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Movimentos culturais LGBTQIA+ da Maré

Conheça as iniciativas que incentivam a produção por meio da diversidade na Maré 

Por Dinho Costa e Matheus Affonso em 28/07/2021 às 08h

No intuito de saber mais sobre a história mareense desses grupos, o coletivo Entidade Maré, criado pelos pesquisadores e artistas multilingues LGBTQIA+ Wallace Lino e Paulo Victor Lino, fez um experimento a partir da pergunta “O que você sabe sobre os LGBTQIA+ da Maré?”. O questionamento expressa a falta de dados e de documentação sobre a trajetória dessa comunidade nos territórios.

 O coletivo, em seu novo trabalho Noite das Estrelas, também traz à luz os emblemáticos shows protagonizados por travestis e transexuais mareenses nas décadas de 1980 e 1990. A proposta nasce das investigações e experiências de artistas negros LGBTQIA+ contemporâneos que identificaram a necessidade de construir a representatividade de corpos excluídos a partir da memória das performances, trazendo a perspectiva de inclusão desses artistas.  “Os shows da ‘Noite das Estrelas’ reúnem em si uma série de elementos de linguagem das artes cênicas e da memória sociocultural do Rio, mas faltam registros, e nosso coletivo apresenta o projeto como ação reparatória para estas populações. No campo das pesquisas em torno das artes, experiências como a dos shows da ‘Noite das Estrelas’ ainda não encontram espaços, é o sufocamento do epistemicídio nas instituições acadêmicas”, relata Paulo Victor, integrante do Coletivo Entidade.

O experimento terá como ápice um show virtual em agosto. Ele foi desenhado como uma produção de dispositivos performáticos, articulando múltiplas linguagens: música, dança, teatro, artes visuais e audiovisual, recriando assim a história dos shows no presente, resgatando uma memória cultural da Maré. Será a retomada do movimento LBGTQIA+ dentro das favelas da Maré. “Os shows nascem nas experiências de festas e convívios de LGBTQIA+, mas vão para as ruas na festa Junina da Rubens Vaz, conduzidas por Ney, que queria agradar suas amigas travestis que o ajudavam nas costuras das roupas de festa junina. Depois, Menga, que era pai de santo e ligado ao carnaval, cria a Noite das Estrelas. Com o sucesso de público, os shows passam a acontecer também depois  das finais de campeonatos de futebol, além de circular por outras comunidades de fora da Maré, dentre elas a Grota e Parada de Lucas. As artistas que se apresentavam nos shows ficaram também conhecidas na cena cultural LGBTQIA+ carioca, passando a se apresentar em boates, concursos de miss, beleza e do carnaval”, conta Wallace Lino, também integrante do Entidade.

Foto do arquivo de pesquisa do coletivo Entidade Maré – Foto do antigo show “Noite das Estrelas”

Amar na favela

Num mundo homofóbico e machista, onde há perigo de morrer por manter relações homossexuais (Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália punem a homossexualidade com a pena de morte), ser uma pessoa LGBTQIA+ é lutar diariamente para estar vivo. No Brasil, não há oficialmente pena de morte, mas somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. O direito de ser o que se é, sobretudo dentro de uma favela como a Maré, um território marcado pela negligência do Estado e o domínio de grupos civis armados, é revolucionário. Lutas como viver o casamento igualitário ainda são uma realidade para quem nasce na favela e assume uma união homoafetiva. Segundo o relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia, 237 pessoas LGBTQIA+ tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia, em 2020. Foram 224 homicídios e 13 suicídios. Isso equivale a uma morte a cada 37 horas. Como pensar nesses crimes em territórios marcados por grupos de civis armados?

Matheus Affonso é bisseexual, nascido e criado da Nova Holanda, uma das 16 favelas da Maré. Há quatro anos está em uma relação homoafetiva. “Eu e meu companheiro moramos juntos, mas não andamos de mãos dadas nas ruas, não nos beijamos dentro da Maré, e mesmo assim as pessoas nos olham ou colocam o nome do wifi de “EU SEI QUE VOCÊ É VIADO” na intenção de nos diminuir ou mostrar que esse lugar não nos pertence. Mas nós vamos seguir nos amando, resistindo e lutando para que esse território um dia respeite nossos corpos e muitos outros LGBTQIA+ mareenses”, completa o fotógrafo.

Ativismo na favela

Ao longo dos anos, a luta tem se intensificado, protagonizada por pessoas e artistas LGBTQIA+s como Gilmara Cunha, que há anos cobra políticas públicas de acesso à cidadania para essa população. “Eu sou mulher trans, negra, favelada e militante, e tenho  esperança de que é possível que haja um equipamento do estado que se faça presente dentro de um território de favela, que pense política pública para a população LGBTQIA +”, diz. 

Uma das grandes conquistas do coletivo que Gilmara dirige, o Grupo Conexão G de Cidadania LGBTQIA+ de Favelas, é a inauguração do Centro de Cidadania LGBTQIA+ que leva o seu nome neste mês, oferecendo serviços gratuitos de assistência psicológica, jurídica e social, além de cursos profissionalizantes de informática e corte & costura “A criação desse centro de referência tem um impacto muito maior na vida de cada indivíduo LGBTQIA+ que vive dentro do conjunto de favelas da Maré e de outras favelas do Brasil. Eu fico feliz em saber que um dia, quando a cortina desse teatro fechar para mim, de alguma forma a minha luta, a minha causa, as minhas dores tiveram um resultado e eu deixei legado: a construção do primeiro equipamento de políticas voltadas para a população LGBTQIA+ de favela dentro de um território de favela”, completa Gilmara Cunha.

Na Maré, além do teatro e dos movimentos ativistas, a cultura LGBTQIA+ é muito presente nos cenários do vogue, do rap, das drag queens, da dança contemporânea, do funk, da fotografia, das artes plásticas, da literatura e da dança afro. Esses movimentos vêm sendo pensados como ferramentas socioculturais, criando novas formas de ativismo no território. 

O artista plástico Jean Carlos Azuos é curador de um dos espaços de disseminação de arte e cultura na Maré. “Arte para mim é o lugar do respiro, o lugar da possibilidade, de poder narrar, imaginar, materializar coisas da ordem do campo físico. Ao mesmo tempo em que toca os outros sentidos, a arte para mim está sempre inserida na vida e em como ela se organiza. É por isso que eu posso vê-la em vários lugares e pessoas; a arte é essa coisa que se multiplica, se estende e se desdobra”, afirma o artista.

Foto Matheus Affonso, performance de 2019 do projeto Eeer de ativismo LGBTQIA+

A Maré exporta nomes para todo o país, sobretudo na área cultural. Estar à frente da luta por direitos é revolucionário, mesmo que, a passos lentos, o movimento cultural LGBTQIA+ mareense venha quebrando barreiras e transformando a Maré em um território livre de preconceitos.

E no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Maré de Notícias prestou uma homenagem a artistas dos movimentos culturais da Maré. Ao longo da semana, compartilhamos um pouco mais sobre a trajetória repleta de orgulho da integrante da House of Imperio Brainer Lua, do bailarino e drag queen Marcos Carvalho, do escritor e poeta Vitor Felix e da cantora e compositora MC Natalhão. Todos mareenses! Confira aqui:

Calendário de vacinação contra a Covid-19 é antecipado para pessoas de 47 a 43 anos; saiba os dias

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Por Edu Carvalho, em 28/06/2021 às 6h

A Prefeitura do Rio anunciou no último sábado (26/06) o novo calendário de vacinação contra a Covid-19 da próxima semana (28 de junho a 03 de julho). A imunização começa hoje, segunda-feira (28/06), para quem tem 47 anos e avançará de forma escalonada até pessoas com 43 anos ou mais no sábado (03/07). Já as mulheres serão vacinadas pela manhã (8h às 13h) e os homens à tarde (13h às 17h).

“Bora acelerar! A gente aqui transforma dificuldade em força para enfrentar os desafios. Vamos superar logo esse covid-19! Enquanto não chegamos lá vamos nos cuidando! Bora vacinar!”, disse o prefeito Eduardo Paes no Twitter.

Abaixo, o calendário de vacinação desta semana (28 de junho – 03 de julho):

Ronda: Lactantes no Rio poderão vacinar-se contra covid-19 a partir da próxima semana

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Por Edu Carvalho, em 25/06/2021 às 17h

A partir da próxima segunda (28/06), lactantes começarão a ser vacinadas contra a Covid-19. O anúncio foi feito pelo prefeito Eduardo Paes e pelo secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. A decisão de começar a vacinação das lactantes teve por base critérios técnico-científicos. Na coletiva, o prefeito ressaltou que só fazer pressão não é determinante para liberar a vacina a um grupo específico da população.

Além disso, de acordo com o 25º Boletim Epidemiológico, divulgado no Centro de Operações Rio (COR), a cidade continua em alto risco de contaminação para a doença e que, que, desde março de 2020, totaliza na cidade 362.131 casos de Covid-19, com 28.270 óbitos. Em 2021 foram 151.404 casos e 9.552 mortes. A taxa de letalidade deste ano atingiu 6,3%, contra 8,9% em 2020; e a de mortalidade, está em 143,4 a cada 100 mil habitantes, contra 281/100 mil no ano passado. A incidência da doença é de 2.272,9/100 mil, quando em 2020 era de 3.163,4/100 mil.

As médias móveis de atendimentos da rede de urgência e emergência, de casos confirmados e de óbitos pela doença apresentaram queda.

Já as medidas de proteção à vida estabelecidas no Decreto Nº 48.912, de 27 de maio de 2021 foram prorrogadas até 12 de julho. Bares, lanchonetes, restaurantes, quiosques da orla e congêneres continuam com permissão para o consumo apenas para clientes sentados, com distanciamento mínimo de um metro e meio entre cada conjunto composto por mesa e cadeiras limitado a oito ocupantes, sendo admitida música ao vivo sem restrição de horário. Academias de ginástica, piscinas, centros de treinamento e condicionamento físico podem ter aulas em grupos, com a ocupação dos ambientes limitada a um indivíduo a cada quatro metros quadrados.

Covid-19 na Maré

De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré é o 1º lugar nos registros de óbitos e casos dentre as comunidades cariocas. Ao todo, são 5656 casos (aumento de 450 casos na última semana) e 289 mortes no território. Na lista, ainda permanecem em ordem como principais pontos de infecção e óbitos: Rocinha (3.298 casos/127 mortes), Alemão (2.472/141 mortes), Fazenda Coqueiro (2.420 casos/205 mortes) e Complexo do Lins (1.757 casos/143 mortes). 

Até o fechamento desta edição da Ronda, o país contabilizava 509.282 óbitos e 18.243.391 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa (Globo, Jornal O Globo, Extra, Folha, Estado de São Paulo, G1 e UOL).

Fiocruz libera novo lote de vacinas 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), anunciou nesta sexta-feira que entregará  4,1 milhões de doses de vacinas contra a Covid produzidas no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) ao Ministério da Saúde (MS).

As doses serão repassadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e depois distribuídas aos estados e municípios. Só o Rio de Janeiro, sede da produção das vacinas, ficará com 217 mil doses, e o restante segue para o Ministério da Saúde. Também hoje, mais de três milhões de doses da vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, chegaram ao Brasil e também, sábado (26). 

O governo dos Estados Unidos prometeu repassar de graça 80 milhões de vacinas contra o coronavírus aos países que mais precisam, e afirmou que equipes científicas e autoridades legais trabalharão juntas para garantir a entrega rápida

Favela em Desenvolvimento com inscrições abertas para aulas de cinema

A Favela em Desenvolvimento vai inaugurar oficinas de cinema. O processo seletivo já está rolando e as aulas começam na próxima sexta feira, 02/07. Se você tem entre 12 e 17 anos, corra já. Para inscrever-se, basta clicar aqui. E se você está em busca de um preparatório como um pré-vestibular, pré-Enceja, reforço escolar ou oficinas profissionalizantes, a iniciativa também oferece vagas. As inscrições estão abertas para alunos e professores.

Você é ‘cringe’?

Tem um termo novo no vocabulário: “cringe”. Mas não vá pensando que foi moleza não. O termo, que pode ser traduzido como “constrangedor”, “aflitivo”, marcou uma ‘’rinha’’ entre as gerações Z e os millennials. Quer saber se é ‘’cringe’’? Faça o teste

Mas cabe lembrar que…gíria boa ou termo com significado que resume A VIDA é o que nasce nas favelas, periferias e quebradas, seja você “xóven” ou “coroa”. Não tá ligado? 

Se liga nessa matéria que a incrível Maria Morganti clicando aqui.  

Maré de cultura

Notícia boa para quem não abre mão de um bom filme: o Itaú Cultural lançou uma plataforma de streaming com acesso gratuito! No catálogo, 135 títulos de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. Basta ser maior de 18 anos para realizar o cadastro no Itaú Cultural Play. Partiu maratona?

Em clima junino, o veterano Alceu Valença celebra a música nordestina em uma apresentação ao vivo nesta sexta-feira, dia 25 de junho, a partir das 20h, no canal oficial do Teatro Bradesco no Youtube. Perde não, bichinho da gota serena!

Neste sábado, 26 de junho, a Mostra Maré de Música chega à sua segunda edição do ano para esquentar os corações dos que estão com saudades de ouvir um dos ritmos mais tradicionais do território. Os Três Forrozeiros e Juliana Linhares farão mais um show ao vivo, às 19h, pelo Youtube da Redes da Maré, e vocês não podem ficar de fora!

Já está no ar o site do Museu Transgênero de História e Arte, o MUTHA, criado pelo artista e pesquisador trans Ian Habib. Dividida entre os temas Transespécie e Transjardinagem, a primeira exposição coletiva da instituição reúne trabalhos de 56 artistas. #DicaDoMeio

Começa amanhã o Festival Internacional de Curtas no Rio de Janeiro, que neste ano exibe 70 títulos, de documentários a animações, e homenageia a atriz Dira Paes. #DicaDoMeio 

Perdeu o conteúdo da semana? Confira nossos destaques! 

Segunda-feira (21/6)

“A pandemia ainda pode se agravar no Brasil”, diz Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid, ligado à Fiocruz, por Conexão Saúde
Ato nacional mobiliza religiosos e ativistas em memória às mais de 500 mil mortes por Covid-19 nesta segunda-feira, por Redação

Terça-feira (22/6)

“Nossas trajetórias não se resumem à escravidão”, por Fórum Grita Baixada
Mais 20 escolas municipais vão retomar o ensino presencial no Rio, por Redação
Com cortes de verbas, UFRJ pode fechar as portas em outubro, diz reitora Denise Pires de Carvalho; por Edu Carvalho

Quarta (23/6)

Sem oportunidade e acesso, juventude brasileira é marcada por incertezas e frustrações, por Edu Carvalho 
Festival de Cinema de Futebol abre inscrições, por Dani Moura
Prefeitura lança programa Aprendiz Cultural para oferecer renda e formação a jovens cariocas, por Redação

Sexta-feira (25/6)

Morador de Marcílio Dias torna-se referência pelo amor ao audiovisual, por Hélio Euclides
 Acesso à internet ainda é precário na Maré, por Amanda Pinheiro

Um homem aponta o céu. O tolo olha o dedo. O sábio vê a lua. (Provérbio Chinês)

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Os sinais estão por toda parte, o que precisamos é percebê-los e abrirmos o canal para a sincronicidade da vida

Por Marcello Escorel em 25/06/2021 às 15h00

É sempre um desafio escrever uma nova coluna já que desde que iniciei esta jornada tenho me deparado com inúmeras indagações a respeito do meu propósito e do meu engajamento nas questões que abordo. Confesso que a medida em que ia me apropriando deste espaço fui percebendo um grande abismo entre minha vida pessoal e as opiniões por mim veiculadas. Explico: Me dei conta que desde há muitos anos havia estacionado no meu caminho de autoconhecimento. Em diversas ocasiões discorri sobre a necessidade, nos tempos atuais, de cada indivíduo se comprometer com sua própria evolução espiritual sem entregar seu empenho na busca de credos impostos de fora para dentro e sem acreditar cegamente na promessa de salvação pregada por terceiros. Fiz um “mea culpa” acordando para o fato de que eu mesmo pouco estava fazendo para me conectar com minha própria alma, meu próprio espírito e, porque não dizer, com a própria divindade que habita dentro de todos nós. Isso aliado a uma crise familiar que acirrou ainda mais minhas contradições, expondo uma faceta sombria de mim que eu teimava enxergar e enfrentar. Descobri uma grande descompensação em minhas energias, diversos miasmas, obsessores, complexos, seja lá o nome que usemos, que criavam bloqueios e atitudes negativas para impedir que eu seguisse adiante na única busca realmente relevante: procurar o Reino, o Nirvana, o Samadhi, o Atman, ou seja lá o nome que se queira dar a este estado de comunhão com o Universo e suas criaturas. Respirei fundo, deixei de querer resolver racionalmente meu problema e entreguei literalmente a Deus, ao Tempo, aos espíritos protetores e guias meu desejo de retomar o Caminho. Foi aí que comecei a receber diversos convites diretamente relacionados à questão da espiritualidade, tendo, desde então, participado de fóruns e cursos que visam ampliar esses conhecimentos que tenho usado de forma prática no meu dia a dia.

Essa minha confissão é necessária para seguir adiante. Não sei até quando. Até hoje fui inspirado por sinais: um súbito pensamento, uma notícia de jornal, uma música, um sonho, me impulsionavam e tornavam a escrita fluida e fácil. Como agora.

Meu dilema inicial para escolher o tema de hoje é que desde a coluna anterior eu me via numa encruzilhada, talvez ilusória, de querer tratar de questões sociais do momento e ao mesmo tempo falar sobre a emancipação espiritual de todos nós como indivíduos. Meu intuito era falar sobre “sincronicidade”, um fenômeno que trata de acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo sem correlação de causa e efeito, ou ainda, segundo Jung, “uma relação de simultaneidade entre um estado psíquico e uma situação externa que embora não possuam relação aparente ou estabelecida conscientemente podem alterar a compreensão da realidade.” Para ser sincronicidade é preciso que dois ou mais eventos aconteçam simultaneamente, sem relação de causalidade ou lógica de tempo e espaço, e transformem a vida de algum jeito.

Vou dar um exemplo pessoal.

Atualmente estou fazendo um curso virtual de dublagem todas as quintas-feiras. Estava com problemas de áudio porque tanto o microfone da câmera digital quanto o do fone de ouvido eram muito precários. Resolvi investir num fone bluetooth com microfone embutido e entrei todo animado no link da aula. Qual não foi meu desprazer quando o professor reclamou do som que parecia vir do fundo de um poço. Irritado me despedi abruptamente e saí da aula ainda no início. Logo me arrependi de meu arroubo infantil e lembrei-me que o professor, muito tempo antes, havia oferecido me emprestar um microfone profissional que estava encostado em seu estúdio. No dia seguinte, passeando com Jiló, meu vira-lata caramelo, remoía em como fazer para me desculpar da grosseria e ainda por cima aceitar o empréstimo do equipamento. Estava imerso nesses pensamentos quando ouvi uma buzina. Para meu espanto meu professor me acenava de seu carro parado próximo a calçada. Era minha oportunidade de imediatamente pedir desculpas pelo meu comportamento imaturo e, logo depois, ele reiterou a oferta do microfone que estou usando até hoje.

A Sincronicidade é o mecanismo que fundamenta todos os oráculos, desde o Tarô, o I Ching, os Búzios e a própria Astrologia. Desta última podemos afirmar que não são os aspectos planetários que causam os acontecimentos, mas sim que os acontecimentos ocorrem simultaneamente aos aspectos planetários, sendo estes um espelho daqueles.

Queria ir ainda mais a fundo para explicitar o funcionamento da sincronicidade e tive a ideia de perguntar ao I Ching sobre o que falar nesta coluna. O milenar Livro das Mutações é basilar para a cultura e história da China. É um livro de sabedoria respeitado e comentado, entre outros, por Lao Tsé, pai do Taoísmo e por Confúcio. Seu uso oracular é apenas uma faceta secundária. Mais adiante vou comentar a resposta, que segundo a Tradição é fornecida por “seres espirituais”, sobre o que deveria escrever, tendo em vista a encruzilhada entre o fato social e o subjetivo, a busca pessoal de auto-conhecimento e o engajamento político.

Quem se interessar por uma descrição mais detalhada do que é o I Ching recomendo recorrer ao próprio livro, lançado pela editora Pensamento, na tradução do sinólogo Richard Wilhelm e com prefácio do próprio Jung. Nota: para escrever o prefácio o grande psicólogo também consultou o oráculo para saber como o próprio Livro das Mutações gostaria de ser apresentado ao Ocidente.

A resposta do oráculo vem na forma de um hexagrama composto por seis linhas que podem ser inteiras ou partidas. Algumas dessas linhas podem sofrer mutações que desembocam num novo hexagrama.

Eis a resposta:

O AUMENTO

_______

_______X      VENTO

__      __          

__      __

__      __          TROVÃO

_______X

Vento e Trovão: a imagem do aumento. Assim o homem superior: quando vê o bem, o imita. Quando tem falhas, as descarta.

Aqui o I Ching está claramente falando sobre o processo pessoal que tenho vivido e que descrevi ao início da coluna.

As linhas móveis, assinaladas por um X, são aquelas que devem ser analisadas e dizem:

Linha 1 (de baixo para cima) –“ É favorável realizar grandes obras. Sublime boa fortuna. Nenhuma culpa.”

“Quando um homem recebe uma ajuda vinda do Alto deverá fazer uso desse aumento de força para realizar uma obra igualmente grande. Em outras circunstâncias ele não teria força necessária para assumir as responsabilidades implicadas num tal projeto. Libertando-se do egoísmo a grande boa fortuna será alcançada e com isso se estará, assim, isento de culpa.”

Linha 5 – “Se você tem na verdade um coração bondoso, não pergunte. Sublime boa fortuna. A bondade será realmente reconhecida como virtude sua.”

“A verdadeira bondade não é calculista nem se preocupa com gratidão ou mérito, porém age em virtude de uma necessidade interior. Um tal coração verdadeiramente bondoso já se sente recompensado ao ser reconhecido. Assim sua influência benéfica se estende sem impedimentos.”

Trocando em miúdos: o I Ching me informa que protegido pelo Alto, pelos seres espirituais, não só poderei continuar meu aperfeiçoamento pessoal como também poderei ser um meio para que outras pessoas possam usufruir das bençãos que estou recebendo.

O Hexagrama o Aumento, através das linhas móveis desemboca no hexagrama a Desintegração, onde o I Ching, depois de discorrer sobre a questão subjetiva traça um panorama de nosso momento político e social.

A DESINTEGRAÇÃO

_______________

_____         ______ MONTANHA

_____         ______

_____         ______

_____         ______TERRA

_____         ______

Essa é a época do avanço dos inferiores. A atitude correta nessas épocas adversas deve ser deduzida das imagens e seus atributos. O trigrama inferior significa a Terra, cujo atributo é a docilidade e a devoção. O trigrama superior significa a Montanha cujo atributo é a quietude. Não é possível se contrariar essas condições do tempo e por isso não é covardia e sim sabedoria, evitar a ação. Quando o infortúnio esgota suas forças retornam épocas melhores. A maldade do homem inferior volta-se contra ele próprio. Sua casa é destruída. Aqui se manifesta uma lei da natureza. O mal não é nefasto apenas para o bem, mas termina por destruir a si próprio. Pois o mal, vivendo somente da negação não pode subsistir por si mesmo.

Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung

Acesso à internet ainda é precário na Maré

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Por Amanda Pinheiro, em 25/06/2021 às 11h

O acesso à internet, pode parecer que sim, mas ainda é limitado em muitas regiões do Brasil. Apesar de ser algo essencial em muitos lares, sobretudo no atual contexto, muitas pessoas ainda enfrentam dificuldades quando o assunto é conexão. E esse é o caso dos moradores da Maré. 

Segundo o levantamento realizado pelo Censo Maré, da Redes da Maré,  o acesso à internet alcançava 17.515 domicílios, o que corresponde a 36,7% do total. No entanto, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, havia computador com acesso à internet em 56,1% dos domicílios, de acordo com segundo a PNAD de 2013. Deve-se considerar que este alcance já é maior, devido ao crescimento do acesso à internet no país. 

Na Maré, além das empresas locais, apenas a Oi atua com serviço de internet, no qual sofre constantes reclamações dos usuários. A estudante Victoria Farias, de 21 anos, é uma delas e contou que enfrenta instabilidades de conexão diariamente e dificuldade de resolução. “ É uma situação bem chata pois não podemos confiar na rede, planejar algo e saber que essa instabilidade pode nos atrapalhar ou atrasar. Fiz a pesquisa por outras operadoras mas nenhuma fazia instalação na favela e, na época, também não tinha a rede UniNorte, então optei pela contratação da Oi, porque não havia opção.”

A moça já ficou meses sem conseguir acesso à internet. “Ultimamente, o atendimento tem sido rápido, porque costumam resolver em três dias úteis no máximo. Mas há alguns anos, fiquei quase dois meses sem internet, pois eles não vinham consertar. Na época, não usava para trabalhar então foi ruim pela questão de entretenimento mesmo”,  afirmou a estudante

Gizele Martins, jornalista e moradora da Maré, em publicação sobre a limitação de conectividade no território

Procurada pelo Maré de Notícias, a operadora Oi não retornou o contato feito pela equipe da reportagem. Uma alternativa para os moradores é a internet local, mas que não está livre  de problemas, mas são mais fáceis de resolver.

A falta de acesso à internet, sobretudo com o aumento do trabalho, estudos e cursos de maneira remota, evidencia também outro tipo de desigualdade social e um olhar mais atento do poder público sobre este problema de acesso e exclusão. Uma vez que, além dos estudos e crescimento profissional, os moradores não têm direito ao entretenimento com os streamings que necessitam de conexão. 

Outra estudante que também enfrenta o problema é Michele Gomes, de 22 anos.  “ Ter uma internet instável é ruim porque me atrapalha de estudar. Eu faço curso de espanhol e pré-vestibular remotamente. Já perdi aulas, tive que correr atrás para recuperar”, relata a moça que mesmo usando internet local já ficou dois dias sem acesso. “ Eu fiz a contratação com a internet local porque o serviço da Oi, que eu tinha antes, era horrível. Eles alegam que os megas (velocidade de internet) contratados não são possíveis aqui. Apesar de ser instável, essa internet até funciona bem e quando tenho problemas eles resolvem rápido, concluiu’’. 


Morador de Marcílio Dias torna-se referência pelo amor ao audiovisual

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Nicolas Pereira mostra através das lentes o território 

Por Hélio Euclides, em 25/06/2021 às 11h. Editado por Edu Carvalho

“Eu amo o meu trabalho, principalmente quando estou à frente de um projeto, pois consigo gerar emprego, abrir portas e oportunidades para amigos da comunidade”, esse é sentimento de Nicolas Pereira, mais conhecido como Nic Pereira, diretor executivo da produtora Beco Diagonal, que tem na bagagem o trabalho em mais de 100 videoclipes. Toda essa trajetória começou pelo desejo de mostrar o mundo pelas lentes de uma câmera, com a fotografia.

Ao lançar um clipe, o foco é o artista, que recebe muitos comentários pela qualidade do trabalho final. Essa qualidade é fruto de um trabalho que não é construído apenas por uma pessoa. Geralmente há um diretor, um roteirista, um produtor, um assistente de produção, especialistas em som, um iluminador, vários cinegrafistas, entre outros. A vida profissional da música de Pereira começou quando amigos que já trabalhavam nessa área o chamaram para fotografar um vídeo clipe. Ele então ficou apaixonado por esse meio. Foi se aperfeiçoando, e começou a trabalhar como fotografo still, que é a pessoa que faz as fotos das capas e das plataformas digitais.

Foto: arquivo pessoal

Da vida militar à fotografia

Em 2014, Pereira entrou para a Aeronáutica com o sonho de virar sargento. Os anos foram passando, mas quando viajava com a família, curtia fotografar paisagem. Também captava imagens na igreja. “Depois conheci um amigo que me influenciou bastante. Só em 2016, quando ganhei uma câmera de minha mãe, voltei a me envolver com a fotografia. Comecei a fazer vídeo de viagem. Dois anos depois já não estava mais satisfeito com a vida militar e fui correr atrás do sonho, comprei uma câmera para fazer umas fotos do meu aniversário. Quando a máquina chegou, já me convidaram para fotografa uma festa, mesmo sem experiência. Eu vi que poderia ser uma forma de conseguir uma renda”, diz.

A futura profissão batia na porta, então precisava aprender mais. ‘’Fiz curso online e passava a noite no YouTube’’. Ele conta que começou a se aprofundar e conheceu a parte de vídeo e virou cineasta ou, como ele gosta de ser chamado, filmmaker. “Ser operador de câmera sempre foi o meu sonho. É o que faço atualmente, mas não abandonei a fotografia e ainda dirijo os meus projetos autorais, e vídeo clipe de diversos artistas”, comenta. Seu envolvimento com a música hoje em dia é pelo audiovisual, onde criou conteúdo visual de diversos artistas.

A maior alegria de Pereira é levar projetos para a favela e conseguir gerar um impacto social em Marcílio Dias e outras favelas. “As crianças ficam abismadas quando veem os artistas interagindo com a comunidade. Percebem o outro lado da vida, com perspectivas. Um exemplo é certa vez que recebi pequenos vídeos de crianças imitando a gente como se fosse uma gravação de um clipe, uns faziam o papel dos cinegrafistas e outras dos artistas. Por isso, quero trazer um workshop de fotografia para criançada entender e enxergar que isso pode trazer uma renda e uma independência financeira”, expõe. 

A experiência contribuiu para o crescimento profissional do Nic Pereira que vê na sua vivência experiências que o fizeram crescer, formou o seu caráter e que ensinaram a mostrar todos os caminhos que ele devia seguir. “Não importa o quão delicado e frágil seja uma situação, o que me motiva todos os dias a acordar, e tentar sempre dar o meu melhor é a esperança de proporcionar um futuro melhor para minha família e mostrar para os meus amigos que é possível vencer sem trilhar caminhos tortos”, conclui.

Para quem desejar conhecer o trabalho de Nic Pereira, assista abaixo um dos vídeos Você vê mais clicando no canal: