Após 10 anos sem Amarildo, família segue sem apoio do Estado

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“Cadê o Amarildo?”, dez anos e a mesma pergunta… O pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, foi sequestrado no dia 14 de julho de 2013 por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na porta de sua casa, na Rocinha. Amarildo foi torturado e assassinado, e o corpo nunca foi encontrado. 

A família, sem respostas, está há dez anos sem direito ao luto. Amarildo deixou seis filhos. Ele era o responsável pela principal renda da casa. A esposa segue com traumas e ainda não recebeu nenhum tipo de indenização pelo crime.

O filho de Amarildo, Anderson Dias, de 31 anos, conta que se tivesse que falar com os policiais teria só uma pergunta. “Cadê os restos mortais do meu pai?” Ele diz que a família continua morando na Rocinha e que seguem “unidos pedindo por justiça. Seguimos os ensinamento que nosso pai deu para a gente”.

A família enfrenta dificuldades econômicas. “Não tem nem como trabalhar, eu e meus irmãos fazemos bico dentro da comunidade, mototáxi, motoboy […] O Estado além de matar nosso pai, agora quer matar a gente de fome.” desabafa Anderson. A viúva, Elizabeth Gomes da Silva, também não consegue mais emprego.

Pouco avanço

O advogado responsável pelo caso, João Tancredo, conta que apenas na última quarta-feira (12), a 5ª Vara de Fazenda Pública determinou a intimação do Estado para pagar a indenização. Mas, segundo o advogado, “a família fala que considerando o atual governo [do estado], tem certeza que não vão receber”.

O caso Amarildo colocou em prova a confiança nas UPPs, abrindo debate sobre a importância de câmeras nos veículos, nas fardas dos policiais e em quem deveria estar ali protegendo.

Doze envolvidos no crime foram condenados na época. Mas de acordo com informações do G1, nenhum está preso e seis deles, ou seja, metade dos condenados continuam trabalhando normalmente na corporação.

Mudanças de abordagem

Para Marcelinho do Ciep, liderança comunitária da Rocinha, a ação das UPPs não mudou muito nesses 10 anos. “Existem alguns casos pontuais que eles continuam agindo com truculência principalmente com os jovens” conta.

Marcelinho reforça o tamanho da Rocinha, e acrescenta: “Hoje em dia tem lá nas UPPs alguns esportes. Mas são poucos pro tamanho da Rocinha. Se trouxessem junto com as UPPs trabalho social para ocupar os jovens principalmente no esporte, seria ideal”.

Entramos em contato com o Centro de Polícia Pacificadora, mas a assessoria de comunicação preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) informou em nota que o processo de tortura seguida de morte tramita em segredo de justiça e, por conta disso, não tem acesso às informações. E que ainda há recursos a serem julgados pelo Superior Tribunal de Justiça.

Essa matéria foi originalmente publicada pelo Voz das Comunidades e está sendo reproduzida com permissão do veículo.

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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