14 anos depois: uma releitura da trajetória do Maré de Notícias

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Após 149 edições, Flávia Oliveira retorna ao jornal Maré de Notícias para reescrever seu próprio artigo

Por Flávia Oliveira 

Há 149 edições, cá estava eu a divagar, em plena era da globalização, sobre a necessidade de o jornalismo mirar a vida, os hábitos, as urgências da vizinhança. Não era mais sobre pensar globalmente, mas sobre agir localmente. O Maré de Notícias, gestado no movimento social de base comunitária, nasceu marcado para se debruçar sobre esse terreiro em que 140 mil moradores se dividem em 16 comunidades. 

Em um pouco mais de uma dúzia de anos (se não errei nas contas), talvez não seja possível dizer que a Maré avançou o tanto que precisava e merecia. São diárias as informações de confrontos a bala e operações policiais, que fecham escolas e postos de saúde, paralisam atividades comerciais e a vida de inúmeras famílias. Mas é certo que o jornalismo mareense, a exemplo da atuação da sociedade civil, só fez melhorar.

O jornal ganhou versão online e, num piscar de olhos, botou a Maré no mundo e o mundo na Maré. 

Três anos atrás, na mais grave crise sanitária em um século desde a gripe espanhola, o jornal foi companhia, acesso à informação qualificada e prestação de serviços sobre o pesadelo da pandemia da covid-19. A Maré é celeiro de projetos sociais tornados (ou com potencial para se tornarem) políticas públicas, e o Maré de Notícias é parte disso. Uma evidência é o inédito modelo de distribuição de exemplares feito em parceria com o Espaço Normal, colaborando assim com uma agenda positiva sobre práticas de redução de danos e políticas de cuidado a pessoas que usam álcool e outras drogas.

No sufoco e na alegria, na doença e na saúde, no luto e na luta, nenhum acontecimento passa despercebido pela equipe do Maré de Notícias. As pautas se diversificaram, em linha com temas que tanto o povo da favela quanto líderes políticos planeta afora põem na mesa. Aqui se lê sobre inovação e direitos da criança, segurança pública e empreendedorismo, alimentação saudável e sustentabilidade, música e meio ambiente, investimento público e corrida eleitoral, racismo e redes de solidariedade. Está tudo aqui. 

Num exercício Sankofa — aquele em que aprendemos a olhar o passado para projetar o futuro —, este jornal pode se orgulhar do que já fez. E ousar ir além, porque já caminhou por longa estrada. E chegou.

Flávia Oliveira é jornalista, comentarista da GloboNews e da Rádio CBN, colunista do jornal O Globo, além de podcaster no Angu de Grilo. Nesta edição comemorativa, convidamos a repórter a revisitar seu texto, publicado na primeira edição do Maré de Notícias: Agir localmente.

Você pode ler o artigo escrito em 2009 acessando o QR code abaixo. (https://issuu.com/redesdamare/docs/mar__de_not_cias_ed_01_dez_2009__2_)

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