Por Redes da Maré, em 29/11/2021 às 13h40
Faleceu na manhã desta segunda-feira, 29/11/21, o morador da Maré e fotógrafo Bira Carvalho. Ele tinha 51 anos de idade e deixa uma legião de amigos e admiradores em todos os cantos da cidade e do país. Seu trabalho como fotógrafo das ruas e das pessoas da favela Nova Holanda onde morava, é reconhecido como um dos mais importantes da atualidade tanto pela qualidade quanto pela escolha dos temas e personagens que traduzem a favela e lhe conferem a beleza que a cidade, na maioria das vezes, não enxerga.
Porém, mesmo enfrentando essas dificuldades, Bira Carvalho investiu seu tempo e esforço na arte da fotografia. Foi nas aulas de João Roberto Ripper e no “Imagens do Povo”, uma agência de fotógrafos populares, da qual era coordenador, que ele se encontrou como artista e pode colocar toda a sua sensibilidade à serviço da Maré e da cidade.
Bira se definia como “fotógrafo rueiro”, pois sua paixão era estar nas ruas fotografando o movimento incessante dos moradores. Seus retratos dos personagens que compõem a Nova Holanda são conhecidos dentro e fora da Maré por sua beleza e por traduzirem as alegrias e dores de ser favelado na cidade do Rio de Janeiro.
Bira dizia, como bom cronista da cidade, que narrava a história da favela a partir da ótica dos moradores. Suas lentes revelaram ao mundo pessoas como “seu” Joaquim. Homem negro, migrante paraibano e um dos primeiros moradores a chegar em Nova Holanda onde construiu sua vida e criou uma família. Assim como ele, outras pessoas saíram da invisibilidade e passaram a ser reconhecidas a partir do olhar atento de Bira Carvalho.
Com um acervo de mais de 17 mil imagens, Bira se transformou em um dos fotógrafos mais importantes da cena carioca. Seu trabalho contribuiu para mostrar ao mundo a realidade das favelas e a luta diária do povo negro e favelado para superar as desigualdades, injustiças e o racismo que fazem parte do cotidiano. Mas as fotos de Bira também mostraram a beleza das praças, festas, ruas, a molecada correndo e brincando, e os encontros na favela. Tudo isso feito com muita sensibilidade e poesia.
Hoje, certamente as esquinas da Nova Holanda, onde sempre estavam Bira e sua máquina fotográfica, ficarão mais tristes e vazias. Seus milhares de amigos e amigas lamentam sua partida tão precoce, justamente no momento de maior maturidade profissional e pessoal.
A Redes da Maré vem à público reconhecer a importância e homenagear a vida e a obra de Bira Carvalho. Seu trabalho fotográfico tem valor inestimável para todas as favelas, para a cidade e, especialmente, para a Maré, onde ele se sentia em casa e era querido por todas as pessoas.
Seguramente, Bira e seu legado vão continuar a inspirar as novas gerações de “mareenses” e de jovens de todas as favelas do Rio de Janeiro e do Brasil. Seu exemplo de superação, trabalho e esperança num mundo melhor continuarão vivos em todas as pessoas que de alguma maneira conviveram com ele e sua obra.
Um de seus últimos trabalhos foi o ensaio fotográfico para A revista Periferias:
E uma das últimas entrevistas que o fotógrafo deu foi para a Cidade Favela Patrimônio.