Autor da Maré lança primeiro livro infantil

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Lançamento distribuiu brindes e contou com oficina de lambe lambe

Samara Oliveira

No último sábado (11), aconteceu no Pontilhão Cultural da Maré, o primeiro dia de lançamento do livro “Moleque Piranha”, de Renato Cafuzo. Com um público atento e envolvido em toda programação, o evento contou com a participação do Grupo Ujima, que conta histórias negras da literatura infanto-juvenil com ancestralidade, identidade e representatividade. Além disso, teve bate papo com o autor, distribuição de brindes para as crianças, oficina de lambe lambe e brinquedos liberados para a diversão da criançada.

Renato Cafuzo, ilustrador de outros cinco livros infanto-juvenis de autoras negras, estreia sua primeira história publicada falando sobre infância e arte de rua, trazendo duas fortes homenagens: uma para seu amigo de adolescência, o cineasta Cadu Barcellos, e outra para a vereadora Marielle Franco. Assim como Cafuzo, ambos são crias do Conjunto de Favelas da Maré, e marcam a história do território com uma trajetória de luta contra o racismo, dando voz às narrativas que definem as periferias como um lugar onde os sonhos são possíveis. 

O lançamento acontece também em outras duas datas. No dia 16 de março, na Biblioteca Comunitária Maria Lina, em Nova Iguaçu, e dia 22, na Biblioteca Parque, no Centro. 

Da vivência à criação do personagem 

“Uma expressão da rua para a própria rua”, é como o autor define o “Moleque Piranha”, personagem que dá nome ao livro. O desenho teve como influência os cartoons, e à medida que a relação do autor com a cidade ia mudando, o “moleque piranha” também se adaptava em suas diferentes expressões. Foi no trajeto da Zona Oeste à Zona Sul do Rio de Janeiro, há quase uma década, que a caminho do trabalho, Renato, que à época tinha acabado de se tornar pai, aproveitava o percurso para se expressar pela cidade adesivando o desenho pelas ruas. 

Consciente ou inconscientemente, a figura dá forma a uma lembrança da infância do autor, que começou a desenhar por influência do pai que trabalhava em uma gráfica. Entre os brinquedos favoritos, blocos de papel estavam no topo da lista. Era o que o seu pai mais levava pra casa. 

“Lembro dele com um bloco desenhando um toco de árvore e no toco desenhava um rosto. Esperou até ver minha cara confusa com o desenho e soltou: “esse é o cara-de-pau”. É impressionante notar a similaridade da construção dessa piada com a do personagem que eu colo por aí hoje em dia”, relembra Renato, que hoje continua utilizando o desenho como intervenção artística em diferentes espaços urbanos através da colagem de adesivos. 

Então, se você mora no Rio, possivelmente já viu o “moleque piranha” por aí, que inclusive também circula pelas ruas fora do Brasil. A arte ganhou um contexto coletivo quando amigos do autor a fizeram circular por diferentes lugares, reafirmando como as ruas podem expressar e guardar memórias e seus diferentes significados. 

Em uma narrativa onde todos os personagens são negros – e apenas dois são adultos – grande parte da história se passa na escola. Revisitando sua própria trajetória, Cafuzo traz nos versos a potência das infâncias negras e a importância da educação como forma de criar outras possibilidades de futuro. Enxergando cada criança como um mundo em expansão, o autor mostra como ser parte e ser visto por uma comunidade, expande as possibilidades de ser e existir com humanidade. 

“Não acho que seja fantasioso contar uma história bonita na favela, mas quando faço é na esperança que tenhamos mais dias assim. E demonstrar que isso é possível pras nossas crianças é importante! Alguns traços do racismo partem basicamente do que você pode ou não pode fazer. E isso, numa fase de desenvolvimento como a infância, se traduz em como você pode ou não pode se desenvolver”, reforça o autor. 

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