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A história do Campo da Paty, gerador de estrelas do futebol

O Campo da Paty, na Nova Holanda, era originalmente chamado de Campo do Oriente, mas ganhou o nome atual por causa de uma fábrica de macarrão. Foto: Gabi Lino

Gramado da Paty já recebeu diversos nomes, mas permanece como o campo mais importante da Nova Holanda

E aí morador você já jogou bola, treinou ou assistiu a algum jogo no no Campo da Paty que fica na Malha? Para quem não sabe, o Campo da Paty é o gramado de futebol que fica na Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, área conhecida como Malha. Mas você sabe porque ele tem esse nome? O espaço de lazer era chamado, na verdade, de Campo do Oriente na década de 1960, até ter seu nome atrelado à fábrica de macarrão da marca Paty, que ficava ao lado. O espaço já formou grandes atletas e tem um lugar especial guardado no coração dos moradores.

Campo do 11 da Vila foi seu primeiro nome, atrelado ao time de futebol que jogava no local, antes dos processos de remoção e da construção do território que conhecemos hoje. No início da década de 1960 surgiu a Nova Holanda, um território construído e planejado pelo poder público como um Centro de Habitação Provisória (CHP), fruto do Programa de Remoção de Favelas do governador Carlos Lacerda. Com o aumento da população, o campo passou a ser chamado de Campo do Oriente, outro time que se destacava nos gramados da Nova Holanda. 

Ao revisitar a memória do campo de futebol da Nova Holanda, o filho de um dos jogadores do Oriente, Arides Menezes, de 72 anos, lembra que no início do aterramento da Maré, alguns investidores resolveram ocupar os espaços de forma arbitrária. Na década de 1960, o campo foi murado para demarcar propriedade privada, deixando os moradores sem espaço de lazer: ”Uma parte dos moleque da Nova Holanda e do Parque Maré quebrou o muro, começaram tirar o lixo que acumulou ali dentro, e a soltar pipa em um espaço mínimo, e fomos reivindicando até limpar tudo e voltar a jogar futebol nele. Uma luta totalmente dos moradores por aquele espaço”, conta.

Marcos Francisco, de 67 anos, recorda como surgiu o nome que conhecemos hoje.

Outro nome importante desta geração, Hélio Vieira, de 74 anos, conta que a fábrica da Paty impactou muito na renda dos moradores: “Naquele tempo, 80% dos funcionários eram da Maré, exceto a diretoria e chefia. Conheci muita gente que trabalhou lá, uma família inteira vinha para o Rio de Janeiro e garantia um trabalhinho lá.”

Ao longo dos anos, o campo foi conhecido por diversos nomes, mas o que não mudou, foi a importância desse gramado na vida dos moradores. O Campo da Paty marcou gerações que originou times como o Paz e Amor, Cascavel, Flexa, Cruzeirinho, Caneco, Santa Luzia e Cascudo, na qual Hélio, Arides e Marcos Francisco fundaram. Além disso, o gramado foi palco do nascimento de grandes estrelas do futebol nacional e internacional.

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Gerando estrelas e exemplos

Léo Oliveira, ex-jogador do Flamengo, de 41 anos, é cria da Nova Holanda e teve sua carreira no futebol impulsionada pelo Campo da Paty. Aos 15 anos, ele começou a treinar no antigo Campo do Oriente, mas até pisar ali, passava os finais de semana assistindo aos campeonatos e aos grandes nomes formados por esse campo como Dudu Carioca, Berg e Tonzinho, que jogaram ali e chegaram a grandes clubes como Cruzeiro, América e Flamengo: “Esses meninos acabaram sendo um espelho para mim. Às vezes, eu ia para o Campo da Paty pra ver eles jogarem e eu botava na minha cabeça ‘um dia eu quero jogar igual o Berg’, então foi muito bom pra gente ter tão perto esses atletas que se destacaram e foram jogar em grandes clubes de futebol”.

A relação do campo com a Maré vai além do esporte, oferecendo atividades físicas para adultos e crianças. Léo coordena treinos funcionais e um projeto infantil da prefeitura, promovendo bem estar para os moradores: “Com o espaço que eu tenho ali, eu tô conseguindo ajudar muitas pessoas na sua saúde física, saúde mental e até algumas pessoas que têm depressão”, conta.

Ele destaca o papel fundamental do espaço para a formação dos jovens da favela: “Eles ficam ali três horinhas comigo ocupando a mente, alimentando um sonho também de se tornar jogador de futebol e de ajudar a família financeiramente”

O filho de Léo também tem uma relação forte com o gramado da Nova Holanda e segue os passos do pai: “Meu filho já jogou no Campo da Paty, começou na escolinha do Serginho com 7 ou 8 anos de idade. Hoje, ele está jogando em um time de São Paulo chamado Esfera, buscando o sonho dele na mesma caminhada que eu comecei, que foi o futebol. E se Deus quiser vai ser mais um representante da nossa comunidade, da Nova Holanda e da Maré pro mundo”

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