Via Painel Unificador das Favelas, em 10/02/2021 às 9h
O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas vem desde julho publicando dados sobre o alcance da Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, na ausência de dados produzidos e publicados na parte das prefeituras ou do Estado. Sabemos desde o começo que a pandemia afeta as favelas de forma desproporcional, porém as autoridades em nenhum momento realizaram políticas voltadas especificamente para estes territórios.
Hoje, com a chegada da vacina, digamos um ‘basta!’ à política de negligência. As favelas têm que ser priorizadas no Plano de Vacinação contra Covid-19.
Seja pela falta d’água nas casas, acesso fácil aos serviços de saúde, altos índices de servidores essenciais e informais para os quais o isolamento social é inviável, dificuldade de se isolar, alta densidade intergeracional nas moradias, falta de informações adequadas, e inúmeros outros fatores, Além do mais, são as pessoas com mais dificuldade de seguir os protocolos de segurança, gastar com máscaras. É indiscutível que devemos buscar formas de priorizar os moradores destes territórios na política da vacina.
Por todos estes e muitos outros motivos, os coletivos e instituições por trás do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas lançam amanhã, dia 10 de fevereiro de 2021, junto ao Dia Estadual de Mobilização para Enfrentamento da COVID-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, a campanha “Vacina Pra Favela Já!” O objetivo é conclamar as autoridades do Rio de Janeiro a realizar de imediato ações que garantam acesso às vacinas prioritariamente nas favelas.
Vozes do Painel: Porque priorizar a vacinação nas favelas?
“Porque boa parte da população da favela trabalha na linha de frente e usa transporte público (que em sua maioria estão sempre além da capacidade e da possibilidade de distanciamento social). Além disso, a maioria dessa população, ao pegar Covid-19 vai depender totalmente do sistema público de saúde que carece de leitos. Ainda mais, é muito mais desafiador cumprir as medidas de distanciamento social e lavagem das mãos em territórios periféricos, pois a densidade habitacional é maior e a rede de saneamento básico é escassa em boa parte das localidades.” — Amanda Scofano (Doutoranda, PUC-Rio)
“A população favelada e periférica deve ter prioridade na vacinação por alguns fatores. Primeiro porque geralmente estes territórios são mais precarizados em relação ao acesso a água, a questão da moradia—com famílias grandes e moradias pequenas onde todo mundo tem muito contato o tempo todo, o que dificulta a contenção do vírus. Em segundo lugar porque são as pessoas que moram nestes territórios, que trabalham em diversas áreas, inclusive áreas essenciais, embora não listados como tal. No setor de transporte e comércio de modo geral. Então, se nós não formos vacinados, podemos continuar promovendo a circulação do coronavírus. Porque trabalhamos em diversas partes da cidade, apesar de certa segregação, não ficamos contidos na favela. Por mais que moremos neste lugar que já tem uma situação mais precária de proteção, também trabalhamos nestes diversos setores da sociedade, então se não tivermos protegidos, podemos espalhar o vírus por diversas partes da cidade.” — Douglas Heliodoro (Coletivo Conexões Periféricas, Rio das Pedras)
“Sugerimos acrescentar as populações residentes em território de favela [como prioritárias no Plano de Vacinação], pois são os cidadãos que têm mais dificuldades no acesso a serviços de saúde e que convivem em condições muito propícias para disseminação da doença: com domicílios próximos uns dos outros, com poucos cômodos nos domicílios, concentração de pessoas por domicílios, com menos acesso a serviços de saneamento e onde grande parte de seus moradores não possuem vínculo empregatício e, consequentemente o trabalho presencial é a única possibilidade de aquisição de recurso para subsistência de suas famílias.” — Renata Gracie (vice-coordenadora do Laboratório de Informação em Saúde-LIS/ICICT/Fiocruz)
“Sabe-se que justamente essas pessoas, principalmente as que moram na periferia, passam mais tempo em deslocamento pela cidade e, consequentemente, tem uma possibilidade maior de ter contato com o vírus.” — Andressa Cabral Botelho (Maré de Notícias)
“Imagina uma mãe, sem opção de ficar em casa e tendo que sair para trabalhar, tentando convencer a filha—que já perdeu um ano letivo—a ficar parada em casa para diminuir a chance de a vó pegar Covid? Impossível, né? Imagina isso numa favela onde crianças estão acostumadas com a comunidade como extensão do lar? A criança sem escola pra ir, sem opção de ensino remoto, sem espaço dentro de casa para brincar. Enquanto isso, a vó sem acesso a testes ou saúde de qualidade caso adoeça. Imagina o desespero diário desta mãe? Agora, compare essa realidade com outras da nossa sociedade. De famílias com lares separados por gerações, crianças no ensino remoto, pais no trabalho virtual. Não há dúvida que as favelas devam ter prioridade para a vacina, por uma questão tanto pragmática quanto de justiça social.” — Theresa Williamson (Comunidades Catalisadoras, ComCat)
“As favelas deveriam ser as priorizadas porque são as [áreas da cidade] que mais sofrem em todos os sentidos, por conta tanto da pandemia quanto outras doenças, tuberculose, saneamento básico, falta d’água. Tendo em vista que muitas favelas tem a Clínica da Família, o que facilitaria um pouco mais para vacinação, o governo deveria priorizar estas famílias que moram nestes lugares.” — Otávio Alves Barros (Presidente da Cooperativa Vale Encantado, Alto da Boa Vista)
“A vacinação deve ser prioritária nas favelas por serem territórios historicamente invisibilizados. As pessoas que vivem nas favelas precisam buscar diariamente meios para sua sobrevivência… precisaram tomar a decisão de se expor ao vírus ou a falta de alimento. Pessoas que garantiram a continuidade de serviços básicos na cidade, mas ao mesmo tempo estão desprovidos desses serviços no lugar onde moram. A vacinação deve ser prioritária pois desde o início, a contenção do vírus se mostrou um desafio em territórios onde não há saneamento básico, as moradias são extremamente precárias e as famílias precisam dividir cômodos pequenos com várias pessoas. Garantir a vacinação prioritária nas favelas, é garantir o cuidado a quem mais está vulnerável e ao mesmo tempo, conter a propagação do vírus.” — Andressa Good (TETO)
“Não contam com acesso fácil aos serviços de saúde. Quando são, passam pela perversidade de ver as unidades sendo sucateadas ou fechadas, a exemplo da UPA de Manguinhos, fechada no dia 6 de janeiro deste ano.” – Rachel Viana (Pesquisadora de pós-doutorado da Casa de Oswaldo Cruz e professora da Rede Estadual do RJ)
“Na favela as pessoas são as mais prejudicadas, [são as pessoas] que estão na linha de frente [da pandemia].” – Ana Leila Gonçalves (Presidente-Fundadora da Associação Centro Social Fusão/Mesquita RJ)
Como o Governo Pode Priorizar as Favelas?
- Garantindo vacinas prioritariamente em postos e clínicas da família dentro e próximas às favelas, e a devida infraestrutura para armazenamento e distribuição das doses.
- Priorizando servidores essenciais e vulneráveis, como motoristas, entregadores, caixas, faxineiras, cuidadores, trabalhadores de construção e informais.
- Garantindo vacinas prioritariamente aos professores da Rede Pública e seus alunos.
- Realizando polos de vacinação em terminais de trem e ônibus.
Como Apoiar a Campanha “Vacina Pra Favela Já!”?
Participe no dia 10 e além, divulgando a campanha vacinaja.favela.info pelas suas redes sociais usando as hashtags #VacinaPraFavelaJa #FavelaContraPandemia #MobilizaFavela #FavelaResiste.
Sobre o Painel Unificador-Covid-19 nas Favelas
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