Acreditando no poder do estudo

Data:

Superando medo e dificuldades, Gabriela se tornou a primeira da família a ingressar em uma universidade pública

Flávia Veloso

Gabriela Santos, de 21 anos, vai começar a cursar Geografia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) a partir do segundo período de 2019. E ela não passou só para a UERJ. No ano passado, fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passou para a Universidade Federal Fluminense (UFF), mas optou pela estadual, por conta da distância.

Moradora do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, a estudante foi a primeira pessoa da família a ingressar em uma universidade pública e a segunda a fazer faculdade, seguindo seu irmão mais velho, que estuda em uma particular. Seu pai trabalhou em garagem de ônibus por muitos anos, tendo que se aposentar cedo por conta da condição insalubre da profissão. A mãe aposentou-se por invalidez, após ser diagnosticada com distrofia muscular. “Meus pais ficaram muito felizes! Minha mãe é eternamente grata a Redes da Maré”, falou a nova universitária da família.

Superando o medo do vestibular

“Será que eu vou estudar aqui?”, perguntava-se Gabriela quando fazia o trajeto até a escola onde estudou no Ensino Médio, o Colégio Estadual João Alfredo, e passava em frente ao prédio da UERJ, que fica a poucas ruas de distância. A caloura conta que tinha medo de prestar vestibular e não passar, porque não teve um ensino que a qualificasse para as provas.

Foi por meio de uma amiga que Gabriela conheceu o Curso Pré-Vestibular (CPV) da Redes da Maré. Depois que decidiu cursar o CPV, Gabriela tentou dedicar-se ao máximo aos estudos e conciliá-los com o emprego: trabalhava durante o dia, frequentava o Pré-Vestibular à noite, estudava todos os dias e até insistia para que os professores dessem aulas nos fins de semana. Quando tinham dificuldade com as disciplinas, ela e as colegas de classe reuniam-se na Biblioteca da Redes da Maré para ensinar umas às outras as matérias que mais sabiam.

Além das aulas do CPV, a estudante frequentava as atividades promovidas pela Redes. Ela diz que nunca teve acesso a tantas informações quanto no ano em que estudou no Pré-Vestibular. “Quando a gente tem acesso à informação, tem que canalizar tudo. A Redes estimula o pensamento crítico, nos dá espaço de fala e para ouvir as pessoas, o que também me ajudou nas provas de redação”, completou a universitária.

Um período de descoberta

Gabriela descobriu que queria fazer Geografia no período em que esteve no preparatório. Inspirada por professores, pretende seguir a profissão nas áreas de pesquisa e magistério. Antes de decidir qual curso escolheria, pensava que optaria por Comunicação Social. “Eu tinha a ideia de que queria Comunicação, porque eu convivia com amigos dessa área, então eu achava que queria isso para mim. Mas é completamente diferente do que eu quero fazer. Eu quero falar para outros jovens sobre a experiência que tive na Redes”, confessou a futura geógrafa.

Como ainda não iniciaram suas aulas, Gabriela tem frequentado como ouvinte aulas do seu curso na UERJ e UFRJ. Ainda indecisa sobre em qual universidade quer estudar, ela vai tentar ingressar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do segundo semestre, que abrirá inscrições entre 4 e 7 de junho.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Migrantes africanos preservam a origem e criam novas expressões culturais na Maré

Dentro do bairro Maré, existe um outro bairro: o Bairro dos Angolanos. O local abriga a comunidade migrante no território que, de acordo com o Censo Maré (2019), conta com 278 moradores estrangeiros.

Por que a ADPF DAS favelas não pode acabar

A ADPF 635, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), é um importante instrumento jurídico para garantir os direitos previstos na Constituição e tem como principal objetivo a redução da letalidade policial.