Narrativas ancestrais e lendas folclóricas preservam a memória da Maré

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Iniciativas na Maré propõem diferentes formatos para manter viva as histórias e o conhecimento dos mais antigos

Edição #163 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

Saci-pererê, Cuca, Curupira, mula sem cabeça, boto, Iara, boitatá, caipora, são alguns dos personagens do folclore brasileiro, celebrado em 22 de agosto. Mas, a Maré, também tem as suas próprias lendas: a figueira mal-assombrada, o ensopado de cobra, a festa do casamento nas palafitas, o porco com cara de gente, o lobisomem da Nova Holanda, a história da criação do bloco Mataram Meu Gato, entre outras. 

Lendas são narrativas de histórias que passam de geração em geração, geralmente, de forma oral. Mas atualmente, para manter as histórias vivas, pessoas têm se dedicado a passar essas narrativas para o papel ou para as telas. 

É o caso do filme Contos da Maré (2014), do diretor Douglas Soares, e do livro Lendas e Contos da Maré (2003), que relatam histórias contadas pelos primeiros moradores do território e se tornaram um documento de saberes dos mais antigos. Ambos podem ser acessados online gratuitamente.

Valorização

O livro foi utilizado em 2023 por duas escolas da Maré, que realizaram eventos em que alunos e professores se debruçaram sobre as histórias. Foi o caso do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA-Maré) que realizou um Chá Literário recheado de memórias e conhecimento.

A professora Alaíde Biscácio apresentou com a turma o conto A Festa de Casamento nas Palafitas. O relato destaca uma festança com direito a dança, que é interrompida quando as tábuas das palafitas se quebram, e os convidados vão parar no mangue. “O evento trouxe a memória de histórias que me contavam a beira da fogueira, quando eu tinha oito anos. Alguns personagens, eu cheguei a conhecer. Essas histórias trazem recordações da maresia do local. Naquele tempo, tinha os causos de animais, como o felino do Mataram Meu Gato”, lembra.

Já a Creche Municipal Vila Pinheiro colocou no projeto pedagógico da escola as histórias que as avós contavam sobre a Maré. A mostra teve a peça: Maré, um Musical, que mostrou a valorização local com o mapa do território trabalhado com as crianças e o folclore voltado para o território. 

O objetivo da encenação foi falar da história local e envolver o morador na construção da Maré.

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Continuidade

O grande medo é o espelho se quebrar, ou seja, quando um mais velho morrer, levar com ele o conhecimento dessas lendas, sem que o mesmo seja passado aos mais jovens. Pensando na circulação desse conhecimento, foi criado o projeto Saberes Ancestrais, da Casa Preta, projeto da Redes da Maré. O projeto já se encontra na 3ª edição, com duração de seis meses em cada etapa. São oficinas que visam criar um diálogo entre pessoas do território que possuam conhecimentos das artes, cultura indígena ou plantas medicinais, entre outras. 

“Nosso trabalho é exportar esse conhecimento para outros grupos específicos, como escolas e o grupo sócio educativo da Maré. Com esses caminhos da educação mudamos nossas práticas, pois a história possibilita a construção de novas narrativas”, conta David Alves, mobilizador do território e coordenador da oficina Saberes Ancestrais. O projeto resgata a resistência e as práticas ancestrais, levando essa memória à juventude. O resultado é uma troca de aprendizado, de vivências e lutas. 

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