Em 07/06/2018
No sábado, 9 de junho, a partir das 22h, a rua C-11 da Vila do Pinheiro vai vibrar ao ritmo de uma música vinda do outro lado do Atlântico. A comunidade angolana da Maré se mobilizou para oferecer uma oportunidade única de apreciar os sons e sabores do grande país africano.
– Que tal organizar uma festa angolana aqui, na Maré?”
– Mas, como assim?
– Sei lá, poderia ser: “Uma noite em Angola”, o que acha deste título?
Aquilo que começou alguns meses atrás como um simples bate-papo entre três amigos (dois angolanos e um brasileiro) está hoje a ponto de virar realidade… No sábado, dia 9 de junho, acontecerá na Vila do Pinheiro uma grande festa angolana na Maré. “Não houve nada deste tipo no Rio ainda; só em São Paulo que aconteceu já. Essa vai ser uma noite histórica!” declara Chico, co-organizador nascido em Luanda e que mora há 10 anos no Rio de Janeiro.
É notório que o complexo da Maré (mais particularmente a Vila do João e a Vila do Pinheiro) acolhe uma importante população de pessoas oriundas de Angola. O lugar do evento — a rua C11 — no foi escolhido à toa. Com efeito, segundo Azizi, outro organizador originário do país centro-africano com residência no Brasil há 19 anos: “aqui, nesta esquina, é praticamente um símbolo da gente. É o nosso ponto de encontro; tem vários comerciantes angolanos aqui concentrados. Isso vem de muito tempo atrás: a comunidade angolana, é aqui na rua C11!”
Mas, longe de ser restrita a um público de migrantes ou de especialistas dos ritmos africanos, a celebração será aberta a todas e a todos; pois como lembra o Chico: “A gente aqui é uma comunidade! Vamos ter juntos os dois povos, com DJs que tocam música angolana e também um pouco de música brasileira. O carioca, na verdade é igual ao povo de Luanda, é daquele jeito, acomodado, gosta das mesmas coisas… Não tem erro!”
Com vários DJs e bandas ao vivo, todos os estilos serão representados: semba, zouk, kuduro, kizomba ou ainda rap irão retumbar até o sol raiar. Alguns nomes, como o Joss Dee e seu set afro-house, já são bem conhecidos dos noctâmbulos cariocas; e outros artistas estarão no Rio especificamente pela ocasião. Mas um dos objetivos da festa é também oferecer um palco aos artistas da comunidade: “todos os caras que são cantores, tem que dar um palinha, uma participação especial. Para fazer uma demonstração do talento deles”, declara Azizi.
O Maré de Notícias conversou justamente com dois desses talentos locais: Bruna, 12 anos, e seu irmão, Gilberto, 8 anos. Os dois nasceram em Angola e chegaram ao Brasil há três anos. Compõem a dupla de kuduro “Os BK”, que depois de gravar canções em Luanda, continua se desenvolvendo no Rio de Janeiro. “Acho o Brasil muito bom. Eu fico com os meus colegas e graças a Deus estou na escola” disse Gilberto. Mesmo admitindo sentir “saudade da família e dos amigos que ficaram lá”, Bruna também gosta do Brasil. Fã de “Noite & Dia”, a cantora reina do kuduro em Angola, aprendeu a conhecer melhor o funk no Rio. A aproximação dos dois gêneros, funk e kuduro, deu lugar a uma colaboração com o D’Rua, cantor e produtor da Maré. O pai da dupla, Bruno, que incentiva a criatividade dos filhos, nos explicou que “o kuduro é o estilo de dança mais popular da Angola agora. É muito mexido, muito dançante. Tem muito a ver com o funk, muita batida, a juventude gosta.” Ele instiga o publico a chegar massivamente no sábado: “Pela primeira vai ter uma festa só com música angolana… quem puder aparecer, que apareça; não vai se arrepender não!” O entusiasmo está presente também nos olhos da Bruna, que subirá ao palco na ocasião e que reconhece “meu coração tá assim… tô ansiosa”.
Em caso de sucesso, os organizadores pretendem levar o conceito da festa angolana mais pra frente: “A gente pretende fazer em outros lugares também, lugares maiores”, declara Maraca, o sócio brasileiro da aventura. Pela próxima edição, artistas angolanos como Bruna Tatiana, Edmasia ou o Puto Português poderiam ser convidados.
Mas no sábado, para recobrar forças depois de requebrar muito, fartas comidas típicas serão propostas no Bar da Licas e no Bar da Carmita, os dois principais estabelecimentos gastronômicos angolanos da área. “Vou fazer Calulu de Peixe, Muamba de galinha, Cabidela…” enumera a Carmita, antes de concluir: “pessoal, vem nesse show, que vai bombar!!”
Nicolas Quirion.