A destruição de um sonho: Prefeitura retira 32 construções irregulares na Maré

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Mais uma vez, a Prefeitura derruba casas na Maré sem apresentação de documento

Por Hélio Euclides, em 06/08/2021, às 20h22. Atualizada em 11/08/2021 às 16h53

Editado por Tamyres Matos

Pela segunda vez esse ano, a Maré teve uma operação da Prefeitura para derrubada de casas. Da primeira vez foi a favela do Parque Rubens Vaz, hoje (06/08) foi a vez da vizinha Nova Holanda, que amanheceu com a presença de máquinas e homens com ferramentas, funcionários da Secretaria Municipal de Conservação. O objetivo era a retirada de moradores de suas casas para a derrubada das habitações.

A ocupação fica em frente Campus Educacional Maré, às margens da Linha Vermelha. Durante a ação, não foi apresentado nenhum documento por parte da Prefeitura, que utilizou a via expressa para estacionar os tratores usados na demolição. Entre imóveis em construção, prontos e ainda no alicerce, foram 13 casas destruídas.

Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, acompanhava de perto a ação municipal. “Como o prefeito faz isso, sem uma notificação. Os moradores estão desesperados, pois não há direito ao aluguel social ou ao Programa Minha Casa Minha Vida (atualmente chamado de Casa Verde e Amarela). Hoje tiraram o sonho do morador. Antes era um terreno vazio, sem nenhum projeto para o local. A periferia sempre fica para trás. Estamos indignados. Mas vamos nos levantar para lutar, pois a favela é forte”, desabafa 

Diego Vaz, subprefeito da Zona Norte, argumentou que a ocupação era irregular. “Derrubamos as casas que estavam à margem do rio. Elas obstruíam a passagem da água e traziam prejuízos para a clínica da família. Essa ação foi informada aos moradores. Essa gestão vai retirar tudo que é irregular e traga perigo ou transtorno, seja onde for. Uma pena que essas pessoas investiram dinheiro. Por esse motivo, a Secretaria Municipal de Assistência Social está no local”, afirma, alegando ainda que todos os imóveis eram comerciais.

Moradores negaram a informação de que os imóveis não eram residenciais e que foram notificados previamente. “Não sabia de nada. Acordei e a vizinha veio me avidar que já tinham começado com as demolições. Gastei R$ 50 mil, que agora foram destruídos, um sonho que foi por água abaixo”, reclama Bárbara Lima.

Cada um dos presentes afirmavam vivenciar um pesadelo. “Da noite para o dia acabaram com meu sonho. Fizeram tudo sem apresentar um único documento que autorizasse essa tragédia”, expõe Edson Machado, com lágrimas nos olhos.

Moradores reclamaram que tudo que tinham investiram nos imóveis. ”Por que não avisaram quando colocamos o primeiro tijolo? Somos trabalhadores e coloquei tudo que tinha nessa construção. Estou chorando, sonhava em sair do aluguel. Eu que construí a casa, pois não tenho condição de pagar pedreiro. Ninguém da Prefeitura procurou a gente, nem antes e nem agora”, conta Erivaldo Felix.

Todos os moradores presentes demonstravam preocupação com o futuro. “Já chegaram derrubando. Só deu tempo de tirar as tábuas. O problema é que ninguém falou nada sobre o que vai acontecer depois”, reclama Nelson Fernandes. Moradores que preferiram não se identificar afirmaram ainda que um funcionário da Prefeitura disse que eles não tinham direito a nada e ainda recomendou que ninguém chamasse o “pessoal da Redes da Maré”.

Em nota, a Secretaria de Conservação alegou que a ação que no local já havia mais de 60 demarcações de lotes que estavam sendo comercializados de forma irregular. ”Todas as construções estavam sobre o canal de drenagem da via expressa e da rede pluvial da comunidade”. Durante a ação, a Light desligou seis pontos clandestinos de energia elétrica.

A secretária de Conservação, Anna Laura Secco, enfatizou que o combate às edificações irregulares é uma prioridade da atual gestão da Prefeitura. “Temos um corpo técnico altamente qualificado que atua com rigor para garantir a ordem urbana. Estamos nas ruas fiscalizando, notificando e, por fim, demolindo o que não apenas vai contra a lei, mas oferece risco à população”, afirmou.

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