Candidatos à prefeitura recebem carta compromisso com propostas para a favela em encontro na Maré

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Encontro na Maré reúne candidatos à prefeitura do Rio 

As eleições municipais estão se aproximando, o pleito eleitoral acontece no dia 06 de outubro e, com o objetivo de colocar as pautas sobre a favela e a Maré no centro das propostas, foi realizado na última terça-feira (24/09), no Centro de Artes da Maré, na Nova Holanda, o diálogo com os candidatos à Prefeitura do Rio. 

No encontro, Cyro Garcia, professor e candidato pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Juliete Pantoja, educadora e candidata pelo partido Unidade Popular (UP) e Tarcísio Motta, professor e deputado federal, candidato pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) defenderam suas propostas para os próximos quatro anos de mandato. Os outros seis candidatos — Eduardo Paes (PSD),Alexandre Ramagem (PL), Carol Sponza (Novo), Henrique Simonard (PCO), Marcelo Queiroz (PP) e Rodrigo Amorim (União Brasil) — foram convidados e, de acordo com suas assessorias, por conflito de agenda, não puderam comparecer. 

Na mediação estava Andrezza Paulo, jornalista do Jornal Maré de Notícias e na plateia, os moradores e alunos do Pré-Vestibular da Redes da Maré, da Nova Holanda, Vila do João e Vila dos Pinheiros,  elaboraram perguntas para os elegíveis. 

O diálogo com os elegíveis foi dividido em quatro rodadas: Pergunta inicial, perguntas sorteadas, dúvidas do público e encerramento.

Candidatos recebem Carta da Educação na Maré

No momento inicial do encontro houve a entrega da Carta da Educação, Análises Educação e Primeira Infância na Maré, com propostas de reivindicações e dados sobre as temáticas no território. A carta da Primeira Infância foi entregue por Vanessa de Sousa, moradora da Praia de Ramos e assinada pelos três candidatos. “Essa carta é uma oportunidade de falar dos direitos e expressar a luta. A vida é difícil, pois o sistema é podre e às vezes nos calamos, temos que exigir nossos direitos”, conta Vanessa, que participou de uma das pré-conferências realizadas nas áreas da Maré.

Andreia Martins, uma das diretoras da Redes da Maré, abriu o encontro destacando a importância do diálogo e o papel da instituição, que acredita que as políticas públicas precisam ser pautadas pela população, reconhecendo o momento como um exercício de cidadania. Dando prosseguimento, Shyrlei Rosendo, analista de incidência da Redes da Maré e cria do Parque União, vê como fundamental os encontros com candidatos. Ela explicou que tudo que há na favela nasceu a partir da participação e mobilização. “Por isso, os favelados têm condições de fazer propostas sobre políticas públicas para o território. Precisamos insistir nessa participação por meio desse tipo de encontro. O território é precarizado e a justificativa é a violência. A Prefeitura não pode se ausentar disso”, diz. Em seguida, fez a pergunta inicial aos candidatos.

 Qual o primeiro ato de vocês pela Maré, caso sejam eleitos?

Cyro falou da necessidade de mudar o sistema de governo: “A proposta é a classe trabalhadora assumir, por meio de conselhos populares. A Maré como outras favelas, não vive o estado democrático de direito, pois a segurança pública criminaliza os negros. Somos contra as operações policiais nas favelas, que ficam sem aulas. Ainda ocorre a demagogia de aula on-line, que não chega a todos os alunos. Queremos a legalização das drogas e a desmilitarização da polícia.” 

Juliete Pantoja falou de transformar a política, com diálogo e escuta. “Dar poder a quem está nos territórios. Vivemos numa cidade partida de orçamento, queremos mudar isso.” 

Já Tarcísio mencionou a desigualdade no tratamento feito com a favela. “Vou convocar a população contra a fome, com cozinhas comunitárias. Outro ponto é o mutirão de educação para que as crianças estejam nas escolas e ajudarmos os professores. Garantir os direitos com mais escolas, conselhos tutelares e pensar no sócio ambiental, pois o clima mudou e as favelas são as que mais sofrem com o calor, enchentes e o racismo ambiental.” 

Perguntas dos estudantes do CPV

Na sequência ocorreu o momento de perguntas sorteadas, Cyro falou sobre a precarização da saúde. “Tem que ampliar e ocorrer a ruptura com as organizações sociais (OSs), criar os conselhos populares na saúde e deixar a saúde com o servidor público. Não se pode entregar o Hospital Federal de Bonsucesso para as OSs.” 

A candidata Juliete respondeu sobre o lixo e a necessidade de saneamento básico. “A Comlurb é desvalorizada e sucateada, assim acabou o projeto Gari Comunitário. Tem que ocorrer concurso público e procurar atingir as favelas, com trabalho da própria população local, proporcionando empregos.” 

O candidato Tarcísio explicou sobre a sua proposta sobre a saúde mental. “Uma reformulação da saúde, onde os equipamentos precisam se espalhar, tendo equipes multidisciplinares nas escolas. Para isso, precisa de concurso público, construção de equipamentos e o trabalho em rede.”

A dinâmica dessa rodada foi com perguntas feitas em coletivo, pelos alunos do Curso Pré-vestibular da Redes da Maré.

Propostas de combate a violências 

Na terceira rodada de perguntas, o candidato Cyro falou sobre o atendimento a mulheres em equipamentos públicos. “A violência de gênero precisa ser combatida. O machismo está na classe dominante, com salários diferentes. Tem que capacitar as pessoas que vão receber as mulheres que estão em situação vulnerável e que seja combatida a impunidade.” 

Em seguida, Juliete respondeu sobre educação e aulas suspensas por operações policiais. “Quando é interrompida a aula em algum lugar da cidade, é preciso parar todas. Não se pode ficar olhando, é preciso uma pressão no governo estadual. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) teve as menores notas em áreas de operações policiais e precisamos reverter isso.” 

Já Tarcísio se dedicou a falar do racismo ambiental. “O desastre não é algo natural, tem que preparar a cidade com urbanização. No Leblon não há lixão, mas nas favelas e periferias ocorrem. A Prefeitura pode propor às universidades a criação de programas onde os alunos de favelas atuem na urbanização, com conhecimento do próprio território e assim também tenham uma renda.” 

Candidatos recebem a carta compromisso

Ao final, foi entregue a Carta Compromisso, organizada pela Redes da Maré com propostas referentes à primeira infância, mulheres, educação, saúde, meio ambiente, arte e cultura, assistência social e a participação popular. Através da criação dos conselhos comunitários. “Foi importante ter os candidatos que ouviram as demandas do território, pensando em políticas públicas como um todo. A Maré é o nono maior bairro da cidade e precisa ser ouvido. Um lugar que passou só esse ano por 38 operações policiais mostra que a segurança pública não funciona. As cartas entregues querem abrir um diálogo”, conclui Andreia Martins. 

Para os candidatos o encontro foi positivo. “Eu acho fundamental esse momento de escuta com moradores de favelas, que não são vistos pelo poder público, que só criminaliza e faz a repressão. Precisamos pensar em políticas pública”, comenta Juliete. “Esse momento de diálogo é uma fonte de aprendizado. Aqui é um dos dez maiores bairros da cidade, mas que sofre com violações e discriminação. É muito importante ouvir as propostas da galera”, expõe Cyro. “É preciso olhar com prioridade para as favelas e ouvir as pessoas para trabalhar melhor as políticas públicas”, finaliza Tarcísio.

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