Cadu Barcellos recebe homenagem na data em que faria 36 anos

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Comunicador e cineasta deixa legado de trabalho em comunidade 

Por Jéssica Pires

Cria não morre, vira lenda. Essa certeza é comum entre aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com Cadu Barcellos e se reuniram na última quinta, no Pontilhão da Maré,  para uma homenagem ao cineasta que completaria 36 anos. Cadu, jovem, negro, cria da Maré foi brutalmente assassinado em 10 de novembo de 2020, no Centro do Rio de Janeiro.

A ação de moção e aplausos a Cadu Barcelos foi uma iniciativa da mandata da deputada estadual Renata Sousa (Psol). Estiveram presentes em uma mesa de abertura da homenagem o amigo e também cineasta Wava Novaes, Maria Leticia Barcelos, irmã de Cadu e a deputada. A emoção e a possibilidade de reunir pessoas potentes com o compromisso de seguir com a história e legado de Cadu foi mencionado pela irmã do cineasta. A energia, sempre positiva, e a disposição de realizar em coletivo foram destaque nas falas e lembranças da mesa de homenagem ao jovem.

Referências da Maré

Em memória de Cadu a mandata também homenageou algumas pessoas que fizeram parte da trajetória do mareense: Willian da Silva (pai de coração do Cadu), Maria Letícia (irmã), Gabi Alves (companheira), Kamila Camillo (fotógrafa e fundadora do Coletivo Crias do Tijolinho), Vitor Santiago (amigo), Willian Oliveira (produtor local), Naldinho Lourenço (comunicador), Gizele Martins (jornalista), Eduardo Chininha e Wava Novaes (diretor, roteirista e professor de cinema).

Cadu fez parte do Projeto Cinemaneiro, foi integrante do Corpo de Dança da Maré, formou-se na Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC), do Observatório de Favelas e na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Filho de Dona Neilde Gomes Barcelos e William da Silva, irmão de Letícia Barcellos, companheiro de Gabi Alves e pai de Bernardo Alves, construiu uma trajetória potente como diretor de cinema e comunicação popular. Na lista dos trabalhos de destaque de Cadu estão o curta-metragem, produzido pelo Observatório de Favelas; o programa “Crônicas da Cidade”, exibido no Canal Futura; o longa “5X Favela – Agora Por Nós Mesmos” – uma releitura do filme “Cinco Vezes Favelas” de 1962 -, dirigido por Cacá Diegues. A obra foi escolhida para a seleção oficial do Festival de Cannes de 2010 e ganhou os prêmios de melhor filme de ficção – pelo júri oficial e popular, melhor atriz e ator coadjuvante, melhor roteiro, melhor trilha sonora e melhor montagem no Festival de Paulínia de 2010; a produção de “5x Pacificação” em 2012; a gravação da vinda do Papa ao Brasil no ano de 2013; a participação da equipe de pesquisa do documentário “Favela Gay”.

A disponibilidade em compartilhar saberes sempre foi marca do cineasta. Foi professor de audiovisual, foi um dos fundadores do “Maré Vive”, coletivo de comunicação da Maré, foi diretor artístico do grupo de pagode “No Lance” e, também, foi coordenador do projeto “Jpeg”, da ONG Promundo, no qual liderava grupo de jovens que promovia ações ligadas à saúde e à equidade de gênero. Antes de sua execução precoce, Cadu estava atuando como assistente de direção no programa “Greg News”, do canal HBO.

Foto: Gabi Lino Neilde Barcelos, mãe de cadu, com a homenagem recebida

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