‘Uma travesti do meu porte’ diz Kastelanny, que supera transfobia com arte

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No YouTube ela realiza performances inspiradas em artistas, e no palco, seu corpo dança ao ritmo de uma vida repleta de reviravoltas

Gabriel Horsth

Kastelanny Silva é uma força mareense que não apenas resiste, mas diva em sua jornada pela vida, afirmando com confiança: “o mundo ainda vai conhecer meu nome”. Performer, ela leva diversidade por onde passa, mas, quem a vê exibir autoestima, pode não imaginar os desafios enfrentados desde cedo.

“Eu renasci aos 14 anos, quando decidi abraçar minha identidade”, conta a jovem sobre o processo de transição de gênero. Na escola, ela fazia do pátio seu palco, mostrando ao mundo sua autenticidade.

Escola despreparada

Mas foi na escola também que a artista enfrentou os primeiros olhares tortos e comentários maldosos. A transfobia, o preconceito, o racismo e o bullying (importunação, assédio, violência, agressão, perseguições verbais, emocionais, psicológicas, mentais ou físicas) estiveram presentes nas escolas de ensino fundamental e médio nas quais passou.

Felizmente, Kastelanny tinha o apoio incondicional da mãe, Ana Maria Silva. “Minha mãe me defendeu como uma guerreira e não deixou barato, ela não aceitou o desrespeito e foi pra cima”, relembra. 

Casos como o de Kastelanny não são raros. A pesquisa Vivências reais de crianças e adolescentes transgêneres dentro do sistema educacional brasileiro, realizada pela Coordenação Nacional da Área de Proteção e Acolhimento a Crianças, Adolescentes e Famílias LGBTI+, revelou que 77,5% de crianças transgêneres sofrem transfobia na escola.

O despreparo das escolas para lidar com a diversidade é um problema sério e antigo. Para enfrentar essa questão, a Aliança LGBTI+ e a rede de ativismo Gay Latino lançaram o Manual de Educação LGBTI+.

Segundo a publicação, “Este Manual destina-se ao uso por profissionais de educação no Ensino Fundamental – Anos Finais (6º ao 9º ano) e no Ensino Médio. Foi concebido para contribuir com a diminuição do estigma, bullying, preconceito, discriminação, violência e evasão escolar que estudantes LGBTI+ nessa faixa etária geralmente podem sofrer no meio educacional.”

Kastelanny e a mãe enfrentaram a situação de frente, expondo o que chamaram de “lixo de direção” e conseguiram o afastamento do antigo diretor da escola, acusado de discriminação.

Mesmo com determinação, os diversos casos de agressão afetaram sua permanência na escola e hoje ela ainda luta para concluir o ensino médio. Disposta a mudar este cenário, ela afirma: “eu devo isso a mim mesma”.

Arte que salva

Kastelanny conta que as conversas com travestis e transexuais mais velhas ajudam a abraçar sua verdadeira identidade, mas foi na arte que ela encontrou uma maneira de se expressar e superar barreiras ainda maiores. Expressando-se em seu canal no YouTube (@akastel), ela realiza performances inspiradas em artistas como Iza, Gloria Groove e Anitta, e demonstra habilidades para dirigir, dançar e editar seus próprios vídeos. No palco, seu corpo dança ao ritmo de uma vida repleta de reviravoltas.

Kastelanny, uma jovem cheia de desejos e que faz acontecer. Ela  revela seus planos para 2024, que inclui o seu lançamento como intérprete. Enquanto aguardamos ansiosamente os próximos passos dessa musa, nos resta acompanhá-la no Instagram (@kastelanyy) e torcer pela realização dos sonhos que ela mesma constrói.

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