Operação policial tem ação do BOPE e polícia civil
Por redação
Por volta das 5:40h os moradores da Maré, enquanto se organizavam para iniciar um dia comum, foram mais uma vez surpreendidos pelo som disparos de armas de fogo e o barulho do helicóptero da polícia civil que sobrevoava a região dando vôos rasantes. A operação policial que conta com agentes policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e da Coordenadora de Recursos Especiais (CORE), foi iniciada e tem ações concentradas nas favelas Parque União e Nova Holanda, mas chegou a atingir mais favelas, como o Parque Maré e a Baixa do Sapateiro. Por volta das 7h um helicóptero da polícia civil chegou a aterrissar em uma área próxima da região do “Sem Terra”, no Parque União, aterrorizando moradores próximos. A operação já dura há mais de 5 horas.
Essa é a 11ª operação policial que acontece este ano no Conjunto de Favelas da Maré. É a mesma quantidade de dias que os moradores são impedidos de transitar na cidade, acessar seus trabalhos com tranquilidade, ter acesso à atendimentos na rede de saúde e também a educação. Nesta quinta-feira, 27 unidades escolares foram impactadas pelas operações policiais, afetando 9.119 alunos, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Algumas escolas públicas e particulares também se organizavam para as festividades em comemoração ao Dia das Mães. As Clínicas da Família Augusto Boal e Jeremias Moraes da Silva também interromperam o funcionamento na manhã desta quinta-feira. Moradores relatam situações de invasão de domicílios sem mandados judiciais, abuso de autoridade e dano ao patrimônio com depredação de veículos.
Esses são dados sobre violações de direitos humanos são possíveis de mensurar a partir da dinâmica de uma operação policial. Mas são diversos os impactos que ficam para quem vive na Maré, depois de um dia como este, com é evidenciado no Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, publicado pela Redes da Maré, com dados da violência em 2022 e também outras análises e publicações da instituição que acompanha essa pauta desde 2009. A distribuição da edição impressa de maio do Maré de Notícias, uma das principais fontes de informação do conjunto de favelas, que acontece gratuitamente todo o mês, também seria realizada nas 16 favelas da Maré nesta quinta, e foi inviabilizada pela operação policial.
A equipe da Redes da Maré, através do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, realiza o acompanhamento em tempo real da operação e está disponível para acolhimento dos moradores que tenham sofrido violações de direitos durante a operação, no prédio central da Redes da Maré, na Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda.
Informação é ferramenta de acesso à direitos
Nos primeiros horários da manhã, quando o Maré de Notícias soube da operação policial em curso, entramos em contato com as assessorias de imprensa das polícias em busca de informações sobre a motivação da mesma, assim como o cumprimento das determinações da ADPF das Favelas, como de costume. O retorno recebido, por volta das 8h desta quinta, apenas confirmava a atuação do BOPE e da polícia civil na Maré nesta quinta, sem retornos sobre a motivação ou detalhes sobre o cumprimento das normas. No entanto, veículos de comunicação de massa, noticiavam informações sobre o contexto da operação policial em tempo real em canais da tv aberta, com detalhes sobre a motivação e andamento da operação. Reforçamos a importância das mídias comunitárias na cobertura de operações policiais como a que acontece nesta quinta-feira. O caminho de reforçar a criminalização dos espaços de favelas, praticado por veículos da grande mídia não contribui para a garantia de direitos, incluindo o da segurança pública, para os milhares de moradores que compõe esse espaço, assim como para toda a cidade.