Venda da Oi ressalta diferenças sociais no país

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A venda da companhia pode afetar vida da população que vive em locais sem acesso às novas tecnologias

Por Jorge Melo, Hélio Euclides, Grazi Fraga e Giovana Gimenes em 01/03/2022 às 7h

Editado por: Daniele Moura

Após anos de negociações, a empresa de telefonia Oi foi vendida para o conglomerado formado pelas maiores companhias do ramo – TIM, Claro e Vivo. A decisão, aprovada neste mês pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), tem gerado dúvidas nos clientes da empresa. A falta de garantias e informação sobre a situação daqueles que estão localizados em áreas sem acesso à fibra óptica é o principal ponto de questionamento ao negócio. Até o momento não há indicações claras de como essa questão será resolvida.

Desde 2016, a Oi encontra-se em processo de recuperação judicial, com uma dívida que chegou aos 65 bilhões. Em agosto de 2020, a empresa fez um acordo de exclusividade com a TIM, a Claro e a Vivo, empresas nas quais serão realocados os 42 milhões de clientes da operadora.

Segundo nota oficial do CADE, a Claro ficou responsável pelos contratos de 27 DDDs, a Vivo ficou com 11 DDDs e a TIM com 29 DDDs. DDDS são regiões cobertas por um determinado código de identificação. Por exemplo, o código do Rio de Janeiro é 21, o de São Paulo, 11; e o de Brasília, 61. Na cidade do Rio de Janeiro, os consumidores serão transferidos para a TIM.

Ao mudar para a nova operadora, o usuário não estará mais sob o regime de fidelidade do contrato da Oi, ou seja, pode mudar para uma operadora diferente daquela que foi definida pela divisão de DDDs entre TIM, Claro e Vivo, no momento em que quiser e de graça. Ou seja, se o cliente não estiver interessado em ficar na operadora que lhe foi determinada, estará livre para migrar. Garantem as empresas, que esse processo será sem nenhuma burocracia. A conferir. Caso o cliente não solicite essa portabilidade, a operadora está obrigada a transferi-lo para um plano que ofereça serviços semelhantes aos que eram prestados pela Oi.

Novas tecnologia e risco para os clientes 

Em meio às mudanças relacionadas às operadoras, a Oi também está alterando o sistema operacional. As linhas de cobre utilizadas nos serviços de banda larga e telefonia fixa estão sendo substituídas. De acordo com a empresa, algumas localidades passarão a ter o serviço de fibra óptica, enquanto, em outras, o serviço será prestado através de uma tecnologia sem fio, conhecida pela sigla WLL- Wireless Local Loop. Os clientes precisam checar se a região dele está apta a receber a nova tecnologia e usufruir da melhoria do sistema. Em caso afirmativo, o consumidor deve entrar em contato e solicitar essa migração. No site da OI é possível fazer a verificação, ao fazer o teste utilizando o CEP de ruas da Maré é confirmado que a empresa não disponibilizará o serviço da fibra óptica.

No entanto, muitas localidades que ainda utilizam as linhas de cobre, não estão inclusas nos planos de alteração de tecnologia. E sem informações claras e objetivas da companhia, os clientes não sabem o que vai acontecer no futuro próximo. O serviço de fibra óptica, em comparação às linhas de cobre, apresenta, segundo os técnicos, maior durabilidade, está menos sujeita a interferência externas e consegue cobrir grandes distâncias. Um problema mencionado por clientes que utilizam o serviço Velox fibra óptica da Oi é que ao ocorrer interrupção de energia, o usuário fica sem o funcionamento do telefone, pois é interligado ao modem. 

Na Maré, muitos comércios ainda utilizam o telefone fixo, é o caso de Euclides Antonio, que tem uma loja de doces na Vila dos Pinheiros.

“É uma forma de conseguir falar com os clientes. A vantagem do telefone fixo é não precisar carregar energia e nem colocar chip. Só fico receoso quando tem algum defeito no cabeamento, pois demora o conserto. Apesar da conveniência de levar para onde desejar, não quero celular, pois acho complicado”, avalia. 

Euclides Antonio

Em muitas residências da Maré o fixo ainda predomina por motivo da internet, já que o serviço é oferecido em conjunto.

“Antes era muito ruim, pois demoravam para realizar os reparos e não faziam direito. Nesse quesito melhorou, mas continua ruim na Velox. Tenho fixo, mas quase não uso. Escolhi a Oi só porque é a única operadora que disponibiliza o serviço de internet na favela. Contudo, o serviço é horrível, pois o wi-fi só funciona na sala e pago dez mega que acredito não passar de dois. Já até acionei a Anatel para cumprir o que prometem.”

Lucimar Cavalcante, moradora da Nova Holanda.

Ainda que a Oi afirme que a mudança de planos e operadoras não vai gerar alterações nos preços, há muitas dúvidas. De acordo com o levantamento Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), não há como garantir que os preços não irão aumentar. A empresa vendida era a responsável pela maioria dos pacotes mais baratos praticados no país. Deve-se levar em consideração, ainda, que a perda de uma empresa significa, em consequência, a diminuição da concorrência, o que pode gerar um aumento de preços no futuro. 

O Maré de Notícias entrou em contato com o canal de informações aos clientes. A telefonista informou que ainda há pouco conhecimento, mas já é possível saber que o próximo passo será a venda do serviço de TV por assinatura, que alguns moradores da Maré utilizam. Ressaltou que os clientes de cabeamento de cobre deverão receber ligações de outras empresas oferecendo o serviço de telefonia fixo, mas é recomendado esperar que a Oi ligue dando mais detalhes de como proceder. 

Em nota, a empresa disse sobre o posicionamento de que a venda da operação móvel é um marco importante do processo de transformação da companhia. Ressaltou que, até que todas as etapas da venda sejam concluídas, não haverá nenhuma alteração na prestação de qualquer dos serviços da Oi para seus clientes, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, inclusive em relação aos planos e tarifas, que permanecem inalterados. Completou que manterá seus clientes informados em todas as etapas do processo, até que a venda esteja totalmente finalizada, comunicando inclusive com a antecedência necessária quando for ocorrer a efetiva alteração do controle da operação móvel.

A Oi informou que o objetivo é de se tornar a maior empresa de fibra óptica do país, levando banda larga, conectividade e serviços digitais até as casas e empresas de nossos clientes. Por fim, declarou ser a operadora que mais cresce em fibra óptica no país, e prometeu continuar a crescer, sempre com um grande foco e atenção à qualidade, atendimento e satisfação de todos os nossos clientes.

Para mais informações e dúvidas sobre a transferência de tecnologias, é possível acessar o site oficial da Oi.

(*) Grazi Fraga e Giovana Gimenes são estudantes universitárias vinculadas ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, uma parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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