Em 60 dias, Maré tem cinco incêndios de grande proporção

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Enquanto a Light diz que a culpa é das ligações clandestinas, moradores criam correntes de solidariedade e se mobilizam para ajudar uns aos outros para combater incêndios na Maré

Por Andrezza Paulo, Juliana Neris e Lucas Feitoza

Em dois meses, houve pelo menos cinco incêndios na Maré em grande proporção. Comércios na Vila do João, explosão de botijão de gás em uma casa na Nova Holanda, além dos postes que pegam fogo frequentemente. Enquanto algumas regiões do estado contam com uma estrutura de combate a incêndio eficiente e bem equipadas, as favelas sobrevivem sem o suporte adequado. Além da falta de levantamentos sobre as áreas de risco, que contribui para a insegurança dos moradores.

Uma casa pegou fogo no Cão Feroz. Parque União no fim de junho. (Imagem: Reprodução)

O caso mais grave causou a morte de um adolescente que enfrentou as chamas para resgatar uma criança (que ele acreditava que estaria no incêndio). O incidente aconteceu no domingo (9), na Nova Holanda. A família está muito abalada e preferiu não dar entrevista. O momento frágil comoveu os moradores que se mobilizaram em uma corrente de solidariedade em prol da família. Alimentos, móveis e diversos utensílios foram doados e agora os esforços estão em reconstruir a residência. É a favela pela favela.

Outro caso ocorreu em um poste de madeira que pegou fogo na rua da Praia no Parque União. Segundo moradores daquela região, o incêndio começou por volta das 20h de quarta-feira (19) e interrompeu o fornecimento de energia elétrica, que só retornou por volta das 17h do dia seguinte – quinta-feira (20). Embora o Corpo de Bombeiros estivesse presente, foi necessária a ajuda de moradores e de uma comerciante no fornecimento do extintor de CO2 para cessar o fogo.

Mobilização dos moradores e apoio local

Nos casos de incêndios em postes, é fundamental a presença da Light para o desligamento da energia antes dos esforços para apagar o fogo. Entretanto, de acordo com os moradores, a empresa não retornou às inúmeras tentativas de contato até mesmo dos bombeiros que estavam no local. Marcelo Vieira, de 43 anos, trabalha na associação de moradores do Parque União e relata: “A Light não veio desligar a energia elétrica, quem desligou foi um morador que trabalhou lá e tem o equipamento. Só depois de desligar a energia os bombeiros conseguiram apagar o fogo, isso já era por volta de 1h da manhã.” A companhia elétrica só foi ao local no dia seguinte. 

Os bombeiros estavam sem Pó Químico, segundo Marcelo Vieira, funcionário da AMPU que acompanhou o caso. (Foto: Andrezza Paulo / Maré de Notícias)

Além do susto e o medo causados pelo incêndio, a falta de energia elétrica gerou uma série de transtornos para a população. “A associação resolveu, mas se não fosse isso a gente ainda estava sem luz” , comenta Elenice de Oliveira, de 61 anos, que cuida de um idoso em uma casa em frente ao poste que pegou fogo. Dona Elenice, assim como moradores no caso anterior, se mobilizou para prestar assistência ao vizinho: “Eu deixei minha casa lá e fiquei aqui com ele até o fogo acabar”.

Falta luz nas respostas da companhia elétrica

Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Light, e questionamos sobre quanto tempo leva para restabelecer o fornecimento de energia. Em resposta, a companhia elétrica disse que “assim que acionada sobre a ocorrência, a Light envia equipe ao local para verificar as condições e restabelecer energia o mais breve possível.” Entretanto, a energia na região do Parque União no último dia 19 só retornou às 17h do dia seguinte ao incêndio. 

Ainda em nota, a Light diz que as ligações elétricas clandestinas causam os incêndios, e diz que “atua, diariamente, em parceria com o poder público para coibir o furto de energia”, porém não explica como e não informa procedimentos de prevenção para os referidos casos. Questionamos se a empresa promove alguma e campanhas de regularização da rede doméstica de eletricidade ou se realiza algum trabalho social em parceria com as autoridades, mas não tivemos retorno até o fechamento desta matéria. 

Ainda que os moradores da Maré se articulem para cuidar uns dos outros, é importante destacar que é preciso um plano de prevenção contra incêndios, sendo este um dever das autoridades. Além disso, é fundamental que o morador saiba quais medidas tomar e a quem recorrer em situações como essa.

O que fazer?

Para prevenir incêndios:

  • Evite usar ferro de passar, chuveiro elétrico e máquina de lavar ao mesmo tempo.
  • Não deixe crianças pequenas sozinhas em casa, com acesso a produtos inflamáveis e ao fogo.
  • Lembre-se de tirar os aparelhos da tomada ao sair de casa, verificar se há vazamentos no botijão de gás e se as bocas do fogão estão bem fechadas. As mangueiras e registros de gás tem validade. Fique atento.

Em casos incêndio:

  • Mantenha a calma, feche o gás e desligue o disjuntor de energia elétrica.
  • Abra todas as janelas e saia do local.
  • Sempre acione o Corpo de Bombeiros e fuja da fumaça.
  • Esqueça objetos e pertences, a sua segurança é mais importante que qualquer bem material.

A quem recorrer:

O presidente da Associação dos Moradores da Vila do João,  Valtemir Messias, conhecido como Índio, considera que essas recomendações podem ajudar a diminuir os riscos de incêndio e explica o papel das associações de moradores. “Quando acontece um incêndio a gente vai ao local, ligamos rapidamente para os bombeiros e [se precisar] para o SAMU, temos um rápido atendimento dos serviços públicos” , comenta. 

Atenção Morador:

Light ligue no 0800 021 0196

Corpo de Bombeiros ligue 193

Apoio Local – Associação de Moradores

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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