Soluções inovadoras de apoio a organizações de jornalismo local e periférico são discutidas no Festival 3i
Por Fernanda Iacovo e Kacieny Monteiro (*)
A mídia local e jornalismo se encontram em crise, como seria o mundo sem o jornalismo? O Festival 3i 2023 trouxe em um debate sobre os novos rumos de financiamento para o jornalismo local e periférico. No mundo da informação acelerada, é possível ver nascer diariamente iniciativas de jornalismo local. Esses projetos são combatentes contra o deserto de notícias fruto da crise atual do jornalismo, a qual exige cada vez mais iniciativas focadas em nichos do jornalismo local.
A mesa “Novos Caminhos Para Financiar O Jornalismo” expôs as ideias dos palestrantes sobre a importância de se pensar uma relação entre as iniciativas governamentais, em que o governo entenda o jornalismo como essencial e necessário para uma democracia sólida. A mediação foi feita por Graciela Selaimen, jornalista e pioneira na área de internet e direitos digitais do Brasil. Ela guiou as falas de Vanina Barghella e Sameer Padania sobre os desafios de se sustentar financeiramente o jornalismo independente e local.
Graciela Selaimen, mestre em comunicação e cultura pela UFRJ e contadora de histórias que promovem a justiça social, mediou um debate trilíngue, em português, inglês e espanhol. Graciela abriu a mesa com a seguinte frase:
“Por que o jornalismo importa para a democracia e para os direitos humanos?“
Ao iniciar o debate, Graciela chamou a atenção para os desafios do jornalismo em se manter e gerar impactos relevantes, com os quais as empresas e governos se importem a ponto de investir financeiramente, ainda que sejam locais e independentes. A fala foi passada aos convidados Sameer Padania e Vanina Berghella que estão à frente de organizações criadoras de soluções de apoio financeiro aos projetos de jornalismo local e periférico, tanto no âmbito público quanto no privado.
“O público acaba se dispersando e procurando outras fontes para se informar sobre sua comunidade”
Sameer Padania
No Reino Unido, Sameer é jornalista e diretor da Macroscope, uma empresa criada para transformar e aumentar o jornalismo de interesse público junto ao ecossistema de informações. Com o olhar do jornalismo investigativo, ele contou a sua experiência sobre fortalecer esse nicho. Além disso, relacionou a realidade do Reino Unido ao jornalismo mundial, no qual é preciso criar e investir em um fundo jornalístico governamental, que ocupe espaços e preencha as necessidades do público e do jornalismo local e de nicho. “O público acaba se dispersando e procurando outras fontes para se informar sobre sua comunidade”, segundo Sameer. Ele complementou sua fala questionando se “a mídia local está morrendo, como seria o mundo sem o jornalismo? Pois onde há vácuo, há mídia social”
Há uma certa concorrência entre o jornalismo conservador e independente, na qual o jornalismo conservador se sobressai e recebe maior atenção dos fundos governamentais. É preciso criar uma ramificação no fundo governamental para as mídias de comunicação voltadas ao jornalismo local, independente e periférico. Sameer falou também sobre o crescimento profissional dentro do jornalismo ser difícil, por isso o financiamento para o meio é de suma importância e concluiu que “o caminho é associativo, comunitário e coletivo”.
A argentina Vanina Barghella é diretora regional para a América Latina do IFPIM – International Fund for Public Interest Media e diretora executiva da FOPEA – Fórum Argentino de Jornalismo. Vanina mencionou um pouco da sua experiência sobre sustentabilidade e apoio financeiro, para ela, é importante uma ideia ser transformada em projeto, com o apoio correto. Ao iniciar sua fala, fez uma crítica ao meio jornalístico por considerar tabu o conhecimento sobre finanças e sustentabilidade e achar que é um tema alheio ao seu trabalho. A indicação é que cada vez mais os jornalistas sejam inseridos neste assunto e façam alianças com corporações, combinando a transparência e ética. Um bom financiador terá a curiosidade e desejo de entender os projetos quando bem pensados e apresentados. “A busca de financiamento não deveria ser uma relação transacional, mas sim de igual para igual”, declarou Vanina.
A mesa foi concluída com uma frase da mediadora Graciela, resumindo bem o assunto sobre jornalismo independente e suas questões:
“Não Importa qual seja a pergunta, a ‘comunidade’ é sempre a resposta. ” O evento do 3i apresentou uma mesa poliglota, pois contou com tradução simultânea em libras e das línguas estrangeiras. Para conferir a palestra na íntegra, confira o canal do 3i no youtube.
Fernanda Iacovo e Kacieny Monteiro são estudantes da Facha, escreveram essa reportagem para o site “Facha em todo lugar” e fazem parte do projeto Foca no 3i, uma cobertura colaborativa do Festival 3i.