Maré de Notícias #60

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[toggle title=”5 anos juntos”]

Fazer comunicação comunitária é muito bom, mas não é nada fácil, principalmente se a proposta for elaborar um jornal impresso. O pagamento à gráfica e a necessidade de montar um sistema de distribuição tornam o desafio ainda maior. Este é o caso do nosso Maré de Notícias, que completou cinco anos em dezembro passado, com 59 edições. Um feito, sem dúvidas, mas não somos os únicos; há muitos grupos fazendo comunicação comunitária, a maior parte pela internet.

Entre os veículos impressos, além do Maré de Notícias, existem: Fala Roça, da Rocinha; Fala Manguinhos, do Complexo de Manguinhos; Voz das Comunidades, do Alemão (que no fim do ano voltou a ser impresso); e A Notícia Por Quem Vive, da Cidade de Deus.

Simone Quintella, uma das fundadoras do Fala Manguinhos e da Agência de Comunicação Comunitária de Manguinhos, conta que o lançamento do jornal foi pensado para democratizar as informações das 17 favelas que formam Manguinhos, onde moram cerca de 40 mil pessoas (IBGE, Censo 2010). “As coisas aconteciam, mas a informação não circulava, porque Manguinhos é grande. Apenas uns poucos privilegiados tinham acesso ao que ocorria por aqui. O jornal ameniza essa situação”, afirma Simone.

O Fala Manguinhos foi lançado em novembro de 2013 por um grupo de moradores. A ideia nasceu no grupo de comunicação do Conselho Comunitário de Manguinhos. Inicialmente tinha periodicidade mensal, mas depois passou para bimestral, por causa do custo. São 10 mil exemplares, distribuídos pela própria equipe que escreve. Um exemplar é deixado na porta de cada casa e nas instituições locais (a exemplo do que fazemos com o nosso Maré).

Eles também estão tentando captar anúncios das empresas locais para garantir a existência do jornal que, atualmente, conta com apoio da Fiocruz e recentemente recebeu verba do prêmio Favela Criativa, patrocinado pela Light e Secretaria Estadual de Cultura. Fazem parte dos planos lançar uma rádio-web e remunerar a equipe, formada por 12 pessoas, sendo 10 moradores.

Rio tem 118 veículos de comunicação comunitária

 Além das ações citadas acima, a pesquisa “Direto à comunicação e justiça racial”, do Observatório de Favelas, mapeou a existência de 118 iniciativas comunitárias de diversos tipos na Região Metropolitana do Rio. Desse total, 70 responderam a um questionário (nós fomos um deles!). A maior parte das ações de comunicação (52 de um total de 70) existe somente pela internet (blogs, redes sociais, site, web-rádio e web-tv). Jornais e revistas impressos são apenas 10, de acordo com a pesquisa, concluída em 2014. Existem também seis canais de rádio comunitária e dois de TV. Vida longa a todos!

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[toggle title=”Luta ganha visibilidade após eleições”]

A luta pela Democratização da Comunicação em nosso país passou a ter alguma organicidade por volta de 1987, quando aconteceram as primeiras articulações e debates para tentar contribuir para o conteúdo da nova Constituição, que terminou sendo aprovada em 1988. Infelizmente, passados 25 anos da aprovação da nossa atual Constituição, os principais capítulos da mesma que tratam da comunicação não foram regulamentados. Os ‘barões da mídia’ e os ‘imperadores das teles’ não querem que haja nenhum tipo de regulação da mídia em nosso país. Dizem que isso seria uma censura, um atentado à liberdade de imprensa.

Na realidade, quem faz censura todos os dias são os donos das principais empresas de comunicação no país, impedindo a pluralidade de ideias, a diversidade de fontes de opinião, o debate do contraditório, e impondo um ‘pensamento único’, manipulando a informação, deturpando a notícia, contando ‘meias verdades’, exercendo na prática uma verdadeira ‘liberdade de empresa’. Suas TVs, rádios, jornais e revistas dizem o que querem, sua opinião passa a ser a ‘verdade’ nacional, e ninguém tem a oportunidade de divergir ou de contestar.

Desde 1991, o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) vem organizando as principais lutas e campanhas pelo direito à comunicação, pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação. Do apoio à luta das rádios e TVs comunitárias, do fortalecimento da comunicação pública, da luta por uma internet livre e democrática e de boa qualidade (banda larga), da implantação do Canal da Cidadania na TV digital aberta, do apoio para dar sustentabilidade à comunicação alternativa, popular, independente e livre, nas vitórias para regulamentar a Lei do Acesso à Informação, a Lei do Serviço Condicionado (TV por Assinatura), o Marco Civil da Internet, da luta pela criação e implantação dos Conselhos de Comunicação, na luta pela organização e implementação da I Conferência Nacional de Comunicação (ConFeCom), à luta mais geral para conquistar um novo Marco Regulatório das Comunicações, o FNDC sempre esteve lá.

O FNDC sempre esteve formulando projetos de políticas públicas, denunciando as arbitrariedades cometidas pelo oligopólio das grandes redes de comunicação, negociando e pressionando os poderes públicos, formando novos quadros e capacitando ativistas, coletando abaixo-assinados, fazendo campanha nas ruas e nas redes, travando várias batalhas e utilizando-se de várias estratégias para fazer avançar em nosso país essa luta pela democratização da comunicação.

Desde maio de 2013 estamos nas ruas, praças, escolas, universidades, igrejas e comunidades, coletando assinaturas para um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) da Mídia Democrática, iniciativa construída por mais de 500 entidades e organizações da sociedade civil brasileira, e que apenas pretende regulamentar os artigos da nossa Constituição que falam de Comunicação Social e todavia não foram regulamentados.

Lá está a regulamentação da complementaridade entre os sistemas de comunicação (privado, estatal e público), a proibição do monopólio e oligopólio no setor, a obrigatoriedade de mais conteúdos regionais e independentes nas nossas rádios e TVs, a criação de um Conselho Nacional de Comunicação com participação do cidadão. Queremos obrigar o Congresso e o governo federal a assumirem a sua responsabilidade de fazer este debate acontecer e avançar neste direito de cidadania para todos os brasileiros e brasileiras.

Você também pode participar. Entre no site www.fndc.org.br ou no site www.paraexpressaraliberdade.org.br e você terá acesso a todos os materiais de campanha, incluindo aí a folha de coleta de assinaturas. Você pode imprimir, assinar e coletar outras assinaturas entre amigos, colegas, vizinhos e companheiros de luta.

Essas eleições gerais de 2014 no Brasil foram as mais duras dos últimos anos e nos deram algumas lições. A principal delas é que dificilmente haverá avanços ou mudanças estruturais em nosso país, nos próximos quatro anos, sem muita mobilização e pressão popular, nas ruas, nas redes e no Congresso Nacional. A segunda lição é que os setores democráticos, populares e progressistas precisam costurar rapidamente a sua unidade, buscando a centralidade em algumas lutas que são prioritárias e capazes de mobilizar grandes massas, criando um grande movimento popular cívico, como foram as lutas da ‘Anistia Ampla, Geral e Irrestrita’ e a das ‘Diretas, já!’

Entendemos que este movimento cívico poderia ter um mote como Mais Democracia, Mais Direitos!, e deveria focar prioritariamente em duas grandes lutas sociais e políticas, que saíram destas eleições com maior visibilidade: Democratização da Mídia e Reforma Política com Participação Popular! Esta tem sido a proposta do FNDC, não só aqui no Rio como em todo o Brasil. Vamos à luta, nas ruas e nas redes, 2015 promete ser um ano de muita mobilização.

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[toggle title=”A Copacabana do Subúrbio”]

“Da Praia de Maria Angu ao Piscinão de Ramos”, esse foi o enredo criado pelo carnavalesco Valério Guidinelle para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Boca de Siri. A escola preparou um desfile de pura recordação dessa praia que já foi conhecida como a Copacabana do Subúrbio. O enredo contou a história dessa área antes denominada Praia de Maria Angu, onde havia um porto de mesmo nome.

 Valério procurou dados para compor o trabalho e ficou triste. “Quando comecei a pesquisar me senti mal, pois algo que faz parte da história da cidade não é lembrado. Só há dados em poucos lugares, na Biblioteca Nacional não existe nada. Parece que somos esquecidos, só tem importância do Caju para o Centro, por causa da Casa de Banho de Dom João VI”, desabafa.

Para recuperar o processo histórico foi preciso uma pesquisa com moradores antigos, que contaram o que vivenciaram e tinham fotografias. A Biblioteca de Ramos também ajudou com jornais antigos.

A primeira faixa de areia

 A escola fez uma viagem ao passado, mostrando que, no início do século XX, quando o porto funcionava, quase tudo era mangue. Em 1912, as terras foram compradas pelo capitão Vieira Ferreira, passando a se chamar Fazenda Engenho da Pedra, onde havia muitos cajueiros. Foi ele quem fez o primeiro aterro, criando uma faixa de areia e rebatizando o lugar de Praia de Ramos.

Tempos depois, com a venda de lotes, surgiu a Vila Gerson, homenagem ao filho primogênito do proprietário. Com o crescimento do lugar, palafitas foram construídas ao lado da variante, onde hoje é a Avenida Brasil. Essa pista era constantemente atravessada por pessoas que iam buscar água do outro lado.

Em 1946, o governo tentou remover a favela e, segundo contam, por influência de um bicheiro todos ficaram. À beira da praia, existia um balneário, com boate e cabines para troca de roupas. O lugar, que quase virou um cassino, abriga hoje a Escola Municipal Armando de Salles Oliveira.

As festas também não ficam fora do enredo, como a de São Pedro, realizada por pescadores da colônia. Há personagens marcantes, também mostrados pela escola, como os fotógrafos que faziam os monóculos, os vendedores de raspa-raspa de groselha, os foliões fantasiados no mar, com direito a concurso.

Os banhistas ainda tinham uma diversão diferente: assistiam os aviões aterrissarem, com charme. Alguns deram sorte e viram um que passou por baixo da ponte do Galeão.

O primeiro bar local chamava-se Sereia. Depois vieram outros como o Bar da Neguinha, local de rodas de pagode, com personalidades, entre elas Beth Carvalho, que retratou a praia num samba.

Com o passar do tempo, veio a poluição e a praia deixou de ser freqüentada. Até que, em 2000, moradores e amigos organizaram um abraço à praia, manifesto que gerou o piscinão, em 2001. Esse evento teve a influência dos cantores Dicró (falecido em 2012) e Bhega Silva. A partir daí, os freqüentadores retornaram, dando mais vida ao lugar.

“Quando criei esse enredo, era para homenagear a praia, os habitantes. Hoje não somos só Praia de Ramos e Roquete Pinto, somos Maré, um exemplo são os compositores que moram no Parque União. Queremos que a Maré toda abrace o Boca de Siri”, comenta o carnavalesco, que pretende ao final arquivar o que pesquisou na Biblioteca de Ramos. A escola pertence ao Grupo C e desfilou na Av. Intendente Magalhães e ficou em oitavo lugar.

Por que Maria Angu

 Sobre o nome da Praia de Maria Angu há diversas versões. Segundo pesquisou Valério, algumas pessoas contam que existia uma moradora que se chamava Maria e vendia angu. Para outros, o nome deriva de pássaros que viviam na praia, conhecidos como mariangu (ou curiango). Ainda há a versão de que índios habitavam o território e como aqui era mangue, na língua deles, dizia-se Maria angu. Valério acredita que infelizmente parte da história se perdeu, e pode não haver exatidão em relação ao nome.

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[mare-materia titulo=”Tem Griot na Maré?” close=”true”]

Você sabe o que é Griot? Na África, Griot é a classe de homens e mulheres responsáveis por transmitir a história de geração em geração. Eles contam fatos e lendas locais que ajudam a preservar a história e os costumes de sua gente. Pois a nossa leitora Sara Alves enviou uma boa dica para todos nós e ainda um super elogio ao jornal, que nos deixou muito emocionados. Obrigado! Leiam o texto enviado pela Sara:

Uma dica para os Mareenses

 O documentário “Sotigui Kouyaté- Um Griot no Brasil” (disponível no You Tube. É só colocar este título na busca) é simplesmente Fascinante! Analogicamente “falando”: existe Griot na Maré: o Nosso jornal Maré de Notícias! Ele, o Maré de Notícias, nasceu para preservar nossas lendas e fatos. É guardião da memória… nossas histórias são contadas e recontadas por quem vive as histórias…

No documentário, Sotigui, o Griot, comenta que quem conhece apenas um país da África, não conhece a África; penso que acontece o mesmo com a nossa Maré, pois quem conhece apenas uma ou algumas comunidades, não conhece “A” Maré. Cada comunidade tem sua particularidade, nasceu num determinado momento (histórico, político, social, econômico etc.) e cada uma tem suas histórias para contar – histórias essas que navegam com O NOSSO GRIOT MARÉ DE NOTÍCIAS, na Maré, no Brasil e no mundo. Um orgulho, acredito eu, para os Mareenses! Espero que gostem da dica!

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