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Política de segurança pública do Estado não garante direitos para todos

II Congresso Falando Sobre segurança pública pauta como as pessoas negras são historicamente mais afetadas pela violência do Estado

O II Congresso Falando Sobre Segurança Pública na Maré começou na manhã desta quarta-feira (6) no Centro de Arte da Maré, na Nova Holanda. O evento que marca a Semana de Direitos Humanos da Maré traz debates que permeiam a cidadania colocando os moradores no centro dos diálogos. Movimentos, organizações e estudantes também apresentam artigos, dados e pesquisas com temáticas que permeiam a segurança pública.

No primeiro dia de congresso a mesa de abertura e a conversa do território de partilha dialogam sobre a política de segurança pública e as ações na favela. Os debates mostram também a relação com os direitos dos cidadãos. 

“A política pública surge no navio negreiro”

Denilson Araujo, doutor em Geografia e professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, explica que “a política pública surge no navio negreiro” ele contextualiza que a partir daquele momento as pessoas negras passaram a ser vistas pelos colonizadores como “problema social que precisa ser contido, confinado e colocado inúmeros obstáculos em sua trajetória, porque simplesmente a presença negra em espaços majoritariamente da branquitude gera medo”. O professor diz ainda que “a cidade não nasceu para os negros como sujeitos de direitos no Brasil”. 

Thiago Torres, youtuber e estudante de sociologia na Universidade de São Paulo (USP), conhecido como Chavoso da USP, reforça a fala do professor explicando a fundação da polícia militar do estado do Rio de Janeiro (PMERJ) em 1809. Ele ressalta que o objetivo foi “evitar que as pessoas negras se revoltassem assim como aconteceu no Haiti” e que a instituição ainda mostra seus interesses marcados em seus símbolos. Ele exemplifica mostrando o brasão da PMERJ. Nele,  a realeza está representada pela coroa, e a elite simbolizada pela cana de açúcar e o café. 

Chavoso da USP defende que não há como ter segurança pública por parte do Estado. Para ele: “A gente não pode esperar que o Estado que assassina, massacra, oprime e explora a gente, faça a nossa segurança. Ele nunca vai fazer. […] O Estado só serve para isso, proteger a elite, o capitalismo, controlar o trabalhador e exterminar negros e indígenas”. 

Garantir a cidadania deveria ser mais importante

Uma unanimidade nas mesas é a importância de garantir a cidadania ao invés de violência, causada pelas ações policiais. Os investimentos direcionados pelo Estado valorizam as ações policiais violentas com uso da força, enquanto os investimentos em educação e saúde não têm a devida atenção e proporção. É o que explica a deputada estadual Renata Souza (PSOL), que acrescenta se tratar de uma necropolítica, termo criado pelo filósofo camaronês Achile Mbembe. Renata explica que “’se não mata, deixa morrer’ e aqui na favela a gente vive muito isso, se não matou na ponta do fuzil, se deixa morrer sem saneamento básico, sem acesso à saúde, deixa morrer com a fome, a miséria e com a extrema pobreza”, explica.

Para o advogado Guilherme Pimentel, que ocupou o cargo de ouvidor geral da defensoria pública por dois mandatos, “Quando a gente olha a violência e o extermínio enfrentado no Brasil, a gente vê que é uma questão de prioridade política” ele explica que “há um sucateamento das políticas públicas de acesso à direitos, mas os tiroteios não deixam de acontecer por falta de munição”. 

Participaram também das mesas deste primeiro dia Eliana Silva, diretora da Redes da Maré, o cientista político Luiz Eduardo Soares, a mobilizadora Bruna Silva, mãe de Marcus Vinicius, assassinado em 2018 e a promotora Eliane de Lima. Após os debates houve também a exibição da série “Amar é para os fortes”. 

O congresso continua

Ainda tem programação rolando no 2º Congresso falando sobre segurança pública na Maré, a programação no Centro de Artes da Maré vai até esta sexta-feira (8/12). Neste dia também será apresentada a carta para a Segurança Pública da Maré que está sendo elaborada coletivamente ao decorrer do evento. A colaboração de todas as pessoas é bem-vinda! No sábado a 2º Feira dos Direitos Humanos na Maré encerra a semana de eventos. 

Jovens negros e de favelas na COP28

Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) acontece em Dubai até 12 de dezembro

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP 28), que é realizada anualmente, começou no dia 30 de novembro e vai até 12 de dezembro em Dubai.

É fundamental, porém, envolver aqueles e aquelas que sofrem diretamente com os impactos dos desequilíbrios climáticos. Para isso jovens de favelas do Rio de Janeiro se mobilizaram para participar dessa edição da COP28, marcando presença em painéis estratégicos, criando incidência e estratégias para atuação nos territórios. Kamila Camillo, fotógrafa popular, ativista social e comunicadora, moradora da Maré; Raull Santiago, ativista social do CPX do Alemão e confundador do Coletivo Papo Reto; Thuane Nascimento, diretora executiva do PerifaConnection e Gabriela Santos, geógrafa e ativista social do CPX do Alemão são alguns desses nomes.

“Nós pessoas de periferia, do Sul Global, do Brasil, mulheres, pessoas negras, somos as pessoas que mais sofremos com as mudanças climáticas. E também as que temos as melhores tecnologias sociais para lutar contra a crise ambiental, por isso temos que estar nesses espaços. Na COP acompanhamos as negociações, os espaços de participação social, fazemos falas, conectando com uma rede de parlamentares, líderes, executivos. Então nossa participação é muito especial para que esse espaço reflita a realidade das pessoas que tem que opinar sobre o que ta acontecendo no mundo”, declarou Thuane nas redes sociais do Perifa e do CreatorsAcademy Brasil, canal que estabelece conexões entre criadores de conteúdo e os diversos biomas encontrados no Brasil.

Sobre a COP e a participação do Brasil na conferência:

De acordo com o que vem sendo divulgado por especialistas o objetivo central da conferência deste ano é a elaboração e compromisso entre os países de que ações concretas ocorram, em comparação com a COP 27, quando muitas negociações ficaram ainda no papel.

O Brasil é indispensável nas discussões sobre o clima devido a importância da Floresta Amazônica e também pelas iniciativas que contribuem para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu uma posição conjunta dos países que compõem a Amazônia, na COP 28. De acordo com a Agência Brasil, a intenção é criar uma política unitária para mostrar a postura correta em defesa dos países que mantêm importantes áreas de florestas em pé na América do Sul. Além do Brasil, a floresta amazônica está presente em parte dos territórios da Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. 

Semana dos Direitos Humanos da Maré tem diálogo com crianças e adolescentes

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2º Congresso Falando sobre Segurança Pública com crianças e adolescentes da Maré tem diálogo e apresentação de propostas de crianças e adolescentes mareenses

“Ontem teve operação e no meu bloco um homem morreu. Era amigo do meu tio. Muita gente assustada, porque os poliça entraram no meu bloco.” Essa foi uma carta de Walace, aluno do Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Professor Moacyr de Góes, que fica na Nova Holanda. Essa foi uma das atividades apresentadas no II Congresso Falando sobre Segurança Pública com Crianças e Adolescentes da Maré, que faz parte da Semana dos Direitos Humanos.

As atividades foram realizadas na recém reinaugurada Areninha Cultural Herbert Vianna, que virou um espaço de exposição de trabalhos, de integração entre crianças e adolescentes de diferentes áreas do conjunto de favelas, de troca de conhecimentos e experiências, de atividades culturais, de expressão política e de exercício da cidadania. O objetivo do encontro foi discutir segurança pública com um foco especial nas perspectivas das crianças e adolescentes da Maré.

Além das cartas que representavam os trabalhos das crianças na primeira infância, os alunos do EDI Moacyr de Góes ainda apresentaram uma maquete e uma árvore de direitos que pedia balanço, humor, doces, paz, música, pula-pula, pipoca, escorrega, bola, piscina, pique, árvore, sorvete e caveirão do bem. “Elas pedem mais políticas públicas na primeira infância. Elas desde cedo estão construindo esse olhar sobre a política. É muito bom ver a particularidade deles, da visão dos problemas do território e do pedido de direito de brincar”, comenta Ingrid White, diretora, que levou crianças de 5 a 6 anos, da pré-escola II. 

A segunda parte do congresso contou com apresentação dos trabalhos das crianças e adolescentes. “Muito bom elas terem a consciência que os políticos precisam cuidar da Maré”, conta Solange dos Santos, moradora do Parque Maré, que no dia anterior também participou da Caminhada Maré a Céu Aberto. Josivânia da Silva, moradora da Nova Holanda também participou do evento. “Importante elas mostrarem o que vivem diariamente na favela, se expressando e colocando para fora, como em um dia de operação”, manifesta. 

A professora Adelaide Resende, tecedora da Redes da Maré, destacou a importância de ouvirmos mais as crianças. “Não podemos tirar o direito de fala delas, de mostrar suas ideias e que incomodam com a violência. Elas falam da própria vida e da ausência do Estado. É preciso entender que são crianças, adolescentes e jovens que tem potência”, diz. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no Artigo 3º relata que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral. Assegurando-se todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 

Mais direito e menos preconceito

Estudantes do Ciep Samora Machel, do Preparatório Redes da Maré, com adolescentes da Nova Holanda e Vila dos Pinheiros, somado a alunos do Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, e das escolas municipais Professor Josué de Castro e Olimpíadas Rio 2016, participaram apresentando trabalhos e reflexões. “Muito legal dar a palavra às crianças e mostrar que querem um lugar seguro para morar e estudar”, reflete Andrew Felipe Olegário, de 14 anos, aluno da EM Olimpíadas Rio 2016. 

As crianças do Skate da Areninha mostraram que não fazem manobras apenas na prancha de rodinhas, mas também com a caneta. Eles escreveram o livro Maré que Queremos, que fala dos anseios, como um melhor tratamento da favela por meio do poder público. A tarde contou ainda com crianças do Clube de Leitura, da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto. Elas escreveram um livro só para o Congresso, que traz os direitos, como se expressar, brincar, estudar e o de ir e vir. “Pesquisamos sobre segurança pública, depois colocamos no papel os nossos direitos e fizemos cartazes sobre o que sentimos em dia de operação policial”, resume Francisco Guilherme, de 12 anos, morador do Parque União.Ao final ocorreu o cortejo pelo direito à segurança pública na Maré em torno da areninha, com direito a faixa, cartazes e crianças do projeto Gigantes da Penha, que se apresentaram com pernas de pau. Todas as crianças cantavam a música criada pelo projeto Nenhum a Menos, intitulada Basta de Violência. Camila Bastos, pesquisadora e coordenadora do projeto De Olho na Maré avalia como positivo o encontro. “Demos continuidade ao trabalho da edição do ano passado, com participação de escolas e projetos sociais. O objetivo é que elas pensem segurança pública, se expressando e ocupando o território para pedir um basta da violência”, conclui.

Série “Amar É Para Os Fortes” será exibida gratuitamente na Maré

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Exibição da série faz parte da programação da Semana dos Direitos Humanos na Maré

Em parceria com a Redes da Maré, a série “Amar É Para Os Fortes” será exibida gratuitamente, nesta quarta-feira (6), às 16h, no Centro de Artes da Maré (CAM). A exibição faz parte da programação da Semana dos Direitos Humanos realizada pela organização.

O objetivo é ampliar a discussão sobre a violência das operações policiais em favelas do Rio de Janeiro e sensibilizar para pautas de direitos humanos.

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A série, que estreou no último dia 17 de novembro na Amazon Prime Video, apresenta a saga de duas mulheres negras que têm suas vidas transformadas no Dia das Mães. Rita (Tatiana Tiburcio) perde seu filho de 11 anos, Sushi (João Tiburcio), durante uma operação policial na Maré. Já Edna (Mariana Nunes) é mãe de Digão (Maicon Rodrigues), o oficial que assassinou a criança. Em busca de justiça e redenção, ambas enfrentarão a corrupção e a morosidade do sistema judiciário.

Das pistas de atletismo da Maré para solo estadunidense

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A trajetória do atleta mareense de 22 anos que, por meio da corrida, pôde voar.

 Ana Lourdes Grossi(*)

         Brilho nos olhos e um sorriso orgulhoso podiam ser logo percebidos enquanto Reinaldo Rodrigues contava sobre o sonho que vive hoje nos Estados Unidos. O jovem atleta de pele negra retinta e cabelo black power nasceu e foi criado na Vila do Pinheiro, na Maré, onde iniciou sua caminhada nos esportes ainda garoto. Na época, não tinha nenhuma pista de atletismo das oportunidades que viriam a partir disso. Não ousava sonhar que, com apenas 20 anos, estaria dando adeus ao que conhecia para viver a aventura de morar em outro país.

         Teve uma infância feliz, marcada por uma família unida. No Ensino Fundamental, na Maré, estudou no Ciep Ministro Gustavo Capanema e, em paralelo, começou a buscar horizontes na vida de atleta. Começou no futebol, mas devido ao projeto social “Forças no Esporte” do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, na Penha, migrou para o atletismo. Começou a se destacar ainda jovem. Através de suas performances, ganhou oportunidades que, pouco a pouco, ajudaram-no a atingir seu maior objetivo: morar fora do Brasil por meio do esporte.

         Aos 12 anos, já tinha plena consciência do sonho que queria buscar. Durante o ano seguinte, ao fim de seu ensino médio, dedicou-se inteiramente para as provas e burocracias necessárias para ingressar em uma universidade no exterior. Com a combinação de bons resultados acadêmicos e esportivos, conseguiu bolsa para estudar na Universidade do Arizona, localizada em Tucson, no estado do Arizona, nos Estados Unidos. Sobre o que vive hoje, demonstrou gratidão. “Foi algo muito bom que aconteceu na minha vida”, contou.

         Para tornar seus planos reais, foram necessários esforço e mobilização coletiva. Durante dois meses, trabalhou para pagar as taxas das avaliações, todas em dólar, e nas horas que passava fora do trabalho, estudava por si só. Ainda que tenha tido bolsa numa escola particular onde estudou o Ensino Médio, não foi suficiente para garantir sua aprovação. O ingresso em universidades do exterior não era um foco do colégio onde se formou. Outro desafio que enfrentou foi ter que aprender inglês sozinho por não ter condições financeiras para arcar com um curso. A internet se tornou sua maior aliada neste processo. 

“A gente não tinha tanto poder financeiro. Então eu não podia ficar pedindo a minha mãe e meu pai para pagar um curso, por exemplo ou então eu tive que me virar mesmo, de verdade.”

Reinaldo Rodrigues, atleta

A aprovação veio e, com ela, a felicidade e o orgulho desta conquista. Mas a batalha ainda não havia terminado. Ainda seria preciso conseguir o visto de estudante e, depois dele, custear o valor da passagem. Para isso, contaram com a ajuda de amigos, parentes e qualquer pessoa que se mobilizasse pela causa deste jovem atleta sonhador e obstinado.

Além das competições pela universidade, Reinaldo é aluno do curso de “Sports Management” (Gestão Esportiva na tradução livre). Rodrigues visa construir, paralelamente às suas performances de atletismo, carreira na área e pensa na possibilidade de trabalhar com marcas grandes e influentes no cenário do mercado esportivo.

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Os contrastes na vida de Reinaldo

Reinaldo teve acesso a diferentes realidades durante a sua vida. Viu as dificuldades financeiras enfrentadas por seus pais, Joelma Nobre e Reinaldo de Oliveira, e o contexto social de muitos moradores das periferias cariocas. Mas nos anos em que estudou em escola particular, na qual ele tinha bolsa integral em virtude do esporte, esteve em um ambiente diferente do que estava acostumado, formado por pessoas de estilos de vida diferentes.

Essa vivência facilitou a adaptação no país estrangeiro, foi ela que o ensinou a se adaptar a diferentes situações e pessoas. Segundo o atleta, ser mareense foi fundamental neste processo. “Hoje, eu agradeço por ter sido nascido e criado na Maré, porque me preparou para muitas coisas que eu vi aqui fora”. E completou, ainda: “Eu aprendi muitas coisas. Quando a gente cresce numa comunidade, na favela, a gente vê diversas coisas que nos deixam preparados pro mundo de uma forma geral.”

Entre todos os choques culturais que sentiu, o jovem de 22 anos ressaltou o estranhamento agradável de ter acesso a produtos que, no Brasil, não conseguia. “Eu tinha que salvar dinheiro durante uns dez meses no Brasil para poder comprar um tênis. Aqui não. Aqui é mais acessível”, disse. Também recebeu artigos da universidade, patrocinada pela Nike. Além dos artigos de valor material, estudar e competir pela Universidade do Arizona possibilitou que ele fizesse viagens para diversos países, tanto para competir, quanto para visitar. Até agora, Reinaldo passou por Costa Rica, Bahamas, Porto Rico, Portugal, Espanha e Inglaterra.

 “O povo da Maré, o povo favelado, de comunidade, tem muita força e a gente tem muito talento para fazer muitas coisas, né?”

Reinaldo Rodrigues, atleta

Família

O carinho e consideração que tem pela família são notáveis, assim como a preocupação em diversas esferas. Reinaldo falou sobre o desejo de poder dar para seus pais  uma vida mais confortável financeiramente. Também contou sobre estratégias que usa para se manter próximo a eles, mesmo a distância.  Por meio das redes sociais e das ligações de vídeo ele acompanha o cotidiano de seus parentes e amigos. Com sua mãe, conversa todos os dias.

Joelma faz parte do grupo de mães que lutam pelos sonhos dos filhos como se fossem os seus e comemora as conquistas deles da mesma maneira. Contou sobre a fase que seu primogênito vive com um tom de orgulho presente na voz. Com um largo sorriso, mostrou as medalhas que decoram a casa onde vive na Maré com o marido e seus outros dois filhos, Ronald de Oliveira e Jeanny de Oliveira, também atletas. Acostumou-se com a rotina de vibrar por seus filhos não importa a distância e, quando precisou batalhar por eles, não hesitou em fazê-lo. 

“Eu carrego muita alegria na minha no meu peito de ver que eu encaminhei e eles [filhos] acreditaram naquilo que eu tava os guiando, né? E eles conseguiram. Conquistaram e ainda tão conquistando”

Joelma Nobre, mãe de Reinaldo

Hoje, Ronald joga futebol na base do Cruzeiro e, por isso, mora em Belo Horizonte. Jeanny, a filha do meio, segue os passos do irmão no atletismo. A mãe coruja se reveza entre as competições dos três. Carrega em seu peito o espaço de vibrar e lutar pelos três, independentemente do lugar. Joelma batalhou pela passagem de avião de sua filha que, no ano passado, representou  o Rio de Janeiro em uma competição de atletismo em Aracajú(SE). A passagem deveria ter sido paga pelo governo estadual do Rio. Com a repercussão do caso na mídia, a ida de Jeanny e de seu treinador foi viabilizada pelo hotel onde Joelma trabalha como camareira.

Neste final de ano, o visto de Joelma para ir aos Estados Unidos foi aprovado. A notícia foi recebida com muita alegria por ela e seu primogênito. Os dois já fazem planos para a sua viagem, quando irão se reencontrar depois de mais de um ano longe.

Representatividade

Muitas pessoas do ciclo social de Reinaldo se inspiram em sua trajetória. Para ele, esse é um motivo de orgulho e felicidade. “Ele se tornou uma referência para os primos e para as tias. Mostrou para a gente que a gente é capaz, que a gente pode conseguir o que a gente quiser. Se a gente não desistir, a gente consegue”, relatou sua mãe. 

Os passos que percorreu com tanto suor podem servir de motivação para outros jovens que, assim como ele, sonham alto. Servir de exemplo virou um ânimo para o atleta, uma indicação de que segue o caminho certo. Se pudesse lhes dar algum conselho, ele diria para tentarem caminhos que fujam do comum.  “O conselho que eu daria é para tentar coisas novas, caminhos diferentes que não sejam tão clichês, que a gente pode alcançar coisas muito muito grandes.”

(*) Ana Lourdes Grossi é aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.

Rene Silva e Flavia Oliveira são homenageados pela deputada Renata Souza

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Renata Souza entrega Medalha Tiradentes a Rene Silva e Prêmio Marielle Franco a Flávia Oliveira. Homenagens aos jornalistas pretos será na sede do Voz das Comunidades nesta segunda-feira (4)

Nesta segunda-feira (4/12), a mareense e deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) vai entregar a principal honraria do estado, a Medalha Tiradentes, ao jornalista e ativista social Rene Silva, 29 anos, fundador do jornal Voz das Comunidades. Renata também entregará o Prêmio Marielle Franco à jornalista Flávia Oliveira, pela relevância do seu trabalho em defesa dos direitos humanos e no combate às desigualdades e às opressões de gênero e de raça. A cerimônia será realizada às 18h, na sede do Voz das Comunidades, Rua Engenheiro Manoel Segurado, 228, no CPX do Alemão.


“Entregar essa homenagem ao Rene é reconhecer, valorizar e fortalecer uma luta de uma vida inteira por direitos, em especial pelo direito à voz, num contexto de silenciamentos forçados do povo preto e favelado. Rene ergueu a voz de seu povo, contribuiu em um processo crescente de tomada para a favela o protagonismo na narrativa de sua própria história, tirou essa voz coletiva do limbo onde o racismo estrutural a manteve por tempo inaceitável. Ele mostrou na prática a forte conexão o direito à comunicação e a possibilidade de garantia dos demais direitos, inclusive à vida. Da mesma forma, homenagear Flávia Oliveira é reconhecer valorizar e reconhecer a diferença que essa profissional faz no jornalismo brasileiro, no firme posicionamento ético em defesa da vida e direitos da população negra, pobre e favelada, das mulheres, de LGBTQIAPN +”, declarou Renata Souza sobre algumas das muitas razões que a levaram a homenagear Rene e Flávia.


“Quando recebi a notícia, Renata me ligou e me contou que receberia a principal honraria do estado, fiquei muito emocionado. É uma honraria que pouquíssimas pessoas recebem. Convidei pessoas muito especiais para fazerem parte desse momento muito especial, pessoas que fizeram parte da minha vida desde os tempos do jornal na escola. Esse momento vai ficar para a eternidade”, disse o jornalista.


“Uma honra absoluta receber esse prêmio, por tudo que Marielle Franco representa para a luta das mulheres negras, para a luta do povo preto, para a luta do povo favela, para a luta de quem efetivamente assume o protagonismo de defender as minorias, num país forjado pela desigualdade como o Brasil. Tem um orgulho e alegria adicionais por a homenagem vir da deputada Renata Souza, que eu conheço muito antes de ela se tornar a parlamentar ativa e vigorosa que ela se tornou; por a entrega desse prêmio acontecer na sede do Voz da Comunidade, em cerimônia de celebração e reconhecimento da relevância do Rene Silva, um jovem ativista, comunicador popular, jornalista, que eu também conheço e acompanho há mais de década e a quem admiro intensamente pela coragem e pelo compromisso com a própria comunidade; por essa cerimônia acontecer no Alemão, por deslocar o espaço de poder, de reconhecimento do poder público para o Complexo do Alemão, o que corôa todo o significado dessa homenagem, dessa representação. Muito honrada!”, disse Flávia Oliveira, jornalista, comentarista na GloboNews, colunista no jornal O Globo e na rádio CBN.

A entrega das homenagens será transmitida ao vivo pelo canal do Youtube do Voz das Comunidades.