Quebrando o círculo da transfobia

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Conheça a história da moradora da Nova Holanda Larissa Soares

Por Lucas Feitoza

Larissa Soares tem 39 anos e é moradora da Nova Holanda, no conjunto de favelas da Maré. Seu nome é de origem Grega e significa “aquela que é cheia de alegria” e combina com sua personalidade: alegre, simpática e comunicativa. Aos 16 anos, quando ela começou a transição sexual, já havia escolhido seu nome. Para os que acreditam em signos ela é pisciana, e em breve vai comemorar seus 40 anos, “minha família sempre faz um bolinho para mim” conta. 

Ela conta que sua mãe, dona Oriana dos Santos, de 61 anos, é superprotetora. O único motivo que fez dona Oriana ficar preocupada, não foi a filha ser travesti, mas sim a violência que ela poderia sofrer apenas por ser quem é. Larissa quis estudar e superou toda a transfobia na escola para terminar o Ensino Médio no Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) 326 Professor César Pernetta. Conta que por ter estudado sempre na mesma escola todos os anos era escolhida pela turma como a representante de sala. E mesmo tendo estudado, foi mais uma que enfrentou dificuldade no mercado de trabalho; “algumas empresas dizem que são diversas, mas não aceitam a gente como somos”, disse. 

Pela falta de oportunidade de emprego Larissa ficou 20 anos na prostituição, dos 18 aos 38 anos. Nesse tempo viu muitas amigas serem agredidas, mortas e a própria Larissa também foi vítima de transfobia na pista, sendo baleada duas vezes: “Totalmente transfobia, na primeira vez os caras passaram de carro atirando, e a outra dois caras numa moto passaram e atiraram”, relembra.

A última agressão física foi um atropelamento enquanto atravessava a passarela 9 na avenida. Brasil em 2021: “O cara vinha numa moto e quando percebeu que eu era travesti já veio jogando para cima de mim. Na hora senti a dor e depois quando vi que estava inchado, fui para o hospital e estava com o braço quebrado “, relembra.

A partir daí a vida dela mudou. Larissa ficou 16 dias internada no hospital, sozinha, com medo de pegar Covid-19 e esperando pela cirurgia. Gilmara Cunha, ativista das causas LGBTQIA+, foi quem a ajudou a conseguir a cirurgia e assim que Larissa se recuperou da agressão a convidou para trabalhar com ela no Grupo Conexão G – organização de apoio a pessoas LGBTQIA+ – 

Grupo Conexão G

 “Eu não quero te perder, você é uma das únicas da nossa geração” frase dita por Gilmara que marcou Larissa. A oportunidade de trabalho quebrou o círculo da transfobia marcado por sucessivas agressões. 

Desde então Larissa é auxiliar administrativa, mas conta que o Conexão G já está na sua vida há 16 anos dando apoio a ela e outras mulheres trans e travestis. Hoje em dia ela se orgulha de exibir seu crachá e sentada na mesa que fica na entrada da casa, observa a expressão de admiração das pessoas: “Antes pensavam que eu não ia chegar em lugar nenhum e hoje me veem ocupando esse espaço”, afirma. Com seu trabalho, articula para que outras mulheres trans e travestis também ocupem mais espaços, tenham oportunidades e mudem suas realidades. “O sonho das travestis é ter sua independência,” conclui.

Sobre o Conexão G

O Conexão G foi fundado por Gilmara Cunha, ativista da causa LGBTQIA+ e estudante de psicologia. O objetivo da organização é dar apoio para as pessoas com assistência social, jurídica e psicológica. A iniciativa faz parte do Rio Sem LGBTIfobia coordenado pela Superintendência de Políticas Públicas LBGTI+ da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A partir de então, o Conexão G tornou-se o Centro de Cidadania LGBTQIA+ Casa da Diversidade Gilmara Cunha.

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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