A Baía de Guanabara em debate na Maré

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Fórum Itinerante é realizado no Centro de Artes

Hélio Euclides

 “Quem seria capaz de descrever as belezas que apresenta a Baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes mais instruídos, poderia conter todos os navios da Europa? ” Há 164 anos, o pensador francês Saint-Hillaire fez esse relato a respeito da Baía de Guanabara.  Um dos símbolos mais importantes da nossa cidade, desde a chegada dos portugueses, já foi descrito por muitos famosos e anônimos, desde escrivães das frotas e viajantes, até cronistas, poetas e estudiosos. Mas mesmo com tamanha importância histórica e ambiental, a Baía de hoje não tem nada a ver com aquela que os europeus avistaram. Toneladas de lixo foram despejadas, junto com bilhões de reais em projetos de “despoluição” que nunca foram concluídos.  O ex-morador da Maré, Edson Diniz, lembra que a região era formada por oito ilhas: Cabra, Catalão, Baiacu, Fundão, Pontal do França, Bom Jesus, Sapucaia e Pinheiro. “O aterro da Avenida Brasil e para a construção de habitações prejudicou o Canal do Cunha. Recordo, com carinho, da infância, quando ia tomar vacina no Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, e depois frequentava a Praia de Ramos. Hoje esse lazer é impossível, a Baía virou um banheiro, com esgoto lançado in natura”, destaca.

Fórum Baía Viva

Dado o estado periclitante que está a Baía de Guanabara, estudiosos, representantes da sociedade civil e moradores resolveram criar um Fórum Itinerante, para mobilizar a população e também o Governo. Na Maré, no dia 27 de julho, aconteceu o 5º Fórum Itinerante, que teve como tema “Saneamento Ambiental do Complexo de Favelas da Maré e dos Rios do Canal do Cunha e Políticas para a Pesca Artesanal”, de dez que já foram realizados, na área da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara.  Ao todo, os dez encontros reuniram cerca de 500 pessoas e 100 instituições para a elaboração de uma carta-programa, para a saúde ambiental das Baías de Guanabara e Sepetiba. “Essa carta será encaminhada aos órgãos públicos, e vamos batalhar para virar políticas públicas setoriais. O objetivo é obter o reconhecimento dos povos que vivem das baías, cerca de dez milhões de pessoas”, detalha Sérgio Ricardo, ambientalista.

“O Fórum da Maré foi um dos mais ricos em debate. Isso comprova o histórico de mobilização social da favela. Todos ficaram impressionados com o documentário “Pescadores da Maré”, que mostra um grupo de trabalhadores que busca seu sustento, e no final acaba reprimido pela Marinha. Enquanto os órgãos ambientais e a própria Marinha fazem “vista grossa” para as diversas formas de poluição da Baía, como o fundeio das embarcações (ato de ancorar), que não tem licença do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e nem do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) ”, expõe o ambientalista.

Ronaldo Lúcio de Souza Teixeira, da Diretoria de Serviços Norte da Comlurb, disse que só da Maré são recolhidas 150 toneladas de lixo por dia. “A coleta é feita na porta e por meio dos “laranjões”. O lixo da cidade é 40% passível de reciclagem, mas por falta de investimento só 5% são realizados”, declarou. Os participantes no evento avaliaram que a cidade necessita de uma gestão do lixo urbano, educação ambiental e a coleta seletiva nas favelas.

 Já Carlos Braz, da Diretoria de Engenharia da Cedae, relatou que houve investimento em estações de tratamento, mas faltou verbas para realizar as ligações até elas. “É preciso concluir a segunda fase, de construir as redes coletoras e extinguir algumas elevatórias. Para o tronco coletor da Zona Norte é necessário o valor de 35 milhões de reais. A novidade será um encontro que a Cedae terá com o Ministério das Cidades. Estamos preparando uma carta-consulta, para entregar ao Governo federal, com a possibilidade de financiamento de uma obra para a Maré”, revelou.

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