Parque Roquete Pinto nasce em torno da comunicação e mobilização
Por Hélio Euclides
Tudo começou com um prédio que abrigava a base e a torre de transmissão da Rádio Roquette Pinto. Em seguida, em 1955, surgiram os primeiros barracos no final da Rua Ouricuri. Na época, não havia asfalto ou rede elétrica, e o saneamento era menos que o básico.
O processo de ocupação só foi possível depois que os próprios moradores começaram a aterrar uma área de manguezal. O nome da favela foi escolhido em homenagem ao idealizador da radiodifusão no Brasil, Edgar Roquette Pinto. Os transmissores da rádio que levavam o seu nome funcionaram no centro da favela até o fim de 1994.
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O Parque Roquete Pinto (com um T a menos) está ao lado do terreno do antigo quartel do 24° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, hoje pertencente à Polícia Militar. Do outro lado, fica a vizinha Praia de Ramos.
Palafitas e lama
Fabio Ferreira, conhecido como Fabinho da Feira, é presidente da Associação de Moradores da Roquete Pinto e Praia de Ramos. Ele fala da favela sempre com um sorriso no rosto: “Há um sentimento de alegria pela minha comunidade e por fazer parte da Maré. Tenho orgulho de ser liderança de duas comunidades como Roquete Pinto e Piscinão de Ramos. É muito bom poder fazer algo de coração.”
Izete Amâncio, de 50 anos, lembra o período das palafitas na favela. “Quando cheguei de Pernambuco há 30 anos eram poucas casas. Próximo ao prédio da rádio existiam só umas três habitações; ainda era possível ver palafitas e muita lama. Para pegar água era necessário ir até a Avenida Brasil.”
Izete diz que, hoje, “o prédio onde ficavam os transmissores da rádio ainda está de pé, virou um ferro velho. Já ao lado da torre tinha um campo de futebol. Aqui é calmo, gosto do meu lugar”.
Festas e incêndio
Uma moradora saudosa é Raimunda de Souza, de 85 anos, prima da cantora Dolores Duran: “Cheguei quando tinha uns 17 anos. Com o tempo, a população começou a organizar festas, serestas e concurso de quadrilha de festa junina.”
Suas memórias, porém, não são todas felizes. Segundo ela, “houve um incêndio que acabou com a favela. Por sorte, não morreu ninguém. Eu estava escutando uma novela na Rádio Nacional e meu marido lendo a revista Jerônimo Fé e Fogo, quando fomos surpreendidos com as labaredas. Ele fez uma trouxa de roupa e saímos correndo. Fui morar na casa de minha madrinha.”
Raimunda conta que o povoamento da Praia de Ramos se deu não só pelos pescadores, como também por meio de moradores da Roquete Pinto: “Depois eu vim para a Praia de Ramos. No início, era só mato. De casa só eram duas, na Rua Gerson Ferreira. Para pegar água, era preciso ir perto da entrada da Ilha do Governador. Fiquei por aqui, onde criei a família.”
Os espaços de lazer da favela contam com uma praça e a quadra da escola de samba Siri de Ramos. O território tem ainda a Escola Municipal Tenente General Napion, que no turno diurno é de Ensino Fundamental e noturno é destinada ao Ensino Médio.
Agora vamos dar uma pausa na nossa viagem. Mas em agosto voltamos com o rolê pelas favelas que formam a Maré. A próxima favela será o Parque União. Até lá!