A Casa Preta da Maré surgiu para promover resistência e acolhimento étnico-racial
Passados 135 anos da abolição do sistema escravista no Brasil, ele continua presente no dia a dia de mais da metade da população, através do racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira. E foi para discutir questões relacionadas à raça que surgiu a Casa Preta da Maré — um território que, segundo o Censo Maré de 2019, tem 62,1% de seus moradores autodeclarados pretos ou pardos.
A Casa Preta da Maré nasceu de uma atividade de grupo no dia da divulgação dos dados do censo que mapeia os territórios.
“Estávamos discutindo os dados de raça que apareceram, até que uma das reflexões nos levou a constatar que já tínhamos um espaço referência para as mulheres, outro para o problema das drogas, e também equipamentos de cultura — já estava na hora de termos uma Casa Preta da Maré”, conta a economista Thais Custodio, cofundadora e coordenadora da Rede de Economistas Pretas e Pretos (REPP).
Dados de 2023 da pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil, realizada pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) e divulgadas pela Agência Brasil, revelou que 51% dos brasileiros declarou já ter presenciado um ato de racismo e que 60% consideram, sem nenhuma ressalva, que o Brasil é um país racista. (O levantamento foi feito sob encomenda do Instituto de Referência Negra Peregum e do Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista/Projeto Seta).
Racismo estrutural
Projeto da Redes da Maré, a Casa Preta da Maré é um espaço de formação teórico-metodológica e política para trabalhar as questões étnico-raciais no conjunto de 16 favelas da Maré, como forma de enfrentar o racismo estrutural que caracteriza a sociedade brasileira.
Rodrigo Almeida, produtor da Casa Preta da Maré e morador do Conjunto Esperança, destaca que um dos objetivos do espaço é a possibilidade de discutir questões que não eram muito pautadas no território, como raça e ancestralidade.
Todos os meses são realizadas diversas atividades gratuitas como forma também de produzir conhecimento. São rodas de conversa, exibição de filmes, debates, formações e aulas de campo pelo território.
“A Casa promove a Escola de Letramento Racial, que está na terceira edição. Os 20 jovens mareenses inscritos recebem, por cinco meses, uma formação sobre o assunto e uma bolsa auxílio”, diz Rodrigo,
Segundo ele, “há ainda atividades pontuais como o Cine Conceição, (nome dado em homenagem à escritora Conceição Evaristo), o Café Preto e o Corpo Negro em Movimento”.
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Multiplicadores
A casa ainda se envolve com outros projetos do território, como o Luta Pela Paz, e realiza atividades em escolas municipais e estaduais.
“Queremos que não só os negros sejam protagonistas, como a sociedade tenha uma mudança no olhar. Uma das finalidades da Casa é a formação de pessoas que sejam multiplicadoras e atuem em outros espaços. Desejamos semear esses diálogos de forma a se perpetuarem”, explica.
Para Rodrigo, a incidência política pode ser por meio do letramento racial, uma formação para a sociedade refletindo histórias que não são contadas nos livros escolares. “O desejo da Casa para o próximo ano é crescer mais com projetos de discussão sobre o tema da raça, incidência política e de acolher quem sofreu racismo, com atendimento psicológico”, conta o produtor.
A Casa Preta da Maré segue aberta para visitas e realização de ações de segunda a sexta, das 10h às 16h, na Rua Sargento Silva Nunes, 1.016, Nova Holanda.
Contato: casapreta@redesdamare.org.br.