Exposição “Imagens Populares” reúne 29 imagens produzidas pelos alunos e destaca a importância da fotografia na favela
Por Andrezza Paulo
A Escola de Fotografia Popular (EFP) retomou as atividades em 2022 com a Turma Bira Carvalho após 10 anos da última edição. O resultado dos olhares de 29 fotógrafos e fotógrafas sobre o território, pessoas e a beleza que há em cada um deu origem à exposição “Imagens Populares”, em cartaz no Observatório de Favelas até 31 de março de 2023.
O projeto inédito forma profissionalmente moradores das periferias com um olhar humanístico sobre os espaços em que vivem alinhado aos conhecimentos técnicos e teóricos sobre a fotografia e o território em que atuam. O coordenador técnico Francisco Valdean fala da importância do projeto para os jovens da periferia e para a fotografia: “O que estamos fazendo é uma verdadeira revolução, estamos no meio da criação de uma nova modalidade da linguagem da fotografia. A fotografia nasceu na Europa em 1826 e a Fotografia Popular nasceu na Maré! Isso é incrível!”, destacou.
Após a formação de 6 turmas (2004, 2006, 2007, 2009, 2010 e 2012) totalizando mais de 200 profissionais com certificados de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto retornou às atividades sob coordenação de Rosilene Miliotti neste ano com uma homenagem ao fotógrafo e cria da Maré, Bira Carvalho. Aluno da primeira turma da EFP, Bira foi e continua sendo uma das maiores referências de fotografia popular e foi coordenador geral do projeto Imagens do Povo, cujo objetivo central é criar novas representações sobre os espaços populares contribuindo para desconstruir os estigmas relacionados às periferias. “Ouvimos referências ao Bira por todos os cantos do Brasil. Ele tem uma obra fotográfica de valor histórico sobre a Nova Holanda. Homenagear o Bira é um caminho natural dessa nossa retomada”, conta Valdean.
A fotografia que afeta
A exposição “Imagens Populares” conta com 29 fotografias dos projetos finais de conclusão dos estudantes da edição de 2022. É uma síntese do projeto de estudos de cada participante ao longo desta edição. Para Vahnessa Musch, aluna da Turma Bira Carvalho, a exposição é “a oportunidade de dar visibilidade aos fotografados e parte das suas histórias” e reflete sobre o impacto da Escola de Fotografia Popular em sua trajetória: “sou para além de um corpo político indígena, um corpo trans e feminista. Num país machista, transfóbico e violento para povos originários, ter voz num espaço de troca foi urgente e se faz necessária a participação do povo nas contra narrativas já estabelecidas por quem é de fora”, reforça a estudante.
Veridiane Vidal está entre os alunos da turma de 2022. Natural da periferia de Belo Horizonte e atual moradora da Pequena África, no Rio de Janeiro, ela atua como arte-educadora e redutora de danos na Raps – Rede de Atenção Psicossocial e enfatiza a importância da fotografia popular para mudar o imaginário social e as narrativas que destacam a favela como fonte de violência. “Nós mostramos beleza, mostramos que têm trabalhador, tem quem produz moda, quem produz arte e a fotografia popular é a forma de mudar a história, da gente dar voz ao povo silenciado”, contou a aluna.
Arcasi é artista, moradora da Maré e mãe do Valentim de 2 anos e para ela, fazer parte desta turma foi ainda mais especial. “É muito significativo ter feito parte da turma que abraça o nome de Bira Carvalho, querido mestre e amigo, porque ele foi um dos meus grandes incentivadores para seguir na fotografia e é uma das minhas referências. Sinto que participei de um projeto histórico”. A visão humanística e o afeto são partes fundamentais dessa exposição. Seja o afeto como forma de carinho, seja no sentido de afetar, incidir e provocar reflexões e mudanças tanto em quem expõe quanto em quem visita.
A exposição “Imagens Populares” atua na construção coletiva sobre a imagem da periferia, da sua diversidade, sua criatividade, seu modo de viver e no direito à memória, apesar das tentativas de apagamento ao longo da história. Trata-se de resistência e ressignificação da fotografia através dos olhares, dos corpos e das vivências de cada aluno.
“Imagens Populares” está aberta a visitação gratuita das 10h às 17h na Galeria 535, na Sede do Observatório de Favelas na Rua Teixeira Ribeiro, 535 – Nova Holanda, Maré.