Pela primeira vez na história uma mulher é nomeada reitora da UFRJ

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Denise Pires recebe o cargo em clima de festa e esperança

Hélio Euclides

O Ano de 2020 marca o centenário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas também um ano de mandato da primeira mulher a ocupar a Reitoria, a professora e médica Denise Pires de Carvalho. A posse de Denise foi no dia 2 de julho, na representação do Ministério da Educação no Rio de Janeiro. Ela recebeu o cargo do agora antecessor, Roberto Leher, no fiml da manhã de ontem (8). A cerimônia de transmissão foi no Centro de Tecnologia (CT), na Cidade Universitária.

O evento reuniu diversos políticos do munícipio, do estado e do país, além de vários representantes de instituições. Entre eles, Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, que falou da necessidade do sentimento de esperança e dos desafios deste mandato. “A universidade precisa olhar para dentro. Necessita se modernizar e mostrar a importância que ela tem para o país. Para isso tudo, o desafio é superar a falta de recurso”, enfatiza.

Alunos mencionaram os cortes realizados e lembraram pensamento de Paulo Freire: “Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Representantes do movimento sindical (Sindufrj e Adufrj) questionaram o presidente Jair Bolsonaro, por ser um governo que não passa confiança, que pode prejudicar a autonomia da UFRJ e que os cortes foram um ato de destruição de projetos e da universidade.

No discurso, Leher disse que estava celebrando o fortalecimento da autonomia da universidade. Ele argumentou que foi uma decisão desastrosa a Emenda Constitucional 95, que limita o teto de gastos público, o que definiu como um retrocesso. Sua vice, Denise Nascimento, lembrou que a gestão não foi fácil, com perda de 35% de verba, o que ocasionou a demissão de 2.500 trabalhadores terceirizados e a não conclusão do alojamento. A gestão foi marcada pelo trágico incêndio do Museu Nacional.

Desafio da falta de verba não desanima reitora

Em sua primeira fala como reitora, Denise dedicou o momento à família e a todos os professores do ensino básico do país, que ainda não são valorizados. A 29ª reitora da UFRJ lembrou que ingressou na universidade como estudante em 1982, e se formou em 1987, sendo a primeira pessoa da família a conseguir um diploma de Ensino Superior. A nova reitora declarou que sua gestão será de transparência, e mencionou trechos do poema Verdade, de Carlos Drummond de Andrade.

Em seu discurso, ela falou do machismo. “Fico feliz em ter a presença aqui de Nísia Trindade Lima, primeira mulher a comandar a Fundação Oswaldo Cruz. Contudo, das 63 universidades federais, 24 ainda não tiveram uma mulher no cargo máximo”, desabafa. Em outro momento, comentou sobre a igualdade, como exemplo usou sua samarra (túnica branca, usada nas cerimônias). “Entre o branco e o preto têm várias cores e todas merecem atenção igual”, disse. Denise também mencionou a crise. “A universidade precisa ser igual a detergente, para furar a bolha. Não podemos recuar por questões econômicas. A educação é transformadora, dela vem a verdade, o respeito e a diversidade. Vamos esperançar”.

O Maré de Notícias, na edição 102, de junho de 2019, traz uma entrevista com Denise, no qual a reitora disse ter o desejo de ir à Maré, mas que aguardava um convite. Ao final do evento, o Maré de Notícias fez o convite. Denise agradeceu e disse que fará a visita.

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