Relatório foi divulgado na manhã de hoje, quarta (12)
Por Redação, em 12/01/2022 às 13h55.
A retomada dos eventos presenciais e o avanço da vacinação contra a Covid-19 foram marcos de 2021 no Rio de Janeiro. A segurança pública fluminense também poderia ter dado passos à frente, mas não foi isso o que aconteceu. Em 2021, houve 4.653 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ao todo, 2.098 pessoas foram baleadas (1.084 mortas e 1.014 feridas), segundo Relatório anual lançado hoje pelo Instituto Fogo Cruzado. Houve, em média, 13 tiroteios por dia no Rio de Janeiro, e cinco baleados a cada 24 horas.
Em 2020, a morte de João Pedro, baleado em casa durante uma operação policial, motivou o Supremo Tribunal Federal (STF) a adotar medidas que pudessem conter também a violência. A ADPF 635, que desde o dia 5 de junho daquele ano passou a restringir operações policiais não urgentes e não planejadas nas favelas do Rio durante a pandemia, buscava evitar que moradores que se protegiam da pandemia fossem vitimados. Naquele ano, houve 4.585 tiroteios no Grande Rio, deixando 1.795 baleados – 896 mortos e 899 feridos.
A despeito da ADPF, a atuação policial chamou atenção em 2021. 64% (1.342) dos baleados foram atingidos durante ações/operações policiais. Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, lembra da importância do planejamento e justificativa das operações, assim como as investigações quando necessário, como no caso de João Pedro. “Sem planejamento, inteligência, responsabilidade e a devida fiscalização do Ministério Público, que tem entre suas funções o controle externo da atividade policial, não haverá mudanças. Pelo contrário, este ano, o GAECO, grupo que investigava excessos e má conduta policial, foi extinto. Hoje há apenas um grupo menor e temporário fazendo parte do trabalho. Quem se preocupa com estas famílias e com o futuro destas crianças e adolescentes?”, questiona.
Chacina foram tornam-se rotina
Ao todo, em 2021, houve 61 chacinas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo relatório anual sobre violência armada do Instituto Fogo Cruzado, 255 civis foram mortos nestas circunstâncias. As ações ou operações policiais foram responsáveis por três a cada quatro chacinas ocorridas no Grande Rio, vitimando 195 civis no total. Foi em uma operação policial no Jacarezinho, em 6 de maio, que 28 pessoas foram mortas, entre elas um policial civil. A Chacina do Jacarezinho, como ficou conhecido o episódio, foi a operação mais letal da história da polícia do Rio de Janeiro. Além do elevado número de mortos, houve ainda outros cinco baleados na ocasião: dois policiais civis e três vítimas de balas perdidas, entre elas dois passageiros do metrô e um morador da região. O Ministério Público denunciou dois policiais pelos crimes de homicídio doloso e fraude processual cometidos durante a operação. Em comparação com 2020, que concentrou 44 chacinas com 170 mortos, houve aumento de 39% nos casos e de 50% nas mortes. 33 das chacinas ocorridas em 2020 foram em ações e operações policiais.
Crianças e adolescentes são os mais afetados
A violência armada não poupou nem os mais jovens, segundo o relatório. Em 2021, 17 crianças e 43 adolescentes foram baleados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Desse número, quatro crianças e 15 adolescentes não resistiram e morreram, como aconteceu com Alice Pamplona, de 5 anos, atingida por uma bala perdida nas primeiras horas de 2021. Em 2020, foram 22 crianças e 40 adolescentes baleados no Grande Rio.
“Muito se fala na proteção de crianças e adolescentes, mas quase nada é feito para garantir isso. Os dados mostram que eles estão sendo feridos, mortos, que têm problemas psicológicos, mas pouco ou nada é feito por aqueles que têm o dever constitucional de garantir um crescimento saudável e com direitos garantidos para estes pequenos cidadãos”, cobra a diretora do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira.
Mortes de policiais também crescem
Ao todo, 181 agentes de segurança foram baleados no Grande Rio em 2021. Entre as vítimas, 82 morreram. Os Policiais Militares foram a categoria mais afetada pela violência armada, representando 77% do total de baleados. Cecília Olliveira lembra que atualmente, o plano de segurança do Rio de Janeiro não consta em nenhum lugar. “Isso dificulta que jornalistas, pesquisadores e gestores públicos cobrem medidas que poupam a vida dos agentes de segurança pública, já que não temos sequer um plano de segurança para nos basear”, completa. Em comparação com 2020, quando 142 agentes de segurança foram baleados, sendo 54 mortos e 88 feridos, houve aumento de 52% entre os mortos e de 13% entre os feridos.
Sobre o Fogo Cruzado
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.
Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.