Polícia Civil não responde questionamentos de segurança preconizadas na ADPF
Duas pessoas foram baleadas na 20ª operação policial do ano no Conjunto de Favelas da Maré. Entre os feridos, uma mulher que estava na rua por volta das 7h foi atingida na perna, na altura da coxa. A moradora conseguiu chegar até em casa e pedir ajuda pelo status do WhatsApp. Após o ocorrido uma vizinha chegou em companhia de um policial à casa da vítima que agora vai precisar de muletas para se locomover.
De acordo com a Polícia Civil que realiza a ação no território, a operação faz parte da segunda fase da “Operação Rota do Rio”.
Concentrada principalmente em Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré e Parque União, essa é a 20ª operação policial na Maré em 2024. Questionados diversas vezes nessa e em outras operações, a Polícia Civil não responde sobre o uso de câmeras corporais nos agentes de segurança que estão no território e sobre a ausência de ambulâncias para socorrer possíveis feridos. Em nota, o órgão se limitou em dizer que nove pessoas foram presas até o momento e que a operação tem como objetivo desarticular grupos ligados ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Vale lembrar que, na 16ª operação policial realizada no território, um policial ficou ferido e como não havia ambulância no local para prestar socorro, o agente foi socorrido com o veículo blindado (caveirão) até o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Cotidiano, mas não comum
A distribuição do jornal impresso do Maré de Notícias, único veículo de informação do Conjunto de Favelas da Maré, foi cancelada. 24 escolas foram fechadas, além da Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva que também interrompeu o funcionamento e a CF Diniz Batista dos Santos que, apesar de manter o atendimento à população, cancelou as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
Esta terça-feira (9) é mais um daqueles dias que dizemos que o morador acordou ao som de tiros. “Gente, muitos tiros aqui na Teixeira Ribeiro”, escreveu um mareense por volta das 6h. Apesar de situações como essas fazerem parte do cotidiano,, não é algo que podemos normalizar. O Estado escolhe entrar nas periferias a partir do braço armado enquanto pedimos que entrem com saneamento básico, educação de qualidade, cultura, lazer, segurança e tantos outros direitos.
Violência do Estado
Entre 2016 e 2024, 136 pessoas foram feridas por arma de fogo em operações policiais na Maré. Em 2023, 9 pessoas ficaram feridas e 8 pessoas foram mortas no contexto de operações. Esses dados estão no Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, realizado pelo projeto De Olho na Maré, da Redes da Maré. A 8ª edição foi publicada em junho e traz informações sobre outras violações, como invasão à domicílio, roubos de pertences e até casos de tortura, também traz informações de desrespeito à ADPF das Favelas, instrumento jurídico de garantia de direitos constitucionais, em discussão no Supremo Tribunal Federal.
O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].