“A ordem é matar!”

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Hoje, (6/5), registramos mais um triste episódio envolvendo o uso do helicóptero da Polícia Civil como plataforma de tiros numa operação na Favela da Maré. Os policiais fizeram disparos aterrorizando os moradores do Conjunto Esperança, Salsa & Merengue, Vila do Pinheiro e Vila do João. Como consequência, oito pessoas foram mortas, três feridas, entre elas, uma criança. A polícia civil também relata apreensão de armas e de drogas, além da prisão de três pessoas. Mais uma vez, a política ao combate às drogas faz vítimas sem nenhuma perspectiva de construir a paz nas favelas.
Moradores do Conjunto Esperança relatam que oito jovens foram mortos em uma mesma rua em duas casas muito próximas. Ainda segundo moradores, os jovens, ao serem enquadrados pelos policiais, deixaram de oferecer risco, mas ainda assim, teriam sido assassinados com indícios de execução. Dois deles levantaram as mãos e disseram “perdi” e tiveram a seguinte resposta dos agentes do Estado: “minha ordem é matar”.
A Equipe do Maré de Direitos visitou a região e identificou veículos atingidos por disparos de armas de fogo, várias casas invadidas e com danos materiais. Foram encontradas 18 cápsulas de balas numa única casa. As consequências psicológicas e emocionais para os moradores são impossíveis de mensurar. Até o fechamento desta matéria, não conseguimos informações e contato com familiares dos jovens mortos.

As unidades de saúde, escolas, comércios e outras instituições tiveram que suspender suas atividades. A equipe do Maré de Direitos já formalizou denúncia ao Ministério Público sobre as violações cometidas nesta operação policial. A Defensoria Pública estará presente amanhã na região para coletar relatos e acolher denúncias dos moradores.
A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde informou, em nota, que para garantir a segurança de profissionais e pacientes suspenderam as atividades do Centro Municipal de Saúde da Vila do João e a Clínica da Família Adid Jatene. Bem próximo à região, fica um complexo de escolas que atende cerca de 7 mil alunos, que também tiveram seu cotidiano interrompido e suas vidas colocadas em risco.
Segundo informações da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) realizou a operação no Conjunto de Favelas da Maré com o objetivo de prender um dos responsáveis pelos confrontos entre facções, que acontece em São Gonçalo, e que estaria escondido na Maré. Entendemos que objetivos como este devam ser alcançados com o uso da inteligência da polícia e não com violações de direitos no cotidiano de moradores.
Enquanto não há nenhuma definição por parte do poder judiciário sobre o uso do helicóptero como plataforma de tiro, esses seguem aterrorizando o cotidiano de quem vive nas favelas do Rio de Janeiro. De acordo com os dados do “De Olho na Maré”, projeto da Redes da Maré que monitora o impacto dos confrontos armados, as operações policiais com o uso do helicóptero vêm apresentando maior letalidade. Em junho do ano passado, sete pessoas foram mortas. Em abril deste ano, duas pessoas morreram. Hoje, tivemos mais uma chacina na Maré, com 8 mortos. Até quando a ordem vai ser matar nas favelas?

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