Na terceira reportagem da série sobre educação tecnológica, o Maré de Notícias traz à luz a discussão dos perigos que o mundo digital pode oferecer a crianças e adolescentes.
Um espaço gigante que cabe em um pequeno aparelho celular. Os mais diversos conteúdos ao alcance de um toque no ícone “pesquisar”. Como se já não fosse muito, a internet ainda é um lugar de convivência. 24 horas por dia, em todo o mundo, os internautas podem se conectar, conversar por chats e até se virem por câmeras, tudo em tempo real e alta velocidade. E mesmo que muitas vezes pareça um lugar seguro, em que se está protegido pela distância, há quem se apodere desta tecnologia de maneira mal intencionada. Isso pode ser ainda mais perigoso quando os alvos das más intenções são crianças e adolescentes, que são pessoas ainda em formação de ideias, mais suscetíveis a certas situações.
O intuito não é proibir o acesso deles. Na internet tem, sim, gente que não aproveita corretamente o potencial de todo esse conteúdo e conexão, mas estas mesmas características são o que faz da rede mundial de computadores uma das melhores invenções que já existiram. Então, para desfrutar plenamente desta tecnologia, é importante conhecer os riscos e saber lidar com situações e eventuais problemas.
Para começar a entender a proporção dos perigos a que crianças e adolescentes estão expostos, apresentamos alguns dados bem esclarecedores do portal SaferNet.
“Manda nudes?” Não!!!
As conversas on-line de conteúdo sexual, o chamado sexting – do inglês “sex” (“sexo”, em tradução livre) + “texting” (“envio de mensagem de texto”, em tradução livre) -, é uma expressão muito comum da sexualidade nos dias de hoje, e os adolescentes não estão fora disso. E expressar a sexualidade através de mensagens de texto e fotos de cunho sexual pela internet não é nada seguro, pois não se sabe se estes conteúdos podem ser repassados a outras pessoas ou usados contra quem enviou.
E não se engane: julgar ou culpar o adolescente que teve seus nudes – do inglês “nude” (“nu”, em tradução livre): fotos em que a pessoa está sem roupa – expostos não é nem de longe a coisa certa a se fazer! Passar uma situação dessa já causa sofrimento; o papel da família é acolher e acionar a justiça – lembrando que é crime gravar, armazenar, compartilhar, entre outros, quaisquer imagens de menores de 18 anos de conteúdo sexual explícito ou pornográfico. Além de ajudar a fortalecer laços entre pais e filhos, é um momento propício para que os pais reflitam sobre como podem ser mais presentes na segurança dos filhos na internet.
Brincadeira é quando todos se divertem
Ameaçar, humilhar e fazer ofensas nas redes pode ter graves resultados na vida de uma criança ou adolescente. O cyberbullying, um termo em inglês para definir as violências sofridas on-line, deve ser levado a sério pela família da vítima, que deve prestar todo o apoio psicológico necessário, até recorrendo a meios judiciais se necessário.
Tempo demais na frente das telas pode ser muito prejudicial
Dificuldade de socialização, dependência dessas tecnologias, ansiedade, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos e visuais e Lesões por Esforço Repetitivo (LER) são alguns dos prejuízos que o excesso de tempo em frente a telas de celular, computadores e tablets podem causar, como diz a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em seu Manual de Orientação “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”.
Até 2 anos – evitar e até proibir a exposição a telas digitais
2 a 5 anos – máximo de uma hora por dia
Para as faixas etária além destas, não há recomendação de limite de tempo – e se sabe a dificuldade que é proibir ou limitar o acesso dos filhos em qualquer idade –, mas os pais precisam acompanhar se o conteúdo que as crianças e adolescentes consomem estão de acordo com suas idades e estimular que elas pratiquem atividades físicas e interajam com outras pessoas por meio de conversas e brincadeiras.
Mas como estar presente na vida on-line dos pequenos?
Em uma época em que uma criança já mexe em celulares e tablets antes mesmo de aprender a falar, é difícil estar atento a 100% do que está sendo acessado, e a regulamentação paterna e materna vai diminuindo conforme a idade dos filhos vai crescendo, mas não pode ser assim. A família deve estar atenta ao máximo à vida on-line dos filhos, para evitar que eles passem por problemas, e a melhor maneira de fazer isso é na base da conversa. A psicóloga Malu Palma ressalta que não existe uma fórmula para lidar com essas questões, já que é um assunto ainda muito novo, mas que o amor da família é o melhor caminho: “Ter gente em volta, olhando e cuidando. Não importa qual seja o arranjo possível, mas que haja olhares amorosos para esses filhos. Olhar significa se interessar por eles. É bom quando se consegue conversar com nossos filhos, falar com eles e escutá-los. Explicar as coisas, contar histórias, perguntar e ouvir.”
As escolas têm papel importantíssimo na discussão desse tema. Segundo a psicoterapeuta Lucia Alves Rosa, assim como debater questões como sexualidade e drogas faz diferença nas escolhas dos jovens, ter profissionais capacitados educando as crianças e adolescentes sobre a internet traz impactos positivos. A orientação da escola à família também ajuda a criar uma rede de cuidado e proteção.
Manter em dia uma rede de cuidado e proteção aberta entre escola, pais e filhos pode evitar consequências negativas como depressão, automutilação e até suicídio, ainda possibilita aprendizado e uma relação familiar mais saudável.
Confira mais dicas de como garantir a segurança no mundo digital na cartilha da SaferNet em parceria com o Ministério Público Federal: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/publicacoes/crianca-e-adolescente/dialogo-virtual-2.0-safernet-2015