Criado pela educadora física Raissa Lima, projeto vem ajudando dezenas de mulheres
Maré de Notícias #130 – novembro de 2021
Por Gracilene Firmino
Violência doméstica, psicológica e sexual, assédio e desrespeito: quando a mulher não é a própria vítima, conhece alguém que foi. Segundo dados do Instituto Patrícia Galvão, 97% das brasileiras já sofreram assédio em meios de transporte, e 76% experimentaram esse tipo de violência no ambiente de trabalho. A missão do Pra Elas é reverter esse quadro: o projeto social, que atua no conjunto de favelas da Maré, tem como objetivo impactar positivamente a autoestima e a vida das mulheres.
“Na verdade eu já tinha essa ideia há muito tempo, só faltava desenvolver. Minha mãe sofreu violência doméstica quando eu era pequena; acredito que, se existissem na época projetos que a tivessem acolhido e apoiado quando isso aconteceu, ela poderia ter saído mais rapidamente daquele relacionamento abusivo. Com o projeto, as mulheres podem voltar a se ver de forma positiva. Atuamos não apenas ensinando defesa pessoal ou praticando atividade física para melhorar a autoestima e o bem-estar, como também buscamos estar ao lado dessas mulheres”, conta Raissa Lima, de 25 anos, criadora do Pra Elas em 2019.
Elas por elas
Educadora esportiva e professora de judô, Raissa reforça que o projeto é voltado apenas para mulheres a partir dos 25 anos. “Temos como objetivo fazer com que as mulheres aprendam a se defender e a reconhecer um relacionamento abusivo; se elas estão sofrendo e precisam de algo, o projeto vai estar ali, para apoiá-las. Também faz parte da nossa missão fazer com que essas mulheres percebam como foram impactadas negativamente durante toda a sua vida por um sistema que acaba minando sua autonomia”, explica.
A professora conta que atuar nesse projeto deu a ela oportunidade de conhecer histórias impactantes. “A da Sandrinha me marcou muito. Ela é dependente química e tem depressão. Começou a ir no treino, às vezes faltava, às vezes comparecia… Um tempo depois, ela nos contou como o projeto a ajudou a sair da dependência de drogas. Foi uma coisa muito importante para mim. É incrível ver que o funcional, a defesa pessoal, o boxe e as rodas de conversa ajudam de fato as mulheres que participam”, celebra.
Sandrinha é como, carinhosamente, Raissa chama Sandra Regina Felipe, de 47 anos. A auxiliar de cozinha conta que o Pra Elas salvou sua vida. “Minha experiência foi de superação. Eu estava tentando superar o vício em drogas, cigarro e bebidas. A perda de um sobrinho, que foi criado por mim e minha mãe, foi a gota d’água para eu querer mudar minha vida. O projeto me ajudou demais, me transformou em quem sou hoje. Pratico jiu jitsu e muay thai. Além dos exercícios, o projeto nos ajuda a perder peso e, com isso, minha autoestima cresceu. E a Raissa, além de ser mentora, é nossa amiga. Eu estava no fundo do poço e, no projeto, me vi acolhida”, relata.
Dados alarmantes
Em 2020, mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher foram registradas nas plataformas do Ligue 180 e do Disque 100, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Desse total, 72% (75,7 mil denúncias) são referentes à violência doméstica e familiar.
Segundo o ministério, a maioria das vítimas é de mulheres pardas, de 35 a 39 anos, com renda de até um salário mínimo. O perfil mais comum dos acusados é de homens brancos, com idade entre 35 a 39 anos. O tema marca nessa edição a celebração do dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres (25 de novembro).
Confira a grade de horários dos treinos do projeto Pra Elas.Todas as aulas ocorrem próximo à Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva.
Segunda-feira, às 17h, boxe
(Atrás das escolas)
Quarta-feira, às 19h, funcional
(Na quadra da João Borges, ao lado da clínica da família)
Sexta-feira, às 8h e às 17h, boxe
(Em frente às escolas, próximo à clínica da família)
Saiba mais e acompanhe o projeto por meio da página no Instagram @ongpraelas.