Por Redes da Maré, em 01/03/2021 às 17h
Por volta das cinco horas da manhã desta segunda-feira, 01/03, moradores de Marcílio Dias, uma das favelas da Maré, mais conhecida como Kelson’s, relataram registros de tiros. Segundo informações da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar, “equipes do 16° BPM (Olaria) realizaram uma ação para coibir o crime organizado na região”. A Redes da Maré identificou no campo, no entanto, a presença de agentes da Polícia Civil. Sobre isso, não obtivemos resposta até a conclusão deste texto.
Desde junho de 2020, a partir da “ADPF das Favelas”, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, em decisão liminar, determinou a suspensão da realização de operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante o período de pandemia, salvo em casos de excepcionalidade. De acordo com o ministro, nesses casos, deverão ser adotados cuidados para não colocar em risco ainda maior a população. No entanto, o caso de Marcílio Dias parece alheio a esta determinação, já que no ano passado 43% das operações policiais que aconteceram na Maré foram nesta favela, sendo duas delas após a decisão do STF. Apenas no ano de 2021, foram identificadas quatro operações policiais em Marcílio Dias que impactou em três pessoas mortas, incluindo o adolescente assassinado na data de hoje.
Jhony Matheus Nascimento, de 17 anos, foi baleado nas costas e na perna durante a operação policial. Ainda que, em nota, a Polícia Militar tenha afirmado que o ferimento foi consequência de um confronto, moradores que presenciaram o ocorrido relataram que não houve troca de tiros. Os moradores seguem afirmando que os policiais presentes no momento do ocorrido não permitiram que familiares e vizinhos socorressem o adolescente baleado no chão. Segundo relatos, os policiais ameaçaram atirar também em quem tentasse prestar socorro e cometeram diversas violências verbais e ameaças. Após pressão dos moradores, o adolescente foi encaminhado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas pela própria polícia. Jhony foi levado direto para sala de cirurgia, mas infelizmente não resistiu aos ferimentos e foi a óbito por volta das14h . Os familiares afirmaram que Jhony perdeu um irmão nas mesmas circunstâncias há menos de um ano.
Casos de invasão à domicílio, violência verbal e ameaça foram relatados à equipe do projeto “Maré de Direitos”, projeto da Redes da Maré. A operação policial durou cerca de nove horas, terminando por volta das 14 horas. Até o presente momento a Polícia Militar não informou o número de prisões ou apreensões.
Os agentes da segurança pública não estavam utilizando máscara ou qualquer equipamento de proteção individual e por conta da operação policial a Unidade de Saúde da Família João Cândido, uma das unidades de vacinação contra Covid-19, não abriu durante todo o dia causando danos irreparáveis para o combate à pandemia que segue em ascensão.