Dez anos sem resposta para uma pergunta

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Foto: Elisângela Leite

Eliana Sousa Silva é diretora da Redes da Maré
Jailson de Souza e Silva é diretor do Observatório de Favelas

Rio – ‘Até quando’ é o título de documentário feito em 2005. Nele, era apresentada a falência da estratégia de ‘guerra às drogas’ centrada no enfrentamento bélico entre a polícia e os grupos criminosos. As forças de segurança, há tempos, afirmam que esse tipo de ação policial deve ser superada, pois ela não inibe o tráfico e gera mortes incontáveis, em especial de moradores das favelas, policiais e jovens em atividades ilícitas.

Todavia, assistimos, durante toda a última terça-feira, em algumas favelas da Maré, a mais um desses espetáculos infernais, tendo o Bope como agente protagonista, como em vários outros episódios: intensa troca de tiros com o uso de armas de guerra, policiais e moradores feridos, invasão de casas e automóveis e imenso pânico para os seus 140 mil habitantes. O que mais espanta é que essa cena de guerra absurda ocorre depois do governo federal ter gasto mais de meio bilhão de reais mantendo o Exército como força de ocupação da Maré por 13 meses. Um imenso desperdício de dinheiro público, que deveria ter sido usado de forma mais eficiente e eficaz em políticas públicas, inclusive segurança pública, que melhorassem efetivamente a vida dos moradores e alcançasse, especialmente, as famílias mais vulneráveis à atração das redes criminosas.

O que precisamos, na Maré e nas outras favelas cariocas, é uma ação do Estado integrada, que respeite o direito à vida dos seus moradores e lhes ofereçam oportunidades de ser cidadãos plenos. Precisamos garantir o direito à segurança publica que reconheça o morador da favela como cidadão com os mesmos direitos de outros residentes da cidade.

Precisamos de servidores públicos, dentre eles os policiais, que atuem reconhecendo a condição humana e cidadã dos moradores das favelas, e não algozes que tragam apenas terror, violência e dor. Isso apenas reforça a raiva da população em relação aos agentes públicos e fortalece ainda mais os grupos criminosos. Assim, infelizmente, somos obrigados, como cidadãos da Maré e da cidade, a proclamar, de forma indignada, a mesma interrogação de dez anos atrás: até quando?

Fonte: Jornal O Dia

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Opinion – iG

09/15/2015 00:02:34 AM

Eliana Sousa Silva and Jailson de S.Silva

Ten years without an answer to a question

What we need, at Maré and in other slums, is an integrated action of the State that respects the right to life of the residents and offers them opportunities to be active citizens

Rio – “Until when” is the title of the documentary made in 2005. In it, the failure of the strategy of the “war on drugs” centered on the military confrontation between the police and criminal gangs was presented. The security forces, for a long time, have been saying that this kind of police action must be overcome, as it does not inhibit drug trafficking and generates countless deaths, especially of slum residents, police officers and youth in illegal activities.

However, we have seen, throughout last Tuesday in some slums at Maré, another one of those infernal spectacles, with BOPE as protagonist agent, as in several other episodes: intense firefight with the use of weapons of war, policemen and injured residents, home and car invasions and huge panic to its 140 thousand inhabitants. What amazes most is that this absurd war scene takes place after the federal government has spent over half a billion reais keeping the army as an occupying force at Maré for 13 months. A huge waste of public money, that should have been used more efficiently and effectively in public policies, including public safety, which would effectively improve the lives of residents and particularly reach the most vulnerable families to the lure of criminal networks.

What we need, at Maré and in the other slums, is an integrated action of the State that respects the right to life of its residents and offers them opportunities to be active citizens. We need to guarantee the right to public safety that recognizes the slum resident as a citizen with the same rights of other city residents.

We need public servants, including police officers, to act while acknowledging the human and civic condition of slum residents, not executioners who only bring terror, violence and pain. This only reinforces the anger of the population in relation to public servants and further strengthens criminal gangs. So, unfortunately, we are obliged, as citizens of Maré and the city, to indignantly pose the same question we posed ten years ago: until when?

Eliana Sousa Silva is the director of NGO Maré Development Networks

Jailson de Souza e Silva is director of NGO Observatório de Favelas

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