião porque ela garantia a participação dos moradores nas discussões sobre as mudanças que deveriam ser feitas no Projeto Rio. Em reportagem do dia 19 de junho de 1979, o jornal O Globo, na página 09, noticiava as decisões tomadas na reunião entre o governo federal e os moradores da Maré.

Desse modo, a história da Codefam e de suas ações para evitar as remoções, bem como a organização para intervir no Projeto Rio, são fatos importantes não apenas porque se conseguiu reverter a decisão de retirar os moradores, mas também porque mostrou que mesmo no enfrentamento com o governo militar (não podemos esquecer que o Brasil vivia sob a ditadura) os moradores conseguiram impor suas reinvindicações. Fatos como esse mostram que a história das favelas, como é o caso da Maré, é rica em exemplos de luta, organização e perseverança de seus moradores na busca por melhores condições de vida.

[/toggle]
[/toggles]

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Após seis anos, acusados de mandar matar Marielle Franco são presos pela PF

Os suspeitos são os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e deputado federal do Rio de Janeiro, respectivamente, e Rivaldo Barbosa, que é delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Rio