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Caravana Carioca de Férias

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Caravana Carioca de Férias começa suas atividades no dia 7 de janeiro e vai aportar em 11 pontos do município. Iniciativa atingirá mais de 50 mil crianças e jovens e tem a parceria do Sesc Rio.

Por: Assessoria de Comunicação Social da Secretaria Municipal de Educação

A garotada do Rio vai viver uma temporada inédita de atividades no recesso escolar. Vem aí a Caravana Carioca de Férias, uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e o Sesc Rio que levará, de forma gratuita, diversão, esporte, lazer, atividades lúdicas e educativas para crianças e adolescentes a 11 territórios da cidade, entre os dias 7 e 31 de janeiro.

A iniciativa vai atingir mais de 50 mil crianças e jovens. Dos 11 territórios da Caravana, dois serão fixos e darão atendimento durante todo o período: a Arena 3 do Parque Olímpico e o Parque Radical de Deodoro. Para melhor atender a criançada e direcionar as atividades, foram criadas três faixas etárias: de 5 a 8 anos; 9 a 11 anos e de 12 a 15 anos. As inscrições serão feitas de forma presencial e on-line, dependendo da parada da Caravana.

O comboio faz sua estreia no dia 7 de janeiro, no Planetário da Cidade, na Gávea. Depois, a trupe segue para a Vila Olímpica do Complexo do Alemão (10/1); Vila Olímpica da Ilha do Governador (13/1); Vila Olímpica da Maré (16/01); Vila Olímpica da Gamboa (19/1); Vila Olímpica de Honório Gurgel (22/01); Vila Olímpica de Pedra de Guaratiba (25/1); Vila Olímpica de Santa Cruz  (29/01); Centro Esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande (31/1).

A Caravana Carioca de Férias vai envolver diferentes órgãos e secretarias da Prefeitura. Participam do projeto as secretarias de Educação; Cultura, Assistência Social e Direitos Humanos, Saúde, Conservação e Meio Ambiente; e as subsecretarias de Esportes e Lazer, Legado Olímpico e Bem-estar Animal; a Comlurb, o Planetário, a Guarda Municipal e a Defesa Civil, entre outros. O SESC Rio estará presente em todas as paradas e nos pontos fixos. Por dia, a Caravana oferecerá cinco horas de atividades com desjejum e lanche final.

Veja abaixo como fazer as inscrições em janeiro de 2019

Dia 07, Planetário da Gávea, às 9h – Inscrição on-line dias 3, 4, 5 e 6.

Dia 10, Vila Olímpica do Complexo do Alemão – Inscrição presencial dias 3, 4, 7, 8 e 9.

Dia 13, Vila Olímpica da Ilha do Governador – Inscrição presencial dias 7, 8, 9, 10 e 11.

Dia 16, Vila Olímpica da Maré – Inscrição presencial dias 9, 10, 11, 14 e 15.

Dia 19, Vila Olímpica da Gamboa – Inscrição presencial dias 14,15, 16, 17 e 18.

Dia 22, Vila Olímpica de Honório Gurgel – Inscrição presencial dias 15,16,17,18 e 21.

Dia 25, Vila Olímpica de Pedra de Guaratiba – Inscrição presencial dias 18, 21, 22, 23 e 24.

Dia 29, Vila olímpica de Santa Cruz – Inscrição presencial dias 22, 23, 24, 25 e 28.

Dia 31, Vila Olímpica de Campo Grande (Centro Esportivo Miécimo da Silva) – Inscrição presencial dias 24, 25, 28, 29 e 30.

Para mais informações, acesse o site do Caranava Carioca de Férias.

Confirmação da matrícula para quem se inscreveu na primeira fase termina terça, 8

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Em 07/01/2019

Por: Hélio Euclides (com informações da Ascom da Seeduc)

Termina nesta terça-feira, 8, o prazo de confirmação de matrículas na Rede Estadual de Ensino. O aluno que se inscreveu na 1ª fase de pré-matrículas no site Matrícula Fácil deve comparecer à escola na qual foi alocado e apresentar a documentação. Cerca de 234 mil inscrições para o ano letivo de 2019 foram feitas pela internet. A consulta dos nomes dos alunos alocados está disponível no site Matrícula Fácil (www.matriculafacil.rj.gov.br) e no portal da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), no endereço www.rj.gov.br/web/seeduc.

Os documentos necessários para confirmação de matrícula são: certidão de nascimento ou casamento; carteira de identidade; CPF; declaração da última unidade de ensino em que estudou, constando a série para a qual o aluno está habilitado; histórico escolar; carteira de identidade e CPF do responsável legal, no caso de menor de 18 anos; laudo comprobatório de deficiências declaradas (se for o caso), na forma prevista no § 3º, do art.18, da resolução Seeduc Nº 5674, de 2018; e comprovante de residência. Tudo com cópia e acompanhado de duas fotos 3×4.

Vagas na Maré

Ainda há vagas para o ensino médio para o Ciep Professor César Pernetta e para o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes. Este último para o 1º e 2º ano do ensino integral técnico em administração com ênfase em empreendedorismo. Nos dias 15 e 16 de janeiro, o site Matrícula Fácil estará disponível exclusivamente para os alunos que participaram da 1ª fase e não foram alocados nas escolas que indicaram. Para os candidatos que perderam o prazo de inscrição ou aqueles que foram alocados, só que não confirmaram a matrícula, o período de inscrição pela internet será de 17 a 18 de janeiro. O ano letivo na rede pública estadual de ensino começa no dia 6 de fevereiro.

Para mais informações, ligue: 2380-9021/98496-0522

Mulheres mareenses, precisamos conversar sobre nossas lutas!

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Racismo e desigualdades de classe são questões comuns a mulheres da América Latina:  as percepções de uma comunicadora popular da Maré sobre o ELLA – 4º Encontro de Mulheres da América Latina

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Jéssica Pires

Dos meus 27 anos, todos eles eu vivi tendo como referência as mulheres da Maré. Da minha mãe à Marielle Franco. Faço parte de uma Produtora de Comunicação daqui também, a AMaréVê. A Produtora é formada por quatro jovens mulheres negras da Maré e trabalhamos com comunicação, dando outros significados às narrativas mal construídas sobre o nosso território. E, no fim de 2018, fui convidada para participar de um Encontro de Mulheres da América Latina, o ELLA.
O Encontro aconteceu na cidade de La Plata, que fica a 56 km de Buenos Aires, capital da Argentina. Os primeiros habitantes de La Plata foram pedreiros italianos, que imigraram para a região para construir os edifícios da cidade. De acordo com dados divulgados pelo Jornal EL País, a Argentina, atualmente, possui apenas 3% da população negra, e percebemos isso nas ruas de La Plata. Um cenário completamente diferente para nós.

O ELLA aconteceu de 7 a 10 de dezembro, na Faculdade de Humanidades da Universidade de La Plata. Mais de mil mulheres de cada canto do continente ocuparam a Universidade, consequentemente frequentada, em sua maioria, por pessoas brancas, para discutir pautas sobre os direitos das mulheres. Foram discutidos violência, trabalho, maternidade, políticas públicas, sexualidade, comunicação e outros temas entre negras, indígenas, brancas, gordas, magras, lésbicas, transexuais, travestis, ciganas, católicas, de matrizes africanas, evangélicas, campesinas, periféricas, urbanas, com deficiência, encarceradas e muitas outras. Uma diversidade enorme. Isso, sim, nos lembrou a diversidade da nossa Maré.

Essa foi a quarta edição do Encontro. Fomos em uma caravana, eu e Suzane Santos, comunicadora popular da Maré e também uma das integrantes da AMaréVê, com mais 60 mulheres do Rio de Janeiro e São Paulo. A caravana levou cerca de 50 horas para percorrer os mais de 2.500 km entre o Rio e La Plata (só essa experiência já valeria ser compartilhada com vocês!).

A Argentina vive um momento político conturbado, com o retorno do neoliberalismo, uma proposta de governo que diminui a intervenção do Estado na economia. E as mulheres têm exercido um papel muito importante e inspirador na luta pela garantia de direitos na região. Esse foi um dos motivos de o país ter sido escolhido para essa edição do ELLA, de acordo com as organizadoras. O curioso foi irmos até lá, para perceber que muitas das questões das mulheres negras, indígenas e transexuais dos países da América Latina são parecidas a das Mulheres do Brasil e da Maré. E é sobre isso que preciso falar aqui.

Segundo informações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), a cada 10 homicídios de mulheres cometidos nos países da América Latina e do Caribe, quatro ocorreram no Brasil. Em números registrados, isso significa que ao menos 2.795 mulheres foram assassinadas na região, em 2017, apenas pelo fato de serem mulheres. Desse total, 1.133 feminicídios (como é chamado esse tipo de assassinato) foram registrados no Brasil. Deste número, a grande maioria são mulheres negras e pobres, como nós.  

Durante os quatro dias do Encontro, vivemos trocas incríveis, mas também sentimos na pele o reflexo desses dados presentes nas estruturas da sociedade. Mulheres negras, indígenas e transexuais passaram por situações de discriminação durante o evento. A nossa resposta foi a escrita de um Manifesto e um pedido de resposta da organização do Encontro e um ato marcante, que encerrou o ELLA e culminou na fundação de uma Rede Latino-Americana de Mulheres Negras, Indígenas e Transexuais. Entendemos que erramos ao imaginar que episódios como esse não aconteceriam em ambientes assim e tomamos consciência da importância de nos organizarmos e mobilizarmos para nos fortalecermos.

O aprendizado que fica desse Encontro com as mulheres da América Latina é que as desigualdades entre homens e mulheres ainda são enormes, e as que existem entre mulheres de raças e classes diferentes também. E nós devemos conversar. Nós, mulheres da Maré, mulheres negras, indígenas, transexuais devemos, cada vez mais, nos ouvir, para identificar e construir formas de nos proteger e fortalecer. Fortalecer, antes de virarmos dados e estatísticas.

O Rio de Janeiro é nosso!

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Jovem cria projeto para incentivar moradores da Maré a conhecerem sua cidade; “Transitando” já financiou a ida de jovens a museu, show e até ao Cristo Redentor

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Maria Morganti

Em 2014, mais de 11% do total dos quase 95 mil moradores da Maré com mais de 16 anos saíam raramente ou quase nunca do bairro. Os dados são da “1ª Amostra sobre mobilidade Urbana na Maré”, realizada por uma parceria entre a Redes da Maré, o Observatório de Favelas e o Centro para Excelência e Inovação na Indústria do Automóvel. Na época do estudo, Gabrielle de Souza Vidal, moradora da Nova Holanda, tinha só 14 anos. Em 2018, com 18, Gabi, como é mais conhecida, criou um projeto que deu oportunidade para jovens mudarem essa realidade. “O Transitando foi um projeto que eu inscrevi a partir do programa Active Citizens, uma parceria entre o Consulado Britânico e a Redes da Maré, para mobilizar os jovens e adolescentes a saírem mais da comunidade onde moram. Por exemplo, eu moro aqui na Nova Holanda e eu sempre tive muita liberdade de sair, de ir ao centro da cidade, ao museu, e vi que muitos jovens, muitos adolescentes que eu conheço falavam: ‘nossa, Gabi, você sai muito!’ E eu falava: ‘Gente, por que vocês não vão comigo?’ E eu via que muita gente tinha limitação financeira. Por isso, eu pensei: ‘cara, se esse projeto passar, eu vou tentar carregar o máximo de jovens, de pessoas, para que vá além do projeto. Para que as pessoas vejam que vale a pena ir [conhecer a cidade] e é isso que eu estou fazendo”.

Do Cria, nasce o Transitando

Apelidado de “Cria”, o projeto que financiou o “Transitando”, foi pensado para estimular a capacitação de líderes comunitários e já incentivou a criação de nove iniciativas, todas voltadas para esses jovens. No caso da Gabi, o projeto só impulsionou e replicou em uma escala maior o que a jovem já fazia. Depois de o “Transitando” ser aprovado, Gabi começou a recrutar os participantes. Dos mais de 22 jovens que compraram a ideia e que participaram dos passeios realizados e financiados pelo projeto, quatro deles são: Jobson Whilte, Ariane Vitória Souza de Macedo, Jonatan Peixoto de Castro e Kamili Rodrigues. Todos moradores da Maré.

Os rolês, como chama Gabi, incluíram uma ida ao Museu Nacional de Belas Artes, no Centro, a uma sessão de cinema, a uma apresentação de balé no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, uma caminhada pela Trilha da Urca e uma visita ao Cristo Redentor.  

Experiência inovadora

Jobson foi ao primeiro passeio, ao Museu, uma experiência que o marcou. Eu gostei bastante, achei algo bem-inovador. Não é fácil, pra mim, vir a lugares assim. Primeiro, eu não sei como me movimentar por esses lugares. E eu não sou muito desse ambiente”. Jonatan, Ariane e Kamili foram ao passeio ao Cristo Redentor. “O projeto me deixou com um olhar diferente, um olhar mais crítico, de que é possível frequentar os lugares que é colocado pra você, que você não pode, que não está dentro das suas condições de vida”, diz Jonatan.

Para ele, o principal motivo para o jovem morador da Maré não andar muito pela cidade é o medo de não ser aceito. “Muitos têm medo de olhar a própria cidade e ser olhado como favelado, como quem não tem perspectiva de vida e é sempre castigado pelo Estado”.

“Só andava pela cidade quando era realmente necessário, então foram poucas vezes. Só gratidão ao Transitando. Foi incrível, experiências ótimas que levarei junto comigo. Pude apreciar lugares incríveis e foi muito gratificante para mim, pois nunca me imaginei viver isso, por mais simples que seja aos olhos de outras pessoas. Agora eu tenho conhecimento sobre outras coisas diferentes, sem ser essa ‘caixinha fechada’”. Em fase de finalização, Gabi diz que vai manter a página no Facebook ativa e, mesmo com as dificuldades financeiras, pretende manter o grupo. “A gente está se programando, pra quando terminar o orçamento, continuar fazendo esses rolês, por fora, juntar dinheiro. Porque partiu deles também. De falar, ‘vamos continuar? Vamos!’. Não da mesma forma, porque a gente não tem esse dinheiro todo, mas a gente ‘tá’ querendo continuar e fazer com que página do Facebook seja esse lugar pra gente se encontrar”, finaliza a jovem.

Um idioma chamado gíria

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Do “coé” ao “papo reto”, um pouco dos meandros da “Língua” mais falada nas favelas

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Maria Morganti

É difícil andar pelos mais de 5 km de extensão das favelas do Complexo da Maré sem ouvir qualquer diálogo em que elas não estejam. Pode ser das mais clássicas como “papo reto” ou “já é”, ou outras mais recentes, como “suave” ou “pega a visão”. A certeza é que de gíria os moradores da Maré entendem. E inventam. E reproduzem. Muito. Criam tanto que é até difícil saber a origem de palavras como “mec”, “se pá” ou “na moral”. Andando pouco mais de 20 minutos pela Nova Holanda, a equipe de reportagem do Maré de Notícias ouviu de quase 100% dos entrevistados “que falam gírias no dia a dia”. As mais citadas foram: “tega”, “tamo junto”, “tranquilo”, “de boa”, “é nós”, “qual foi”, “mina”, “vacilão”, “mano”, “tá ligado”, “pega a visão”, “tipo que” e “fala tu”.

“Gíria não é gíria, é uma outra Língua”

Segundo o professor de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ary Pimentel, a periferia desenvolve uma forma nova de se falar. E como diz uma letra do cantor Criolo, “eu não traduzo gírias”. “Eu não traduzo gíria, porque é outra Língua, entende? A gíria não é gíria dentro de uma Língua, a gíria começa a ser outra Língua. O Ferréz (romancista, contista e poeta brasileiro) diz que ele não escreve em Português, e, sim, em “favelês”. Ele escreve numa outra Língua. E ele tem a pretensão, ao longo de muitos anos de produção, de escrever para um destinatário específico. Ele quer escrever para os moradores da própria quebrada”, afirmou o especialista. 

Tema de vídeo “bombado” nas redes sociais

Por curiosidade, as gírias das favelas cariocas viraram o tema de uma coluna no Jornal Voz das Comunidades, escrita pelo publicitário Pedro Portugal. “Sempre que eu conversava com algum morador da favela, surgia uma gíria no meio da frase, o que me deixava perdido, mas curioso”. Como redator, o que mais surpreendeu Pedro foi a boa recepção que a coluna teve. “A versão adaptada para vídeo chegou a ter milhares de comentários e compartilhamentos. Além disso, páginas do Facebook, como “Suburbano da Depressão”, impulsionaram ainda mais esse movimento. Nos posts de compartilhamento, o público comenta, sugerindo novas gírias que estão na moda. Isso, para mim, é um ótimo sinal, sinal de que alguém está se sentindo representado naquela linguagem”. Para Pedro Portugal, a Língua é viva e um dos motivos de ela continuar sendo renovada são as gírias, então, conteúdo para escrever é o que nunca vai faltar.

Preconceito linguístico

Apesar do uso quase predominante de gírias por grande parte de moradores das favelas da cidade, o professor Ary conta que, para muitos, ela ainda é vista com certo tipo de “preconceito linguístico”. “Há certa intolerância a uma linguagem que é usual para milhares, ou talvez milhões de pessoas na cidade, mas que não é reconhecida como uma forma linguística que possa servir para processar uma obra de arte, por exemplo. De certa maneira, é uma dimensão do preconceito linguístico. Uma obra de arte poderia ser produzida a partir de qualquer uma das linguagens que circulam, que funcionam dentro de uma sociedade. É o caso dessa linguagem que serve muito bem para se produzir letra de funk, para se produzir contos dessa literatura que está surgindo com a linguagem do sujeito da periferia. Como é o caso do Geovani Martins, autor do livro de contos ‘O sol na cabeça’, da Editora Companhia das Letras”.

Esse mesmo tema foi abordado em uma das colunas de Pedro Portugal, a “Nós vai te dar voz!”, de 17 de outubro de 2018:

“Se você acha que erro de Português é coisa de pobre, é em você que está a ignorância. A Língua só possui uma função: servir e facilitar a nossa comunicação. Então, não dá nem para tachar como errado aquilo que você entendeu, mas fez cara feia. Além disso, presta atenção, ninguém entende mais de plural e de coletivo do que o favelado. “Geral”, “bonde”, “tropa”, “rolé”, uma multiplicidade de termos que mostram onde realmente mora a riqueza. Então, dobra sua língua antes de criticar quem mantém nosso idioma vivo. O preconceito linguístico é uma agressão àquilo pelo que nós lutamos diariamente: a liberdade de expressão e a busca por representatividade. Praticar esse tipo de discriminação é retirar o direito de fala de milhões de pessoas que se exprimem com um “framengo” ou um “nós vai”. E isso, não dá para tolerar, porque buscamos justamente o oposto, buscamos dar voz”.

Um “idioma” territorial

Gabriela Barros Batista, moradora da Rubens Vaz, conta que não é em todos os lugares, principalmente fora da favela, que se sente à vontade para falar gírias, e que, em certos locais, evita o uso para “não ser tratada diferente”. “Eu falo gíria, normal. Gosto de falar. É claro que tem lugares que não vão aceitar nosso jeito, mas a gente vai evitando algumas coisas para as outras pessoas não tratarem a gente diferente. Em trabalho e em entrevista, o pessoal não aceita muito gíria. Para o pessoal mais distante da favela, já olha assim, ‘tá falando gíria’. Quando dizem que eu falo muita, a gente tenta dar uma evitada, se encaixar. Em várias entrevistas que eu já fiz não aceitaram o meu jeito. Aí eu tento me encaixar em lugares que aceitam. A gente tem de se encaixar em lugares que aceitem a gente. Tipo, eu trabalho com divulgação. É difícil, mas a gente consegue”.

Outros dois jovens, Brener Mauro Costa Barbosa, morador da favela de Manguinhos, e Max Campany, o rapper Sd’’, de Bonsucesso, passaram pela mesma experiência: a de precisarem reprimir o uso de gírias do vocabulário corrente para serem aceitos no mercado de trabalho formal. Brener avalia que elas “são muito mais informais e normalmente são faladas quando se está entre amigos”. Por isso, tenta se controlar e falar pouca ou nenhuma gíria. Mas confessa que nem sempre consegue.

“Quando eu comecei a trabalhar em telemarketing, eu tinha dificuldades, porque eu falava muita gíria e tinha de me preocupar muito com a fala. Por isso, tentava falar mais devagar. Eu tento me manter o mais quieto possível, porque às vezes as gírias escapolem naturalmente, e quando eu vejo já saiu”, conta o jovem. Já o rapper confessa que chegou a perder uma oportunidade de emprego por conta disso. “Antes de trabalhar com música, trabalhava em uma firma de segurança e, por isso, evitava falar muita gíria na hora do trabalho. O pessoal não fala gíria direto igual nós (sic). Sem contar que, em uma entrevista, você tem de se conter. Teve uma vez que eu soltei um ‘tá ligado’, e falei, ‘ih, já era’. E já era mesmo. Não me chamaram mesmo não. Foi sem querer, no automático. Mas, hoje em dia, eu consigo me policiar mais e, graças a Deus, eu trabalho só com música”.

Levando a rua para a sala de

                Para levar a rua para a sala de aula, a professora Lorena Bárbara Santos Costa, do 5º ano da Escola Municipal Gersino Coelho, de Salvador (BA), criou o “Dicionário Interativo das Gírias Urbanas”. Segundo o site http://porvir.org, nessa atividade, os alunos pesquisaram sobre as gírias faladas nas comunidades e seus respectivos significados. A iniciativa fez parte do projeto “É de Quebrada que Eu Vou”, que tinha o objetivo de valorizar a cultura popular como forma de expressão artística e ideológica-identitária.

O QUE É GÍRIA?
Gíria é um tipo de linguagem empregada por um determinado grupo social, mas que pode se estender à sociedade em razão do grau de aceitação.
(Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br)

Um mosquito no meio do caminho

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Aedes aegypti amedronta e traz de novo o perigo da Chikungunya

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Hélio Euclides

De um lado do ringue, um morador da Maré, com 1,70cm de altura, 65 quilos. Do outro, um mosquito chamado de Aedes aegypti, com média de 0,5 centímetro. Isso parece uma piada, mas o mosquito, algumas vezes, vence essa luta e derruba o oponente. A picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti infectada transmite as arboviroses, que são a Dengue, Zika, Chikungunya e a Febre Amarela. São condições favoráveis para a propagação dos arbovírus: elevadas temperaturas e índices de chuva, ou seja, o verão. Este ano, a doença que mais assusta é a Chikungunya.

Recentemente, o Maré de Notícias, na Edição 89, de junho de 2018, abordou o tema Chikungunya. Com o número elevado de casos, é importante tocar mais uma vez no assunto. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, o Estado do Rio de Janeiro já conta com 37 mil casos de Chikungunya registrados até outubro do ano passado – o que caracteriza uma epidemia. Na Maré, já foram registrados 163 casos. O pico ocorreu em abril, quando 49 pessoas tiveram a doença. O número ainda pode ser maior devido a pessoas que, erroneamente, não procuram as Unidades de Saúde.

Uma dessas pessoas que contraiu Chikungunya foi Luiza de Alcântara Barbosa, moradora da Nova Holanda. “Tive a doença em março junto com meu pai, que tem 61 anos. Aqui, na Maré, foi uma epidemia. Senti dores nas articulações, febre e manchas que coçavam muito. Depois vieram as dores nos pés, que não me deixavam ir ao banheiro sozinha. Até para chegar à Clínica da Família, íamos nos arrastando. Essa dor durou oito meses. Mas meu pai sente até hoje. Acredito que nos idosos a recuperação é mais lenta”, avalia. Para ela, a população precisa acabar com água parada e trabalhar a prevenção. “Além disso, o repelente não pode ser esquecido, com destaque para crianças e grávidas. Também acho que falta informação até para profissionais de saúde”, acrescenta.

A palavra-chave é ‘prevenção’. “Evitar água parada. Um simples vaso sanitário descoberto, não usado por um período, pode ser local de foco. Outros principais pontos são lixo, ralo do banheiro, pneus, garrafas e caixas d´água”, indica Álvaro dos Santos Silva, enfermeiro da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda. “A população deve fazer o dever de casa, que é eliminar os criadouros do mosquito”. A sua colega Norma Rezende, enfermeira da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila do Pinheiro, recomenda observar o paciente. “Os sintomas são febre, cefaleia (dor de cabeça), dor no corpo, em especial nas articulações e podem ter pintinhas pela pele. O ideal é o doente beber bastante líquido”, destaca. Ela lembra que, ao aparecer os sintomas, a pessoa deve procurar uma Unidade de Saúde mais próxima de casa, para exame e tratamento.

Saiba mais sobre a Chikungunya

A doença é uma arbovirose causada pelo vírus Chikungunya. O período de incubação é, em média, de 3 a 7 dias e a presença do vírus no sangue persiste por até 10 dias, após o surgimento das manifestações clínicas. A fase inicial da doença é caracterizada, principalmente, por febre de início súbito e surgimento de intensa dor articular. Os sintomas costumam persistir por 7 a 10 dias, porém a dor nas articulações pode durar meses ou anos e, em certos casos, transformar-se em uma dor crônica incapacitante para algumas pessoas.

“É doloroso, tinha noite em que eu achava que eu não iria amanhecer. Na época, fiquei com imunidade baixa e fraca. Para ir ao médico, só de carro. E não conseguia sair sozinha, não tinha forças. Dois anos depois, ainda sinto dor no tornozelo. Conheço gente que ficou com sequela nas mãos”, enfatiza Maria Avelina da Cruz, de 82 anos, moradora da Baixa do Sapateiro.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que vem intensificando o combate ao Aedes aegypti e que a população pode denunciar possíveis focos por meio da Central de Atendimento da Prefeitura do Rio, no número 1746. Na Maré, os agentes comunitários de saúde auxiliam na orientação dos moradores sobre como evitar o surgimento de focos do vetor.

Dona Maria Avelina: dores persistem mesmo após dois anos de ter tido a doença | Foto: Douglas Lopes