Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus inicia nova etapa

Data:

Campanha da Redes da Maré começa nova fase com novas frentes de atuação

Andrea Blum e Hélio Euclides

A campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus retomou no sábado, 09 de maio, a entrega porta a porta de cestas de alimentos, kits de higiene pessoal e de limpeza a moradores nas 16 favelas da Maré. Para a segunda etapa, a equipe social da Redes da Maré está reorganizando cadastros e realizando entrevistas por telefone para uma qualificação das informações, garantindo assim a entrega das doações a quem mais precisa, como famílias que perderam renda ou que já estavam sem nenhuma. 

Quando se pensa numa campanha grande que atenda a um território como a Maré, com 140 mil moradores, os números são impactantes. Só no primeiro final de semana da segunda fase da distribuição, nos dias 09 e 10 de maio, foram distribuídas 692 cestas de alimentos, incluindo legumes e verduras, e 692 kits de higiene pessoal e de limpeza. Foram distribuídos ainda, em parceria com a Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz, frascos de álcool em gel para todos os 2.395 domicílios, beneficiando diretamente 6.222 moradores. A distribuição de álcool deve acontecer em todas as favelas que formam a Maré. Ao todo a campanha já distribuiu mais de 320 toneladas de itens, como alimentos e kits de higiene pessoal.

Para essa segunda fase, a entrega de quentinhas foi ampliada para 300 refeições por dia, incluindo 50 pessoas em situação de rua do projeto “Consultório na Rua”, da Secretaria Municipal de Saúde. Dos dias 27 de março a 09 de maio foram entregues 9.700 refeições preparadas pelas mulheres do projeto Maré de Sabores, gerando renda para as cozinheiras durante a pandemia.

A campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus se organiza a partir de quatro ações emergenciais: segurança alimentar, geração de renda, acesso à direitos e produção de informações seguras. Vale ressaltar que em todas as cestas de alimentos e kits de higiene pessoal e limpeza distribuídos estavam panfletos informativos  da iniciativa “Se Liga no Corona!”, um parceria do setor de comunicação da Redes da Maré com a Fiocruz, que tem o objetivo de levar orientações científicas checadas  sobre prevenção e cuidados para a população da favela. 

Lidiane Malanquini, coordenadora do Eixo de Direito a Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, destaca que a segurança alimentar é um direito garantido na Constituição que não é respeitado. “Quando se pensa a quantidade de pessoas na Maré que estão passando fome, é um absurdo e algo muito grave. Essa pandemia vem mostrar o tamanho da desigualdade que a gente vive. O meu sentimento é de indignação com o poder público que deveria estar atuando, tanto na qualificação ao acesso da saúde como na questão da renda, que é facilitando o acesso ao Auxílio emergencial”, expõe. 

Para Lidiane, os governantes deveriam querer mudar a situação de pobreza que se encontra nas favelas e periferias. “O poder público precisava garantir o mínimo de alimentação para a população, mas se encontra inerte. Por isso, a população e organizações da favela precisam se organizar para dar conta de uma demanda imediata, que na verdade diz muito sobre a forma que o Estado lida com esses territórios e seus moradores”, conclui. 

Prevenção somada à arte, cultura e comunicação

Além de alimentos, uma outra ação importante é a produção de máscaras de tecido para serem distribuídas gratuitamente para moradores e moradoras das 16 favelas da Maré. Já foram produzidas 10.222 máscaras por 32 costureiras. A meta nos próximos dois meses é produzir 200 mil máscaras e chegar a 50 costureiras moradoras da Maré. Haverá ainda distribuição para grupos específicos, como pessoas em situação de rua e para a Associação de Mães Especiais da Maré. Também já foram distribuídos para as unidades de saúde da Maré, equipamentos de segurança pessoal, como máscaras e luvas. 

Outra novidade foi a abertura das inscrições para a Chamada Pública: novas formas de fazer arte, cultura e comunicação nas favelas, que escolherá 31 propostas de trabalhos realizados na Maré que tratem de temáticas relacionadas ao coronavírus, confinamento, saúde e prevenção, para bolsa e tutoria. O objetivo é estimular artistas, produtores e comunicadores populares das favelas da Maré para que repensem suas atividades, nesse novo contexto de distanciamento social, e possam garantir uma sustentabilidade mínima para seus projetos artísticos, culturais e comunicacionais. 

Na semana passada foi lançado também o boletim “De olho no Corona!”, com os números referentes aos casos suspeitos e confirmados de coronavírus nas 16 favelas da Maré e a situação de acesso aos equipamentos de saúde do território. Os dados são levantados pela equipe social da Redes da Maré através do atendimento on-line para acolhimento das demandas relacionadas a questões de saúde, violações e dúvidas sobre como acessar direitos. Espera-se que com dados mais próximos da realidade, possam ser criar ações mais qualificadas nas áreas de saúde e direitos sociais.

Critérios para recebimento da cesta

O segundo mês da Campanha “Maré diz Não ao Coronavírus” as cestas de alimentos e kit de higiene pessoal e alimentação estão sendo entregues para moradores que já estavam cadastradas e alguns foram avaliados por uma entrevista por telefone. Além desse grupo, foram atendidas todas as pessoas que fizeram a inscrição pelo canal do Whatsapp e que ainda não receberam sua cesta. Foram mais de 72 mil mensagens recebidas. 

A escolha das famílias para o recebimento das cestas veio a partir de uma articulação dos dados do Censo da Maré e de bancos de dados de algumas organizações que fazem atendimento direto à população da Maré. Na primeira etapa muitas pessoas que se inscreveram usaram o nome de mais de uma pessoa da mesma família, o que levou a duplicidade na entrega. Houve também famílias que estavam mapeadas pelos dois bancos de dados (Censo da Maré e as organizações), o que também fez com que a mesma família recebesse mais de uma cesta. Nesta segunda etapa esse erro foi corrigido pela checagem de endereços e  há também entrevistas sociais por telefone sendo feitas em alguns casos, para confirmação. Vale lembrar que todos os moradores que mandaram a mensagem de texto,  até o dia 11 de abril, pelo canal de WhatsApp com os dados solicitados, ou que já receberam cestas no primeiro mês de entregas serão contatados pela equipe da Redes. Não é  necessário fazer novo cadastro.

E  para aqueles que ainda não receberam é bom frisar que para constar como cadastrado, a pessoa deve  receber por  Whatsapp a mensagem com a confirmação “Seu pré-cadastro foi realizado com sucesso” ou receber ligação. Tão somente o envio dos dados pelo Whatsapp não garante cadastro, é preciso aguardar resposta da equipe. Uma dica importante  é se a pessoa mandar mais de uma mensagem, vai para o fim da fila. Além disso o  telefone de contato para o cadastro não recebe ligações, e  nenhuma pessoa está indo de porta em porta  em nome da instituição  para pedir dados bancários ou de cartão de crédito. Mais informações sobre a campanha em : http://redesdamare.org.br/br/quemsomos/coronavirus

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.