Pessoas com deficiências ocultas usam o colar na busca por compreensão e reconhecimento
Sancionada no último dia 17, pelo presidente em exercício Geraldo Alckmin, após aprovação pelo Congresso Nacional, a Lei 14.624/2023 torna o cordão de girassóis “símbolo nacional de identificação das pessoas com deficiências ocultas” – pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esclerose múltipla, diabetes, deficiência auditiva, dislexia e outras diversidades não visíveis. A lei oficializa um instrumento que já usado em outros países e até em alguns estados e municípios brasileiros para garantir a essas pessoas atendimento prioritário e, mais que isso, um olhar humanizado. “A função do cordão é sinalizar que a pessoa necessita de um suporte a mais para realizar alguma tarefa”, explica Julliene Oliveira, mãe de um menino com autismo e fundadora do projeto Inclusão em Ação, que divulga o uso dos girassóis para identificação das pessoas com deficiências ocultas.
Apesar de muitos destacarem a importância da medida para dar suporte e apoio em situações de risco, seja durante atendimentos médicos ou em espaços públicos, a adoção do cordão ou colar ainda enfrenta preconceitos e gera apreensão por conta da falta de informação e conhecimento da sociedade sobre as particularidades desse grupo de pessoas. “Já aconteceu de estarmos com nosso filho identificado pelo colar de girassóis no parquinho e uma família perceber que ele era diferente e se retirar”, conta Julienne.
Ao ser apresentado pelo deputado Capitão Alberto Neto em 2020, o projeto de lei tinha como objetivo, além de garantir melhor assistência em situações de emergência, evitar outro tipo de dificuldade enfrentado por pessoas com deficiência oculta – a hostilidade ao tentar exercer seus direitos, garantidos pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. “Não são raras as notícias de que pessoas com deficiência foram hostilizadas por usufruírem desses direitos, apenas porque não foram reconhecidas como tal”, argumentou o parlamentar ao apresentar o projeto, aprovado em março na Câmara e agora em junho pelo Senado.
“A partir do momento que o projeto é sancionado, conseguimos cobrar campanhas de conscientização. Para isso, é importante que o cordão de girassóis seja reconhecido. O intuito é que todos, não só as pessoas com deficiência, entendam porque é necessário dar suporte para quem está fazendo o uso”, ressalta Julienne.
O surgimento do colar
A iniciativa de identificar pessoas com deficiência oculta através do cordão de girassóis surgiu em 2016, idealizada por funcionários do Aeroporto Gatwick, de Londres. Após ser adotado em Gatwick, o instrumento começou a ser utilizado também em outros aeroportos do Reino Unido, voltado, inicialmente, para pessoas com autismo, que sofrem em locais com bastante barulho e movimento. Surgiu a organização Hidden Disabilities Sunflower (Girassol de Deficiências Ocultas, em tradução livre), com a intenção de facilitar a identificação não apenas em aeroporto mas em outros meios de transportes, estabelecimentos comerciais e espaços públicos. Hoje, são mais de 200 aeroportos no mundo inteiro que apoiam a iniciativa.
Os colares se popularizaram mundialmente em 2019, através da publicação de uma foto pela jornalista Kim Baker, usando o colar de girassol com o filho e o marido, em um aeroporto de Málaga, na Espanha. No Brasil, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Sergipe e Distrito Federal já têm legislação que reconhecem o cordão de girassol – no Amapá, o cordão de girassóis já foi distribuído até em escolas, principalmente para identificar crianças com TEA. Grandes cidades como Belo Horizonte (MG) e Santos (SP) também já têm iniciativas para o uso dos girassóis como identificação. Atrações turísticas como o Bondinho do Pão de Açúcar no Rio e o Parque da Turma da Mônica, em São Paulo, têm parceria com a organização internacional para a identificação de pessoas com deficiência oculta através do colar.
Essa matéria foi originalmente publicada pelo #Colabora – Jornalismo Sustentável e está sendo reproduzida com permissão do veículo. Para ler a reportagem completa clique aqui.