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[toggle title=”Pezão receberá propostas da Maré”]
Por Hélio Euclides
Dirigentes das 16 associações de moradores do conjunto de favelas da Maré elaboraram um plano de ações com as principais necessidades locais. O documento será entregue ao governador Luiz Fernando Pezão, no final de abril. A ideia do plano nasceu em uma reunião no Palácio Guanabara, em 25 de fevereiro passado, entre as lideranças comunitárias e o governador.
Segundo Pedro Francisco dos Santos, presidente da Associação do Conjunto Esperança, o objetivo é que governo invista nas prioridades elencadas por quem mora e trabalha na Maré. “O poder público deve nos ouvir e não trazer para cá o que ele quer e sim o que nós de fato precisamos”, explicou. Para elaborar o documento, as lideranças se reuniram três vezes no mês de março, mas as discussões do grupo sobre as mudanças estruturais necessárias à Maré já ocorrem desde 2009, por meio do projeto Maré que Queremos, da Redes da Maré, e em reuniões entre os dirigentes, que formaram um coletivo.
Conheça algumas propostas do plano de ações
- Reconhecimento e legitimação, pelo governo do estado, da representação institucional do Fórum das Associações de Moradores.
- Edificação de mais uma Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) na região que abrange Conjunto Esperança, Vila do João, Vila do Pinheiro, Timbau, Conjunto Bento Ribeiro Dantas e Baixa do Sapateiro (já está prevista uma unidade na Nova Holanda).
- Utilização das escolas de ensino fundamental já existentes para oferta de Ensino Médio no período noturno em todas as comunidades da Maré.
- Construção de mais uma escola de ensino médio.
- Apoio à instalação de uma creche no Conjunto Esperança e à reforma da creche Tio Mário, na Vila do João.
- Oferta de turmas de supletivo de jovens e adultos.
- Arborização das comunidades.
- Implantação do Programa de Agentes Ambientais.
- Limpeza de todos os canais existentes nas comunidades.
- Revisão de toda a rede de esgoto e pluvial.
- Instalação de duas agências bancárias.
- Ampliação do atendimento da Agência Estadual de Fomento (AgeRio).
- Instalação de um posto local do Sebrae.
- Instalação de casas lotéricas.
- Regularização do transporte alternativo (kombis, vans e mototáxis).
- Ampliação das linhas de ônibus que circulam na Maré e extensão de operação para todos os dias da semana.
- Reforma da Lona Cultural da Praia de Ramos.
- Criação de projeto e de inclusão digital para a terceira idade.
- Implantação de unidade de saúde 24 horas na área que abrange Baixa do Sapateiro até a Praia de Ramos.[/toggle][toggle title=”A arte das bonecas Banto”]Por: Hélio Euclides
Quando vamos comprar boneca, é muito difícil achar o brinquedo na cor negra. Isso aconteceu com a assistente social Alessandra Alves, quando foi adquirir uma boneca para a filha. “A loja dizia que a fábrica não entregava e o fabricante alegava que o estabelecimento não fazia o pedido. Depois da reclamação a ambos foi que a boneca negra apareceu na loja”, relata ela. Na Maré é mais fácil de achar, pois um grupo de mulheres cria bonecas banto e bijuterias com tema afro, além de realizar oficinas e cursos sobre como fabricar, para não deixar a cultura morrer.
Tudo começou com uma professora chamada Telma, há uns 12 anos, na Ação Comunitária do Brasil (ACB), na Vila do João. Depois o grupo queria mais e foi se aprofundar num curso oferecido no Sesc Madureira. A partir daí o gosto por criar e recriar bonecas e bijuterias não parou.
Essa é a história de Edite Pereira Neves e Maria de Fátima Martins, moradoras da Maré e hoje instrutoras da arte afro. “Quando estamos fazendo é muito emocionante, já que criamos, mudamos o cabelo, além de esquecermos dos problemas, pois é prazeroso até a conclusão, quando ficamos admirando as bonecas; amamos por serem lindas e nos inspiram a continuar”, detalha Edite. Elas contam que já venderam seus artigos no Fashion Rio e até exportaram para a Europa. “Nos eventos é só elogios. Os turistas sempre querem como lembrança”, comenta Maria.
O nome “banto” foi especialmente escolhido, conforme explica Edite. “Quando foi criado o curso, tinha que ter um nome e a expressão surgiu da denominação que receberam os primeiros escravos que chegaram ao Brasil, com as danças e toda cultura afro. Vieram da África e continuamos a nossa cultura”. Segundo o dicionário, banto também denomina o conjunto de línguas faladas pelos povos africanos que vieram para o Brasil.
Edite e Maria realizam oficinas de três horas, que são uma pincelada sobre como fazer as bonecas. Para aprender essa arte é preciso dedicação e gostar muito, pois é trabalhoso. Segundo Maria, nem todos que tentam seguem o ofício. Muitos já desistiram. “Acredito que desistiram por achar difícil, as bonecas são todas feitas à mão, com moldes e segredos. Também os moradores não aproveitam muito o que a Maré dispõe”, acredita Maria.
Trabalho artesanal
Um dos segredos é que a criação das bonecas não é unitária; elas são confeccionadas por etapas, com inúmeras peças. São artesanalmente feitas a partir de retalhos, com miçangas nas roupas e cabelos que sempre reproduzem penteados afro. Foram criada em homenagem à beleza da figura negra, e são encontradas na forma de chaveiros, broches, brincos, cirandas, colares e também em aplicações nas roupas.
As duas reclamam que já viveram o auge, quando a ACB estava voltada para o afro,na época em que havia mais angolanos na Maré. Nessa fase elas chegaram a fazer 400 bonecas em um mês. Elas também reclamam quando o assunto é vender as criações. “Para vender aqui é difícil, é um chororó em relação ao preço, não há valorização. Alguns ainda dizem que é de macumba ou vudu. Agora o povo só quer boneca Barbie, esquecem a nossa cultura”, afirma Edite.
Pela pouca procura, no momento está tudo guardado em caixas. Vamos aproveitar e presentear nossas crianças?
Bonecas banto e bijuterias afro
Chaveiro = R$ 15
Ciranda = R$ 50
Casal capoeirista = R$ 80
Broche = R$ 10
Colar = R$ 25 a R$ 40
Bonecas = R$ 30
Para mais informações: 98327-2035 ou [email protected]
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[toggle title=”O mar não está para peixe”]
Por Hélio Euclides
O Maré de Notícias vai fazer uma viagem pelas quatro colônias, Marcílio Dias, Praia de Ramos, Parque União e Vila do Pinheiro. Nessas visitas um pescador contará causos, histórias da favela e de sua vida. O primeiro porto é o de Marcílio Dias e o entrevistado é Lourival Santos, batizado no mar de Mestre Louro.
Lourival Santos, o Mestre Louro, nascido em Campina Grande, na Paraíba, em 1942, veio para o Rio de Janeiro por causa da fome, saiu da terra natal aos 15 anos de idade. “Não deu para suportar a seca, faltava opção, ou seja, emprego”, conta. Aqui no Rio primeiro foi morar em Copacabana, atuou na construção civil, depois como militar no quartel e mecânico de elevador.
Sua vida mudou quando passou a pescar com um amigo nas férias e pegou gosto. “Naquele tempo era muito bom, tinha muito peixe. Hoje o fracasso é ficar parado, não tem peixe”, desabafa.
Louro lembra com carinho do tempo em que chegou a Marcílio Dias; havia apenas uns 10 barracos. Com a chegada da luz foi para 100 e depois foi tudo muito rápido. “A Caixa Econômica dava o terreno e o material e fizemos as casas de alvenaria. Mas hoje me sinto mal em casa, não saio de próximo do cais, fico a olhar o mar”, afirma.
Com mais de 50 anos de cais, Mestre Louro foi um dos fundadores da cooperativa MarCoop, que é filiada a Colônia da Praia de Ramos. Nessas cinco décadas, os pescadores passaram por grandes batalhas, uma foi a luta contra uma empresa que desejava tomar o cais, mas ao final deu tudo certo.
Barco parado no cais por falta de dinheiro
Na opinião do pescador, o vilão do momento é a poluição, que está exterminando os peixes. “Dependemos do mar, temos que lutar contra os grandões que poluem. Para pescar hoje só da Ponte Rio Niterói para lá (pra fora). Quem tem um barco de pouca força, já era”, relata Louro. Segundo ele, não existe amparo nem apoio à cooperativa,
que tem 25 embarcações. “Ninguém vem nos ajudar, nem trazer aterro da perimetral. Há quatro anos fizeram uma maquiagem no cais. Depois disso já caiu uma parte e outra parte corre o mesmo risco”, denuncia.
Sobre histórias do mar, são inúmeras. Uma das mais fortes foi quando afundou com um barco cheio de peixe, mais precisamente 10 toneladas que ele iria descarregar em Niterói, na fábrica de sardinhas. “Perdemos tudo e só sobrevivemos porque estávamos próximo à praia. Um guindaste nos trouxe de volta, mas o motor se perdeu. Mais um barco parado. Escapei de morrer umas 30 vezes, o vento forte é nosso inimigo. O mar não tem cabelo, ele revolta muito rápido”, poetiza Louro.
Agora o maior medo é da situação econômica que faz fechar as fábricas de sardinhas. “Hoje só dá para sobreviver. O que nos segura são as firmas de pesca, as empresas de sardinha em lata. Vendemos o peixe de R$ 0,30 a R$ 0,40 o quilo, isso quando a fábrica quer os peixes”, lamenta.
Para uma embarcação ir para o mar é necessário no mínimo 11 tripulantes e um investimento de R$ 1.000. Tem barco que não sai do cais por falta de dinheiro. “De ano em ano tem que fazer manutenção nos barcos, pois a Marinha pega no pé. Só não pede pneus porque barco não tem. Nossa esperança era o ministro da Pesca, mas ele não sabe nem colocar isca no anzol, teria que ser uma pessoa que entenda o sofrimento do pescador”, argumenta.
O que anima Mestre Louro é que a profissão ainda passa de pai para filho. Ele explica que o mar é marcante; o que ele lucrou dos peixes é o que o ajudou a criar as duas filhas. “Deus dá o peixe e não nos cobra dinheiro. Não é uma profissão fácil, minha família aceita, mas acha uma vida de maluco, saio às 4h da manhã e não tenho horapara voltar, vou num dia e volto no outro”, conclui.[/toggle][toggle title=”Processo civil contra violações do Estado”]Por: Silvia Noronha
As pessoas que se sentiram atingidas pela violência praticada por agentes de segurança do governo do Estado (das polícias civil e militar) podem procurar o caminho da Defensoria Pública. O defensor público do estado do Rio Daniel Lozoya se colocou à disposição dos moradores da Maré que queiram entrar com ação de responsabilidade civil contra o governo do estado. Diferentemente de um processo criminal, o objetivo da ação civil é buscar uma indenização para reparar danos financeiros enfrentados pelas vítimas.
Podem procurar a Defensoria as vítimas de bala perdida durante ação policial ou seus familiares e também moradores que sofreram danos pessoais ou domiciliares provocados por ação policial. “O Estado provocou aquela situação de confronto e tem que ser responsabilizado pelo risco que ele criou”, explica Lozoya, que esteve na Maré em março e já conversou com alguns moradores.
Lozoya, entretanto, explica que não cabe pedido de indenização se a vítima tiver trocado tiros com a polícia, a menos que tenha sido um caso de execução. “A principal arma do morador é filmar as ações da polícia. É importante também que o local do crime seja preservado”, afirma ele.
Defensoria Pública: Rua México, 11/15º andar. De 10h às 18h
Momento de transição
O apoio chega em boa hora, tendo em vista as Forças Armadas estarem sendo gradativamente substituídas pela Polícia Militar, desde 31 de março. A total substituição está prevista para 30 de junho. A Maré está ocupada militarmente desde 25 de março, sendo nos primeiros dias pelo Bope e Batalhão de Choque e em seguida, a partir de 5 de abril, pelas Forças Armadas.
Em um ano, o governo federal gastou R$ 461,6 milhões para manter homens do Exército e Marinha no Conjunto de Favelas da Maré, com seus tanques, armas de guerra e barricadas. Segundo reportagem do jornal O Dia, 30 pessoas foram mortas neste período na Maré, em diferentes circunstâncias, entre eles estão Terezinha Justino da Silva, de 67 anos, na Vila do Pinheiro, em 15 de abril do ano passado; Osmar Camelo, presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, em 15 de setembro; Felipe de Araújo Vieira, de 23 anos, no Pinheiro, em 20 de janeiro passado; e Rivaldo Sousa, na Vila do João, em 20 de fevereiro.
Neste período, também houve diversas denúncias de abusos, conforme relatado na edição 59, de novembro do ano passado, na reportagem: “Tensão e mortes”, que pode ser lida no site da Redes, em redesdamare.org.br.
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