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Edital para seleção de entrevistadores/as

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Para aplicação de questionário de pesquisa

Construindo pontes é uma pesquisa multidisciplinar desenvolvida no conjunto de favelas da Maré. A iniciativa pretende identificar através de abordagens quantitativas e qualitativas, os fatores que afetam e/ou contribuem para a melhora da saúde mental dos habitantes de territórios urbanos que estão sujeitos a diversas vulnerabilidades, além de avaliar o impacto de projetos artísticos e culturais para o bem-estar dessa população. Esse projeto, que conta com apoio do Conselho Econômico e Social do Reino Unido (ESRC) e Conselho de Artes e Humanidades do Reino Unido (AHRC), é resultado de uma parceria entre Redes da Maré, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Queen Mary University of London (Reino Unido).

Sobre a Redes da Maré:

A Redes da Maré é uma instituição da sociedade civil fundada por pessoas envolvidas com o movimento comunitário no conjunto de favelas da Maré e, também, na cidade do Rio de Janeiro. Buscamos, através de vínculos com instituições da sociedade civil, poder público, universidades, institutos de pesquisa, órgãos e empresas públicas e privadas, produzir iniciativas de intervenção na Maré. A Redes da Maré desenvolve mais de 30 projetos na área de Educação; Arte e Cultura; Desenvolvimento Territorial; Memória e Identidade; Segurança Pública e Acesso à Justiça.

A pesquisa terá como base o Espaço Normal, Espaço de referência sobre drogas, que é fruto de um trabalho de quatro anos com as cenas abertas de consumo de drogas na Maré. O equipamento, inaugurado em maio de 2018, tem como proposta ser um local de convivência para os que procuram a Redes da Maré em busca de acolhimento, cuidado, trocas e com demandas básicas, como as de alimentação, higiene e respeito

Pesquisadora responsável: Eliana Sousa Silva

Sobre o grupo de pesquisa Políticas de Prevenção da Violência, Acesso à Justiça e Educação em Direitos Humanos

Grupo de pesquisa “Políticas de Prevenção da Violência, Acesso à Justiça e Educação em Direitos Humanos”, vinculado ao programa de Pós-graduação em Serviço Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenou diferente projeto de pesquisas no campo do Acesso à Justiça, Formas alternativas de Resolução de Conflitos, Prevenção da Violência, Segurança Pública e Populações em Situação de Rua. Atualmente dedica-se ao estudo da Violência Urbana em territórios dominados por grupos armados e sua intersecção com racismo estrutural, violência de gênero e políticas de drogas.

Pesquisadora responsável: Miriam Krenzinger

Sobre o PROJAD

O PROJAD é o Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O PROJAD desenvolve atividades de assistência, pesquisa e ensino sobre problemas relacionados ao uso de drogas desde 1996. Entre os estudos desenvolvidos pelo PROJAD encontram-se pesquisas sobre acesso ao tratamento de pessoas com problemas com drogas por meio de abordagem quanti e qualitativa publicados em diversas revistas científicas nacionais e internacionais.

Pesquisador responsável: Marcelo Cruz

Sobre o NECCULT – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

O Núcleo de Estudos em Economia Criativa e da Cultura (NECCULT) é um ambiente interdisciplinar de ensino, pesquisa e extensão vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS. O NECCULT surge da confluência de diferentes iniciativas convergentes no âmbito do estudo da Economia Criativa, Cultura e Inovação. O Núcleo busca agregar os esforços dos trabalhos sendo desenvolvidos no âmbito do Observatório de Economia Criativa do Rio Grande do Sul e do grupo de pesquisa do CNPq em Economia Criativa, Cultura e Desenvolvimento.

Pesquisador responsável: Leandro Valiati

Sobre a Queen Mary University of London (People’s Palace Projects)

People’s Palace Projects (PPP) é uma organização não governamental de pesquisa e desenvolvimento de projetos na área das artes e justiça social, com sede no departamento de teatro da Queen Mary University of London, no Reino Unido. Seus projetos focam em justiça social e direitos humanos e impacto de iniciativas culturais e artísticas no acesso a esses direitos, através da pesquisa acadêmica, projetos artísticos, iniciativas educacionais e debates. Ao longo de duas décadas, manteve foco especial no fortalecimento dos vínculos culturais e acadêmicos entre o Brasil e o Reino Unido.

Pesquisador responsável: Paul Heritage

Sobre as vagas

Habilidades e Requisitos:

? Curso superior completo;

? Ter interesse na área de Política de drogas, saúde mental e violência urbana;

? Experiência com pesquisa e aplicação de questionários quantitativos.

? Capacidade de organização (planejamento, cumprimento de prazo, alimentação da base de dados);

? Conhecimento e habilidades em informática;

? Interesse em processos de formação, estudo e pesquisa;

? Compromisso ético nas relações sociais e de trabalho.

? Capacidade de trabalho em equipe.

Principais atividades a serem realizadas:

? Participação no ciclo de formação

? Aplicação de questionários em domicílios da Maré.

? Supervisão semanal com os coordenadores de campo e outros pesquisadores.

? Elaboração de relatório da experiência.

Critérios preferenciais:

? Conhecer e circular bem na Maré.

? Ter experiências em trabalho de campo, pesquisa e/ou aplicação de questionários em territórios de favela.

? Conhecer estudar temas relacionados a política de drogas, saúde mental e/ou violência.

Disponibilidade:

? Horário regular, incluindo sábados e horário noturno pontualmente.

? Segunda de manhã para supervisão

? Participação na formação dos pesquisadores : carga horária aproximadamente 30 horas entre 29/04 e 17/05

Sobre as vagas:

Vaga : 06 entrevistadores/as para pesquisa de campo

Carga horária: 22h semanais flexíveis (a combinar)

4 meses (16 semanas) de campo – em média 50 entrevistas por mês / 4 entrevistas por dia + 1 supervisão semanal

Valor bruto aproximado: 3.000 reais mensais (inclui aplicação questionário + ajuda de custo + supervisão semanal + relatoria)

Cronograma :

03/04 à 12/04: Período de inscrições

15/04 a 22/04: Entrevistas com os pré-selecionados

24/04: Anúncio dos entrevistadores/as escolhidos

Para concorrer a vaga por favor enviar o currículo e uma breve carta de intenção sobre o interesse em participar da pesquisa para o email : [email protected] com o assunto: Vaga de entrevistador(a)

O mais carioca de todos os santos

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Seja no Catolicismo, na Umbanda ou no Candomblé, São Jorge – ou Ogum – movimenta uma imensa legião de fiéis

Maré de Notícias #99

Por: Camille Ramos

Cantado por Zeca Pagodinho, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso e muitas outras vozes da nossa música, São Jorge, o santo guerreiro, está presente como nenhum outro na cultura carioca. Ele já foi até tema de novela e possui uma multidão de fiéis fervorosos, tanto na Igreja Católica como no Candomblé e na Umbanda. São Jorge ou Ogum, independentemente de como o clamam, é celebrado no dia 23 de abril e, no Rio, a data é marcada por ritos de fé e festas e, desde 2008, com feriado estadual.

São Jorge é venerado como mártir cristão e é representado pela imagem de um cavaleiro, vestido com armadura de metal e lança na mão, que batalhou como soldado do Exército Romano, conquistando muitas vitórias e combatendo injustiças em nome de Jesus. Nas religiões de matriz africana que consideram o sincretismo, São Jorge encarna os orixás do panteão africano e, aqui no Rio, especificamente, é conhecido como Ogum, orixá ligado ao ferro, ao aço e ao fogo, características que representam a força que predomina sobre a injustiça e sua invocação tem por objetivo principal proteger e orientar seus fiéis no cotidiano.

Missas e feijoadas

Muitas são as celebrações pela Cidade. A Igreja Matriz de São Jorge, em Quintino, recebe cerca de 500 mil fiéis que começam a chegar por volta das 2h da manhã para acompanhar a tradicional alvorada, com queima de fogos, e a primeira missa, que é celebrada às 5h. Airton Alves, dono do Boteco Carioca, na comunidade do Sem Terra, no Parque União, devoto de São Jorge e filho de Ogum, começa o dia 23 de abril no pátio de igreja. “Chego 3h30 da manhã em Quintino, saio de lá às 7h, e já venho direto para abrir o bar. Toda a minha família trabalha comigo. Costumo fazer 15 quilos de feijão, que minha mãe me ajuda a preparar”, conta o comerciante que, desde 2015, organiza a festa em seu bar para cerca de 600 pessoas, por gratidão a São Jorge, e arca com todos os custos da feijoada, que é servida gratuitamente.

Assim como Airton, muitos fiéis começam o dia na igreja e terminam nas clássicas feijoadas e sambas. Apesar do padroeiro da cidade ser São Sebastião e também movimentar multidões de fiéis em procissões, a festa de São Jorge é maior e arrasta milhares de devotos alegres e festivos, com ida às igrejas, com velas acesas, na devoção Católica; aos batuques de candomblés e umbandas, com cerveja e feijoada, para saudar Ogum; e também a ambos os espaços de tradição religiosa, como é o caso de muitos devotos que transitam pelo catolicismo e pelas religiões de matriz africana simultaneamente.

Sincretismo

O que faz o dia 23 de abril ser uma das maiores festas religiosas da Cidade (maior até que a do seu padroeiro, São Sebastião) é, sem dúvida, a mistura das religiões e as características que aproximam o orixá e o santo – uma vez que ambos são baluartes de bravura e de força para contornar dificuldades.

Para Tata ria Nkisi Otuajô, pai de santo de uma casa de Candomblé, no entanto, mesmo com o sincretismo presente em nossa cultura, e embora São Jorge se assemelhe a Ogum, é necessário respeitar as divindades em seus territórios religiosos. “Por mais que exista uma tolerância na associação existente na tradição, é sabido que o orixá é o orixá e o santo é o santo, pois não existe nenhum rito, nenhuma liturgia que se assemelham ou fazem interseção, quando se trata dos louvores e reverências a ambos”, explica.

O fato é que, independentemente da crença que se cultiva, é essencial respeitar a “imensa legião de Jorge”, que celebra sua fé em um dia no qual as diferenças são diminuídas e os mesmos espaços compartilhados por pessoas de religiões diferentes, cultivando cada um, à sua maneira, a sua divindade e pedindo força e proteção para os dias difíceis. Salve Jorge, Ogunhê!

Feijoada e samba: devoção alia rituais religiosos, manifestações culturais e festas populares | Foto: Carolina Andrade

Livros: a maior viagem

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Sem os incentivos do Estado, Maré conta com iniciativas independentes para garantir o acesso de crianças aos livros

Maré de Notícias #99

Por: Jéssica Pires

O Conjunto de Comunidades da Maré têm 16 favelas e 140 mil habitantes. É o 9º bairro mais populoso, e o maior conjunto de favelas da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com o Censo Maré, pesquisa e publicação da Redes da Maré e Observatório de Favelas. Atualmente, para o atendimento a toda essa população existe apenas uma biblioteca municipal: o Espaço de leitura Jorge Amado, que fica na Rua Ivanildo Alves, s/nº, Complexo da Maré (dentro da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna). As três outras bibliotecas da Maré são iniciativas locais. A Biblioteca Nélida Piñon é iniciativa de um morador da favela Marcílio Dias; o Instituto Vida Real também abre às portas ao público como um espaço para leitura, e a Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto, iniciativa da Redes da Maré. A Biblioteca Lima Barreto atende também o público infantil com a Sala de Leitura Maria Clara Machado.

Na Maré eu só conheço duas bibliotecas. Eu acho pouco, tinha que ter muito mais para todas as crianças poderem aproveitar essa parte da leitura, uma em cada comunidade. E que a gente pudesse trocar conhecimento também. Eu acho injustiça que nem todas as crianças possam ter acesso”, lamenta Ketellem Cristina, estudante frequentadora da Biblioteca Lima Barreto. Para Luciene Vieira, coordenadora da biblioteca, a escassez nos espaços de leitura e bibliotecas na Maré é apenas reflexo da negação de direitos básicos na Maré. “O primeiro contato com os livros com certeza tem influência na vida de um possível leitor ativo. É muito simbólico termos jovens como a Ketellem que mesmo com a disputa da era da tecnologia e das redes sociais com o livro, optam por estar em um ambiente como esse, uma biblioteca comunitária. E ainda reconhecer esse espaço como potência, como uma ferramenta importante. A biblioteca também configura-se como espaço de encontro.”

Desde os doze anos, Ketellem frequenta a Sala de Leitura Maria Clara Machado. A busca por um espaço de leitura foi espontânea pela jovem que acabou de completar 15 anos. Ketellem estuda no Colégio Estadual Cesar Perneta, no Parque União, e a escola não tem biblioteca, como é comum nas escolas na Maré. Além de frequentar a biblioteca, ela também é multiplicadora da importância da atitude: traz suas irmãs mais novas para a biblioteca e sempre que pode pega livros para os pais lerem em casa.

Além de frequentar diariamente a biblioteca, a jovem faz cursos no Instituto Vida Real e diz que pretende mudar de escola para garantir um acesso melhor a educação. Ketellem tem sonhos grandes. “Eu gosto de ler livros infantis, romances e aventura. A Procura do Par Perfeito é o meu atual livro favorito. Ler aumenta meu conhecimento, minha inteligência, é tipo um exercício mental. Se você está bem, você lê; se você não está bem, você não lê”. A leitura ativa, e o convívio na biblioteca já fazem parte da rotina da jovem.

A importância do incentivo à leitura infanto-juvenil

O Ministério da Educação divulgou pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos (na Universidade de Stanford) e na França (na Unidade de Neuroimagiologia Cognitiva do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica, Inserm/Comissão de Energia Atômica e de Energias) que comprovam que a leitura faz bem ao cérebro. “Eu vejo muita diferença na minha leitura, na forma com que eu falo com as pessoas e me expresso. Descubro sempre novas palavras, e descobrindo as palavras vou buscando o significado delas, isso é muito bom. Acabo aprendendo mais com os livros do que na escola. Porque quando você gosta de ler, você quer saber mais e mais. Tenho vontade de ser arquiteta, designer, engenheira e estilista. Sei que vai ser possível isso tudo, porque acredito que um livro pode mudar a vida de uma pessoa”, conta Ketellem.

Para Daniela Name, curadora, crítica de arte e assessora de cultura da Redes da Maré, estamos vivendo tempos sombrios, nos quais a educação está visivelmente ameaçada. Segundo ela, é fundamental termos a literatura presente na escola e livros acessíveis para quem não pode comprar – daí a importância das bibliotecas públicas. “Um livro pode realmente abrir novos mundos. Não apenas no que diz respeito a conhecimento objetivo do mundo, sobretudo pelo que nos oferece de ficção e fantasia. É com a literatura, uma modalidade da arte, que percebemos que podemos imaginar outros mundos, outras formas de viver o espaço, o tempo, nossas relações afetivas. Um livro faz com que você crie afinidade até mesmo com coisas e pessoas que não existem. Isso é revolucionário, pois apresenta novas opções para a vida”, complementa.

Em busca de melhorias concretas para a educação na Maré

A Biblioteca Lima Barreto e a Redes da Maré desenvolvem o projeto “Maré de Ler”, que tem como objetivo fortalecer e ampliar as ações desenvolvidas na biblioteca, garantindo uma programação diferenciada e contínua. Sensibilizar as crianças e familiares para a cultura do livro também é um objetivo do projeto. “A Ketellem é uma adolescente que se enquadra como resultado desse processo. Além de ela fazer a leitura na biblioteca, ela leva os livros pra casa, ou seja, contribuímos para a formação de novos leitores, sejam adultos, famílias ou crianças”, fala Luciene.

Em 2005, a Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto foi criada para atender à demanda de jovens e adultos da Maré garantindo um espaço onde pudessem ler e estudar. Em 2011, foi aberta Sala de Leitura Maria Clara Machado, para o público infantil. Os números comprovam o sucesso da biblioteca que é referência na região: tem uma média anual de doze mil atendimentos a crianças e adultos, entre empréstimos e consultas de um acervo de quatorze mil livros, CDs, DVDs e participação em atividades. A sala dos adultos é ponto de encontro de pessoas se preparando para provas do Ensino Médio e do vestibular. Uma turma concentrada que costuma trocar experiências e ensinamentos. Na sala de leitura infantil as atividades são direcionadas a contação de história, oficinas, material para desenho, pintura, brincadeiras e jogos.

Se beber, se cuide

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Providências simples, mas eficientes, ajudam a reduzir os efeitos indesejáveis do álcool

Maré de Notícias #99

Por: Camille Ramos

Sabe quando aquele amigo pede uma garrafa de água depois de uma cerveja no bar? Sabendo, ou não, ele está utilizando um recurso de redução de danos –  uma das estratégias de saúde pública para ajudar pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas a diminuírem os prejuízos e problemas associados ao consumo.  Discutir cuidados que devemos ter com o consumo de álcool é de extrema importância num País onde a regulamentação da bebida é falha de muitas formas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os países que mais consomem bebidas alcoólicas na América Latina. A idade de iniciação no consumo do álcool começa cada vez mais cedo e a quantidade e diversidade de bebidas cada vez maior.

O grande objetivo da redução de danos é fazer com que as pessoas tenham noção dos riscos diretos e indiretos que o consumo das drogas lícitas e ilícitas provocam e que, assim, adotem medidas menos arriscadas enquanto estiverem fazendo uso.  A prática é pautada nos Direitos Humanos e busca auxiliar os usuários e dependentes químicos de acordo com seus direitos básicos e suas necessidades.

 A redução de danos não prevê, necessariamente, abstinência, mas trabalha o caminho para quem quer e pode eliminar de uma vez, e faz uma mediação entre aqueles que desejam diminuir os prejuízos causados. Para isso, o jeito é esclarecer de que forma as pessoas podem consumir substâncias, diminuindo o risco que podem causar à saúde e às pessoas. Com isso, foi criado o programa de redução de danos, que surgiu no final da década de 1980 devido à epidemia de HIV causada, entre outros motivos, pelo compartilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis. No Brasil, a primeira ação de danos aconteceu em Santos, em 1989, quando foram distribuídas seringas descartáveis para usuários de cocaína injetável, buscando impedir a disseminação do vírus.

No caso das bebidas alcóolicas, a importância de se falar sobre redução de danos é equivalente à generalização de seu uso, uma vez que se trata de uma substância lícita, com o uso muito difundido e incentivado em nossa cultura.

No entanto, muitos são os problemas relacionados ao abuso de álcool, cujas consequências causam grande impacto sobre as pessoas e suas famílias. Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas ocupa o terceiro lugar entre os principais fatores de risco de doenças no mundo. Segundo documento divulgado pela OMS, estima-se que o uso nocivo do álcool cause 2,5 milhões de mortes todos os anos – uma proporção considerável corresponde aos jovens. A mesma pesquisa demonstra que a idade inicial do contato com o álcool vem diminuindo cada vez mais, o que aumenta os prejuízos psicológicos que essa prática pode trazer.

Bebida e adolescência

A adolescência, compreendida entre 12 e 18 anos, é geralmente a fase onde começa o contato com o álcool. João Silva (nome fictício), com 45 anos, não bebe há mais de 25. Ele conta que seu primeiro contato com o álcool foi durante o Ensino Médio, na escola, por volta dos 16 anos. A partir dali a frequência com que bebia foi aumentando consideravelmente com o passar dos anos. “A gente bebia depois das aulas. Quando acabou o colégio, continuamos a nos encontrando para beber. Comecei a beber todo dia. Uma senhora que conhecia a mim e ao meu grupo começou a observar que nossa frequência de bebida poderia ser prejudicial e nos convidou para fazer parte de um grupo de Alcoólicos Anônimos jovens. Eu tive muita vergonha e comecei a perceber que a bebida não me fazia bem, não era saudável para mim”, conta.

Segundo pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes já beberam alguma vez na vida, e 33% dos alunos do Ensino Médio consumiram álcool excessivamente no mês anterior à pesquisa. Outro estudo, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com universitários, mostrou que 22% dos jovens estão sob o risco de desenvolver a dependência de álcool.

De acordo com Andrea Gallassi, professora e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da UNB, quando mais precipitado o envolvimento do jovem com as drogas, mais prejuízos ele pode ter em seu desenvolvimento. “A experimentação das drogas começa pelo álcool, na adolescência. Mas o adolescente não deve fazer uso de nenhuma droga, inclusive o álcool, por uma simples razão: o sistema nervoso central do adolescente ainda está em formação. Se ele tem contato com uma substância que é psicoativa, nesse momento, isso prejudica o seu desenvolvimento”, diz, acrescentando: “Quanto mais tarde [o jovem] iniciar o uso de álcool, menos chances terá de desenvolver problemas com a bebida, como por exemplo, a dependência. Também menos chances de desenvolver problemas de comportamento, como a depressão”.

                Infelizmente, culturalmente, o contato com o álcool é incentivado. Seu uso, mesmo por adolescentes, é aceito e diretamente associado à diversão e seus usuários considerados descolados. Além disso, as legislações que proíbem o consumo para menores de idade são burladas e sua fiscalização é ineficiente. Em países como os Estados Unidos e o Canadá, por exemplo, é ilegal beber em praias, ruas e parques e para transportá-las é necessário que estejam dentro de sacos ou embalagens que não mostrem seu conteúdo. Outra diferença é que, no Brasil, se pode adquirir bebidas alcoólicas em qualquer lugar. No Canadá, as bebidas são encontradas em lojas específicas e licenciadas.

            Por fim, pouco (ou quase nada) é divulgado sobre os malefícios do álcool para o desenvolvimento de adolescentes nas mídias televisivas que são, hoje, um dos principais meios de divulgação das propagandas de cerveja.

Dependência pode surgir em qualquer idade

Apesar de ser um problema crescente entre os jovens, a dependência do álcool pode acontecer com qualquer pessoa e em qualquer idade. O problema é agravado, porque reconhecer que se está em uma situação de vulnerabilidade ou risco não é uma tarefa simples. De acordo com especialistas, o usuário de bebidas alcóolicas deve sempre estar atento ao ambiente em que se encontra, assim como a seu estado emocional e físico, além de buscar informações sobre o que está consumindo.  É importante, ainda, procurar ajuda para amenizar os riscos com o consumo de álcool e outras drogas, tão logo observe-se em uma situação de exagero ou dependência.

Espaço Normal: uma ajuda a mais

Na Maré, os familiares e dependentes de álcool e outras drogas têm uma ajuda a mais. Trata-se do Espaço Normal, que funciona como um ambiente que se propõe a desconstruir os estigmas e preconceitos que, geralmente, atingem pessoas que usam drogas. Além de promover atividades conjuntas com as diferentes instituições de saúde e de assistência no território, o espaço trabalha em uma dinâmica de rede: realiza encaminhamentos de pessoas para esses serviços e também recebe pessoas encaminhadas pelas instituições, sempre prezando pelo cuidado e respeitando a individualidade de cada caso. “A redução de danos trabalha a partir do respeito ao sujeito, do que ele pode e quer fazer naquele momento, construindo estratégias de cuidado, acolhimento e alternativas”, afirma Luna Arouca, coordenadora do Espaço Normal.

Espaços de Referência para cuidados com o álcool na Maré

• Espaço Normal – Rua das Rosas 54 – Nova Holanda

• Igreja dos Navegantes – Rua Luiz Ferreira, 217

• Igreja Jesus de Nazaré – Rua Evanildo Alves – Baixa do Sapateiro, 83

• AA: Nova Holanda – Rua Teixeira Ribeiro, 637 2º andar

• AA: Vila do João – Rua Quatorze, 234

• AA: Bonsucesso – Av. Roma, 310, sala 101

Passarelas: problemas persistem

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Após meio ano, pouco ou nada mudou nas passarelas que atendem à Maré

Maré de Notícias #99

Por: Hélio Euclides

Já se passaram seis meses desde que a Edição 92 do Maré de Notícias abordou o tema. E hoje? Como estão as passarelas, essas importantes ferramentas de mobilidade? Infelizmente, pouca coisa mudou e os moradores continuam tendo seu direito de deslocar-se livremente, em parte, cerceado, uma vez que atravessar a passarela, única opção para os transeuntes irem de um lado para o outro da Avenida Brasil, oferece riscos potenciais e reais à integridade física.

Para se ter uma ideia, são cinco passarelas na Avenida Brasil, as do Conjunto Esperança, Posto Saci (8), Rubens Vaz (10), Borgauto (11) e Praia de Ramos (12) no trecho que contempla a Maré, feitas de tubos de ferros e madeiras. As estruturas foram criadas para serem provisórias, mas o problema é que se tornaram permanentes. Para que o temporário se tornasse definitivo, a Prefeitura cobriu com cimento os pisos de madeira e borrachas. Simples assim. Os moradores que, ao que tudo indica, possuem mais discernimento que as autoridades, ficaram receosos – e com razão – com o aumento no peso da estrutura. Outras passarelas, originalmente projetadas para serem permanentes, também necessitam de reparos urgentes. Buracos no piso e arames soltos são os problemas mais comuns.

Insegurança diária

Quem precisa atravessar a Avenida Brasil, diariamente, não vê a hora da reconstrução das passarelas. É o caso de Priscila Lins, moradora de Roquete Pinto. “É preciso oferecer um serviço seguro para o pedestre, algo que não sentimos ao trafegar pela passarela”, revela.

No mês de março, foi inaugurada a passarela 6 que servirá de acesso ao BRT da Vila do João/Fiocruz . Próxima a ela, encontra-se a passarela do Conjunto Esperança, em pior estado. Além de uma escadaria que, em alguns pontos o corrimão está remendada com tábuas e arames. “É preciso melhorar a segurança. Ando com dificuldades nela”, conta Auxiliadora Ferreira, moradora do Conjunto Esperança.

Na Passarela 8, até derrubaram a estrutura metálica, mas refizeram outra igual para substituí-la. De acordo com Heitor Pereira, administrador regional da 30ª Região Administrativa, a aparente incoerência teve motivo. “A Passarela 8 estava com problema e foi colocada uma provisória no local. Com a construção das estações, todas as passarelas metálicas serão removidas para a colocação das permanentes”, explica.

Outro problema levantado pelos moradores é o furto de peças nas estruturas provisórias, o que precariza, ainda mais, as condições das passarelas e as deixam mais perigosas para o morador.

As passarelas de cimento se deterioram

Chegar à Clínica da Família Diniz Batista dos Santos, próxima ao BRT Transcarioca Maré,

na Avenida Brigadeiro Trompowski, em frente ao Parque União, não é fácil. O paciente precisa descer 35 degraus para se consultar. “Tinha de ter uma rampa para descer cadeirantes e pessoas de idade. Quando tive chikungunya fiquei sem condição de ir ao médico, por causa da escadaria”, conta Nelita Pereira, moradora do Parque União.

 Questionada pelo Maré de Notícias, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação informou que estão sendo realizadas ações de reparo nas passarelas, ao longo da Avenida Brasil e que a primeira a se beneficiar será a 12. De acordo com a Secretaria, as reformas estão sendo feitas de forma constante e as passarelas provisórias são seguras e não apresentam risco de queda, apesar da grande depredação sofrida. Sobre o piso de cimento, a Secretaria declarou que não há risco e que foi feito um estudo para amparar tal ação.  Espera-se que tais informações sejam verdadeiras e embasadas por especialistas, e que as promessas de melhorias virem compromissos, a serem cumpridos urgentemente.

Reclamações e dúvidas sobre as passarelas:

http://www.1746.rio/portal/servicos

Telefone: 1746

O povo fala:

 “Acredito que as passarelas tinham de ter manutenção constante, pelo menos de seis em seis meses”. André Luiz, morador do Parque União.

Piscinão pede socorro

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Inaugurado com a promessa de ser um polo de lazer, Piscinão chega aos 18 anos necessitando de reformas e manutenção

Maré de Notícias #99

Por: Hélio Euclides

“Cada mergulho é um flash!” Esse bordão da personagem Odete, interpretada por Mara Manzan na novela O Clone, deixou ainda mais conhecido o Piscinão de Ramos. Corria o ano de 2001 e ambos, a novela e o Piscinão, faziam o maior sucesso. No entanto, passados 18 anos de sua inauguração, muita coisa mudou – e infelizmente para pior – no nosso Piscinão. Atualmente, o lago artificial não está mais na mídia e, com isso, o investimento minguou. Um exemplo é a antiga lona cultural, chamada de Circo Voador, na qual primeiro vieram os rasgos na cobertura, depois a deterioração da estrutura e, por fim, a retirada de toda armação metálica pela Prefeitura. O local virou um estacionamento e até a sede administrativa foi ao chão.

Além do lago artificial, a área do Piscinão é composta por quadras de esporte, campo sintético, áreas de lazer com churrasqueiras e mesas para jogos, praça com brinquedos e banheiros – uma estrutura e tanto. O problema é que tudo isso carece – e muito – de reparos e manutenção. É isso o que afirma Amaury Junior, vice-presidente da Associação de Moradores de Roquete Pinto e Praia de Ramos. “Começaram a reforma dos banheiros e não terminaram. É preciso podar as árvores do entorno, reformar os campos, retomara lona cultural e retirara carcaça de barco da praia”.

Problemas

O local, que recebe banhistas de muitos lugares, em especial da Baixada Fluminense e periferia da cidade do Rio, enfrenta muitos problemas. Entre eles, a falta de banheiros adequados aos usuários. Com cinco pontos existentes desde a sua inauguração, atualmente os banheiros perecem com a ausência de chuveiros, telhas, água e luz.

Outro problema é a qualidade da água da piscina.O Maré de Notícias, Edição 85, de fevereiro de 2018, revelou que não ocorria a limpeza há um ano, o que aconteceu apenas antes desse verão. Um morador, que preferiu não se identificar, disse que o período de limpeza só durou 20 dias, diferentemente de outros anos, em que ficava interditado por três meses. Segundo ele, o tempo foi muito curto para a manutenção do lençol freático, remoção de areia do fundo, retirada de impurezas e colocação de caminhões de areia limpa.

Os problemas vão além. Ao andar pela orla, é possível ver lixo na areia e na água, bancos quebrados, arquibancadas deterioradas, fios expostos nos postes de iluminação, campo com ausência de grama sintética e grades estragadas. Bruno Soares, comerciante do Parque União e da Vila do Pinheiro, joga há dez anos no campo sintético. “Houve uma tentativa de reforma e corrigiram algumas coisas. Mas há grades furadas e o remendo no piso sintético não ficou bom”, avalia.

Para o fim do descarte de lixo em local inadequado, a Comlurb instalou papeleiras feitas de pallet na orla e na areia. “A papeleira feita de madeira não agride a natureza, além de aproveitarmos material reciclado”, comenta um funcionário da empresa municipal de limpeza, que não se identificou. A Comlurb informou que os serviços de poda na região acontecem quando são identificados pela associação de moradores e/ou pelo 1746. Alegou ainda que, no último mês de dezembro, foram realizados cerca de 300 manejos nos vegetais e a remoção de árvores invasoras na área do piscinão e no local onde existia o Circo Voador.

Também procurado pelo Maré de Notícias, a Fundação Rio-Águas informou que realiza manutenção periodicamente no lago artificial e que a última foi em dezembro de 2018. Declarou, ainda, que o Piscinão é esvaziado para a realização dos seguintes trabalhos: desinfecção da areia, remoção de microalgas, reparo na manta e manutenção da Estação de Tratamento de Ramos. Destacou que o tratamento é diário e a qualidade da água é constantemente monitorada, que o resultado das análises dos últimos laudos para a balneabilidade do Piscinão de Ramos foi excelente.

Entramos em contato com a Empresa Municipal de Urbanização (Riourbe), sobre a questão dos banheiros; com a Superintendência local, sobre os chuveiros e obras; e com a Secretaria Municipal de Conservação, sobre a reforma dos bancos e fios expostos. Os três órgão não responderam os questionamentos, o que mostra que estão satisfeitas com as condições do local – ao contrário dos frequentadores. Os que frequentam esse espaço merecem respostas sobre as atuais falhas no funcionamento do Piscinão – um lugar que poderia ser um verdadeiro oásis no meio do deserto de lazer e cultura das regiões periféricas do Rio de Janeiro. 

O povo fala:

 “Venho de Irajá e acho maravilhoso esse lugar; o que falta é alguns chuveiros”.  Lúcia Helena.

“Não precisa mudar muito, acho que a única coisa é recuperar os banheiros. Essa reforma ajudaria muito as pessoas que frequentam aqui”. Michele Zacarias, moradora de Bangu.

“É preciso reformar os banheiros existentes e construir outros, pois são poucos. Isso diminuiria o número de pessoas que fazem as suas necessidades nas águas”. Joísse Farias, moradora da Praia de Ramos.

 “A limpeza do Piscinão deve ser feita mais vezes por ano”. Jonathan Vieira, morador da Praia de Ramos.