Mesmo com a crescente dos casos e frentes de mobilização para conscientização, é grande a preocupação com favelas e periferias no Rio
Jéssica Pires
A Rocinha é a favela mais populosa do país. O censo de 2010 do IBGE registra 70 mil habitantes, no entanto, organizações locais e veículos de comunicação já consideram uma população de cerca de 200 mil moradores atualmente. A região faz limites com bairros que concentram alguns dos mais altos IPTUs da cidade: São Conrado e Gávea. A favela da Rocinha foi a primeira do Rio a testar positivo para casos de coronavírus e hoje é a que tem maior número de casos: 36 confirmados e três óbitos.
No Rio, os primeiros casos registrados do novo coronavírus e o aumento dos mesmos se concentram em regiões mais privilegiadas da cidade. Até o fim de março, a Barra da Tijuca era o bairro com maior número de pessoas infectadas. Ipanema e Leblon, bairros próximos da Rocinha, eram os próximos na lista, seguidos de Copacabana. Também no fim de março, a Prefeitura do Rio publicou um boletim que indicava que 37,4% dos pacientes que testaram positivo para a Covid-19 possuía histórico de deslocamento internacional.
Porém, com a grande circulação de pessoas na cidade, e a confirmação da transmissão comunitária (quando a população se infecta entre si), foi questão de poucos dias para que outros diversos pontos da cidade confirmassem casos, inclusive as favelas. Dia 5 de abril a Rocinha era a primeira favela da cidade com casos confirmados e no dia 9 de abril já haviam mortes registradas.
Favelas e periferias preocupam
A preocupação com a transmissão em favelas e periferias é grande, sobretudo pela ausência de políticas públicas específicas em diversos segmentos para esses territórios. Muitas frentes de mobilização formadas por organizações locais, coletivos, moradores e voluntários são vistas, mas ainda é notável tanto a falta de recursos como a de conscientização nesses territórios. “A Rocinha iniciou relativamente bem a quarentena, há quatro semanas atrás. As ruas estavam vazias, comércio e bares bem reduzidos. Depois da fala do presidente Jair Bolsonaro e a falta de entrosamento entre prefeito e governador, o movimento aumentou significativamente”, comenta Michele Silva, coordenadora do Jornal Fala Roça.
Hoje, o novo epicentro de casos na cidade do Rio é a Zona Norte. Preocupa o cenário, também, pela grande quantidade de favelas que a região abriga, inclusive as 16 favelas da Maré. Até a última quarta-feira, 15 de abril, eram cinco casos confirmados e dois óbitos pelo novo coronavírus na Maré. E mesmo com a confirmação dos casos e óbitos no conjunto de favelas, ainda é possível ver aglomeração nas ruas da Maré, apesar do trabalho de conscientização que vem sendo feito por associações de moradores e instituições.
Os dados não garantem o reflexo da realidade
As autoridades médicas alertam para o grande pico de casos que deve ser registrado nas próximas semanas. Os números já evidenciam crescimento. Os 36 casos na Rocinha e cinco casos na Maré possivelmente já não refletem a realidade do cenário dessas favelas. Há estudos que indicam, inclusive, que o número de casos é 20 vezes maior que o notificado no Brasil, já que não há testes disponíveis para todos os suspeitos.
Os pacientes que conseguem ser testados, em geral, estão internados e as secretarias municipal e estadual de saúde informaram em nota que o resultado tem levado, em média, 48 horas para saírem. Depois disso, os mesmos são computados no Painel Rio Covid-19. O Jornal Fala Roça divulgou uma matéria que evidencia que em três dias, 50% de pacientes de clínica particular testaram positivo para Covid-19 na Rocinha e esses números não são computados pelo painel.
“Os casos estão se multiplicando rapidamente, mas muita gente caiu na descrença. As duas primeiras mortes chocaram, mas parece que o efeito do medo já passou, e as pessoas estão pagando para ver. A desinformação está rolando solta”, concluiu Michele Silva.
Em todo o planeta o único resultado eficaz é o isolamento social. Evitar aglomerações nas periferias das grandes cidades do Brasil é um dos maiores desafios para o combate a expansão do Coronavírus. E esse desafio é de todos.