Maré, uma onda gigante de força política

Data:

Lideranças comunitárias, presidentes de associação de moradores e candidatos às eleições formam essa representatividade no território

Maré de Notícias #118 – novembro de 2020

Por Thaís Cavalcante

As eleições municipais estão chegando para a população repensar de que forma as decisões de hoje vão impactar a cidade e as 16 favelas da Maré daqui para a frente. As votações serão realizadas em meio aos desafios da pandemia de covid-19, intensa crise econômica e de investigações sobre esquemas de corrupção na Prefeitura e no Governo do Rio de Janeiro. Esses são alguns dos fatores que trazem à luz a importância do poder popular para levantar pautas e lutar por elas através do voto, mas também da organização popular.

A atuação e articulação política nas favelas e periferias sempre aconteceu, independentemente do cenário social. O que muda agora é a urgência na busca por soluções, porque não há tempo. Alguns dos temas levantados por representantes locais nas eleições municipais deste ano são: Segurança pública; Educação inclusiva; Diversidade racial; Direitos às pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgênero, Queer, Intersexo e Assexual (LGBTQIA+); e outras pautas que constroem uma sociedade mais justa e democrática. 

Seja no papel dos líderes comunitários, ativistas sociais, presidentes de associação de moradores ou de candidatos a cargos públicos, essa defesa pelos direitos humanos é vivida e experienciada pelas lideranças que lutam, há décadas, por políticas públicas efetivas. Marielle Franco, mareense e vereadora do Rio, levantou temas e defendeu os direitos da população mais vulnerável, antes de ter sua vida interrompida em 2018. Seu mandato durou dois anos, mas seu legado incentivou candidaturas de mulheres pretas em todos os estados do país. Na cidade carioca, seis deputadas negras eleitas. Uma delas, cria da Maré.

Atuação política que vai além das eleições

É importante lembrar que fazer política é bem mais do que se candidatar a um cargo ou ser filiado a um partido. O termo “Política” vem do grego antigo, já trazendo em seu significado a relação com a coletividade e organização. Ou seja, todo cidadão pode atuar em benefício do outro e do local onde vive. Mas, por onde começar? De acordo com a Politize!, ONG de educação política, atitudes, como votar de forma consciente e responsável, fazer o acompanhamento das promessas e cumprimento de leis dos candidatos, participar de debates e fóruns, buscar dados públicos, são algumas das formas dessa participação política.

Ao todo, no município do Rio de Janeiro, são 1.802 candidatos ao cargo de Vereador, 14 candidatos ao cargo de Prefeito e 14 candidatos à Vice-Prefeitura da cidade carioca, de acordo com informações da divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Sabendo que a participação do povo na política é um ato democrático, os mareenses foram exercer o seu direito. No maior conjunto de favelas do Rio, com mais de 140 mil habitantes, são 11 candidatos e candidatas com o objetivo de representar o território nas eleições municipais. Dez buscam cargo na Câmara dos Vereadores e uma, na Prefeitura do Rio. O voto é um direito democrático que todo cidadão com situação eleitoral regular pode exercer. Por isso, é tão importante conheceremos quem está se elegendo para nos representar.

Apenas quatro são mulheres, uma delas, transexual. Realidade que dialoga com a situação nacional: mulheres representam somente 34% das candidaturas. Um aumento de apenas 0,1%, se comparado com o ano anterior, segundo pesquisa da Gênero e Número. Entretanto, na Maré, o cenário de liderança política feminina é diferente.

Lideranças femininas na história da Maré

Marielle Franco não foi a primeira liderança política feminina das favelas da Maré. O território tem um histórico de mulheres tomando a frente de diversas ações, atuando para a garantia de direitos da população e do território. Essa atuação política de mulheres vem das associações de moradores, grupos locais de mobilização e lideranças políticas, como Eliana Sousa Silva, doutora em segurança pública e diretora da Redes da Maré.

Sua atuação é antiga. Eliana liderava a Chapa Rosa nos 1980 e se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, estando à frente da associação por seis anos. A Chapa Rosa é como se nomeou um grupo composto apenas de mulheres. Com uma dinâmica de gestão e mobilização social, Eliana pôde implantar  equipamentos, que facilitaram a distribuição de energia elétrica e outros serviços básicos para a população da Maré, como o processo de chegada da água. Benefícios utilizados até hoje, graças ao voto popular.

“A eleição foi marcada pela participação massiva dos moradores e pela esperança de que muitas transformações aconteceriam em seguida, pois as pessoas estavam mobilizadas e buscavam fazer valer os seus direitos por meio da ação coletiva”, conta em seu livro Testemunhos da Maré. Sobre o início de sua trajetória política, garante: “Essa experiência de militância comunitária foi intensa e determinante na minha vida. Através dela, pude compreender as complexas características do meu lugar, das favelas e da cidade como um todo”.

Perfil dos candidatos e candidatas da Maré


Confira abaixo quem são os candidatos e as candidatas da Maré às eleições municipais e o perfil das candidaturas a partir de sua escolaridade, gênero, idade, ocupação, posição política dos partidos nos quais são filiados e raça/cor. Para conhecer todos os candidatos à eleição municipal do Rio de Janeiro, acesse: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/

Candidatos e candidatas da Maré a vereador e vereadora:
Carlinhos da Maré (PL)
Del (Solidariedade)
Erica Madrinha (Solidariedade)
Fabinho da Feira (AVANTE)
Geninho da Maré (REDE)
Gilmara Cunha (PT)
Pastor Sérgio Alves (PMN)
Professora Luciana (MDB)
Tadeu Ribeiro (PDT)
Valdecir Baiense (AVANTE)

Candidata da Maré à Prefeitura do Rio:
Renata Souza (PSOL)

Raça/Cor dos candidatos da Maré (segundo autodeclaração)

A maioria dos candidatos da Maré se autodeclara como preta e parda

Assim como a maior parte dos moradores do território (62,1%) são declarados pretos ou pardos, segundo o Censo Populacional da Maré 2019, a maioria dos candidatos têm o mesmo perfil.

Escolaridade dos candidatos da Maré (segundo autodeclaração)

A maioria dos candidatos da Maré tem como grau de escolaridade o Ensino Médio

Segundo Censo Populacional da Maré 2019, mais da metade dos moradores não completou o ensino fundamental. Dentre os candidatos, parte tem o ensino médio e superior.

Gênero dos candidatos da Maré (segundo autodeclaração)

Mais da metade dos candidatos é do gênero masculino

A Maré possui mais mulheres dentre seus residentes, de acordo com o Censo Populacional da Maré 2019. Realidade contrária nas candidaturas, em que somente quatro mulheres se candidataram. 

Idade dos candidatos da Maré

Mais da metade dos candidatos tem mais de 40 anos

Jovens compõem mais da metade da população no território, no entanto as candidaturas são de pessoas com mais de 40 anos. Alguns já foram candidatos mais de uma vez.

Ocupação dos candidatos da Maré (segundo autodeclaração)

Quase metade dos candidatos declarou a sua ocupação como ‘Outros’.

Visto que a função exercida pode não constar na lista, parte deles não informou seu trabalho atual. Os demais têm ocupações/atuam nos setores público e privado. 

Posição política dos partidos dos candidatos

Quase metade dos candidatos defende a centro-esquerda.

Parte dos candidatos defende a política de Centro, ou seja, sem extremismos e com moderação; e a Centro-esquerda, que defende a justiça social e democrática.

Leia também:

Quais as funções de vereadores e prefeito e o que eles podem prometer para fazer pela cidade? Confira aqui.
Algumas seções eleitorais da Maré mudaram de lugar. Saiba mais aqui
.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Redução da escala 6×1: um impacto social urgente nas Favelas

O debate sobre a escala 6x1 ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, impulsionado pela apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe a eliminação desse regime de trabalho.

Ondas de calor como tema no G20 o que são e como enfrentá-las?

Este ano, todos os olhares estão voltados para o G20, evento que reúne os países com as maiores economias do mundo anualmente para discutir iniciativas econômicas, políticas e sociais.