Águas de março fechando o verão…

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Maré de Notícias #87 – abril de 2018

Chuvas da estação mais quente do ano alagam muitos pontos da Maré

Hélio Euclides

Fevereiro e março foram meses de muita chuva, superando a média do ano. Tradicionalmente, as chuvas desse período sempre trazem preocupação para os cariocas. Na madrugada de 15 de fevereiro, um morador da Maré morreu durante o temporal que atingiu o Rio de Janeiro. A chuva foi a maior da história da cidade, num período de uma hora e teve muitos raios. A tempestade causou falta de energia, alagamentos e derrubou diversas árvores na Maré.

Quando se fala do escoamento das águas da chuva, muitos acham que a coleta é feita pelos bueiros redondos no meio das ruas. Contudo, esses são de esgoto domiciliar. A coleta da água da chuva é feita pelas bocas de lobo [bueiro retangular de água pluvial], que levam tudo para a Baía de Guanabara. Quando elas entopem, acontecem os alagamentos. “A Prefeitura precisa ver os bueiros retangulares e valões, pois tem morador perdendo móveis quando chove”, resume Vilmar Gomes, o Magá, presidente da Associação de Moradores do Rubens Vaz.

Em Marcílio Dias, moradores de três ruas têm problemas crônicos. O Beco Jardim América, “quando chove, fica alagado e a água se mistura com o esgoto que vaza de tubulação saturada, e nada dá vazão”, diz o morador José Correa. Na Travessa 21 de Abril e na Travessa Bom Jesus, segundo os moradores, é preciso trocar a canalização das águas pluviais. “Aqui ocorre enchente, perdi estante, rack e guarda-roupa. Tenho medo da chuva, pois já sofremos com o esgoto entupido”, afirma Lucilene Maurício.

Na Vila do Pinheiro, a quadra da Via B/3 sofre há 11 anos com alagamentos. Outro lugar é o Conjunto Pinheiro, entre os prédios e a localidade conhecida como Marrocos. A situação é difícil também na Rua Ivanildo Alves e na Praça do 18, que sempre enche e que, na chuva de fevereiro, registrou uma vítima fatal. O lixo é o vilão dos alagamentos, “a Rua Ivanildo Alves sofre com o estigma de ser suja e, frequentemente, é o local de descarte de lixo. Um espaço que padece com a violência e era necessária uma ressignificação. É preciso uma articulação, somada a uma dinâmica dos serviços públicos”, comenta a bióloga Julia Rossi.

Lixo na rua, sinal de enchentes

Quando se fala de águas pluviais vem a questão do lixo, que jogado no chão aumenta o impacto das enchentes. Em Marcílio Dias, a Associação retirou de dois becos 20 carrinhos de lixo de toda espécie. Para Samanta Gleicy, moradora do Beco Jardim América, a solução dos alagamentos depende dos dois lados, poder público e população. “Quando chove, quase tem de sair nadando, não dispenso botas. Tem que trocar os canos e asfaltar. Mas o morador não pode colocar lixo na rua, canso de falar isso, e perco até amizades”, critica.

A Comlurb informa que os serviços na Maré incluem coleta domiciliar diária, varredura diária das vias principais, roçada, capina, poda das árvores, controle de vetores e limpeza e conservação dos mobiliários urbanos e praças. A empresa pede aos moradores que utilizem os equipamentos de limpeza instalados na comunidade e colaborem, respeitando os dias e horário da coleta, evitando descartar lixo em local indevido. Quem tem entulho de obras e móveis velhos, deve solicitar o Serviço Gratuito de Remoção de Entulho, pelo telefone 1746 e site.

O superintendente de Ramos, Hildebrando Gonçalves Rodrigues, o Del, diz que o prefeito autorizou a Rio Águas e a Secretaria Municipal de Conservação a agirem nos pontos mais crônicos, como Rua da Conquista, na Nova Holanda, onde está sendo construída uma rede de drenagem interligada à Rua Principal. Segundo ele, nas Via B/3 e Via A/1, na Vila do Pinheiro, já começaram trabalhos de dragagem e limpezas dos canais. Uma boa notícia é o retorno do projeto Guardiões dos rios, que retira lixo dos valões. Nesta mesma linha, está previsto um projeto-piloto de contenção no valão do Salsa e Merengue.

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